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Diplomacia Enviesada: Governo afasta a China do agronegócio brasileiro

Diplomacia Enviesada: Governo afasta a China do agronegócio brasileiro

Bolsonaro ajudou a acabar com o Agronegócio; que boa oportunidade…

Por Marconi L. Burum

De todas as trapalhadas do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, atribuo ao fato de sua diplomacia enviesada, aliando-se de tal modo aos interesses dos EUA e afastando-se cada vez mais dos BRICS (bloco geopolítico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e, portanto, levando à China a uma retaliação sem precedentes, fazendo com que seu país passe a comprar os grãos (soja, milho) dos EUA e não mais do Brasil, uma das melhores coisas que esse político já fez em seus 30 anos de vida pública. Por mais paradoxal que possa parecer essa fala, e, embora nosso País esteja perdendo mais de 35 bilhões de dólares/ano[1] com o vacilo de Bolsonaro, eu particularmente, achei bom.

Aos desavisados sobre minha torcida por esse “fracasso” diplomático com consequências graves ao agronegócio brasileiro, instruo, nesse momento minha inquietação como caráter de revisão civilizatória e totalmente comprometida com nosso País.

Senão, vejamos. É fato que o agronegócio é o principal contribuinte para a chamada Balança Comercial brasileira (relação entre o que o País exporta e importa). Nosso PIB aumenta exponencialmente em virtude das grandes lavouras de monocultura em grãos espalhadas pelo território nacional. Todavia, é muito fato também outros dois paradoxos que são cultivados nos latifúndios do agronegócio, quais sejam, a destruição drástica da Natureza, com o desmatamento crônico das florestas para dar espaço a lavouras, e com a absurda contaminação do lençol freático pela quantidade de agrotóxicos jogados nas plantas; e a dimensão da ganância que é antagônica à premissa da alimentação humana. Isto é, o fator de lucro se sobrepõe ao processo de levar alimento a quem precisa realmente (o mundo: parte do continente africano, das favelas e periferias das cidades, passa fome), sendo este excedente produzido, ora concentrado para pequena parcela da população mundial, ora remetida à comida do gado mundo afora, e ora outra, os alimentos são queimados ou estocados em celeiros até apodrecerem para aumentar o preço da saca dos grãos junto às bolsas de valores e o mercado de commodities.

A verdade é que Bolsonaro, sem saber, está “ajudando” o Brasil a se reinventar enquanto matriz econômica, a buscar novos nichos de mercado, a agregar valor em outros paradigmas de desenvolvimento estrutural. Se o agronegócio sofre um grande golpe com essa facada nas costas dada pelo Presidente e sua equipe desastrosa, podemos tentar fazer desse “limão, uma limonada”, quem sabe?!

Isto é, chegou a hora de refletirmos se queremos continuar como um país de terceiro mundo (países que vivem de commodities; exportação de minério, de matéria-prima, de grãos, de produtos primários), ou se desejamos de fato evoluir e desenvolver-nos enquanto civilização.

A pergunta que nos restará fazer é: que tipo de sociedade gostaríamos de nos espelhar? Sim, porque se pensamos em “imitar” os EUA, ou quaisquer destes países do capitalismo ocidental, estaremos saindo do poço para cair no abismo logo ao lado. A estrutura do capitalismo “padrão americano” está colapsada: não serve mais ao mundo esse modelo predatório de coexistência com a Natureza e com os demais povos globais. Dependem integralmente do petróleo para tocar suas indústrias poluentes; subjugam nações para destas retirarem suas riquezas naturais; institucionalizam bolhas e mais bolhas de uma economia rentista e concentradora de riqueza (como paradoxo, produzindo uma pobreza cada vez mais intensa em seu país e nos demais; reiterando a desigualdade social). Produzem guerras e vendem armas. Um círculo vicioso de autodestruição da humanidade.

A China, essa nação comunista que abraçou o modelo de produção capitalista de uma indústria altamente poluidora e de baixíssimos salários pagos à maioria de sua população, portanto, também desigual, não nos será o melhor protótipo de civilização.

Talvez, reitero: apenas talvez, um híbrido entre Japão, país altamente tecnológico, e a Noruega, nação altamente humanista. No Japão, construiu-se uma aliança entre a robótica e a tradição milenar que beira a semântica da bizarrice útil. Ora, como é possível tanto investimento em futurismo (tecnologia de ponta: informática, aeroespacial; nanotecnologia etc.) e tanta solidez em sua identidade cultural arcaica? E, do outro lado, no país escandinavo, fundou-se uma aliança entre a Economia: as altas cobranças de impostos, o petróleo, o empreendedorismo, portanto, a máxima da livre iniciativa e do capitalismo convencional, e a Política, no que se abençoa a qualidade de vida, os serviços públicos eficazes, o bem-estar dos sujeitos, a tutela estatal sobre os cidadãos (o Estado patrocina, desde à infância até o fim da vida, as pessoas).

A bem da verdade é que os países nórdicos (Finlândia, Suécia, Noruega etc.) não conseguiram [ainda] imprimir a sociedade do bem-viver (espelhada na forma dos povos indígenas da América), isto é, uma civilização cujo centralismo seja a harmonia e pactuação integral entre a Natureza, os recursos que esta oferece para o viver, a sociedade, a solidariedade coletiva e dialógica, e a sobriedade introspectiva, portanto, a harmonia do corpo, do espírito, da mente, senão, vejamos, o respeito à individuação (relação de pertença dos sujeitos, suas crenças e desejos; seus sonhos e vivências). Entretanto, estas nações “geladas” conseguiram com a social democracia, “aquecer” a economia distributiva, coisa que o capitalismo estadunidense, reverberado no ocidente, e o socialismo soviético não conseguiram, por conseguinte, a harmonia do Estado com o Humano, institucionalizados por instrumentos próprios do contrato social, no entanto, parceiros éticos para uma civilização protocolarmente responsável.[2]

E o Japão, talvez não tenha se perdido no grotesco das injustiças e dos abismos tão embrutecidos das desigualdades entre as pessoas (seja no arquétipo dos direitos, no trabalho e na renda/riqueza) exatamente porque naquela civilização impera o respeito e a honra do sujeito-Eu e do sujeito-Outro, critérios altamente subjetivos, todavia, rigorosamente éticos. Há menos desigualdade por ali.

Retomando nosso Brasil – como elemento central de um recorte civilizatório –, precisamos deliberar: ou buscamos novos arranjos e conteúdos os quais “devolvam” os 35 bilhões de dólares/ano que nosso Presidente Bolsonaro jogou na lata do lixo em virtude de seu analfabetismo político e geopolítico, ou ficaremos mais pobres, do ponto de vista econômico.

E, ao reiterar minha torcida contra a dependência crônica deste País ao setor do agronegócio, proponho uma reflexão sobre novos aparatos de desenvolvimento em quadripé, isto é, o desenvolvimento sob os paradigmas, Social, Econômico, Ambiental e Tecnológico. E para isso, apresento problemas que podem denotar uma nova matriz econômica:

1) por que, com tanto vento e tanto sol neste território nacional, ainda não acordamos para investir pesadamente em energias, eólica e solar, mas não apenas em pequenas distribuidoras, entretanto, gigantescos parques energéticos?

2) por que, dado que o Brasil é o maior extrator de silício do Planeta, matéria-prima para fabricação de chips de computadores e demais equipamentos eletrônicos, não investimos em novas companhias de Tecnologia da Informação (TI), na indústria aeroespacial, e na exportação de componentes de valor agregado para TI?

3) por que, provado que o ser humano já não suporta mais tanto alimento contaminado com venenos, e que a agricultura familiar responde por milhões de pessoas que deste nicho retiram o seu sustento, sua renda, o governo não subsidia defensivos naturais e programas de financiamento para a produção em larga escala a prover o abastecimento nacional e operar no mercado internacional de alimentos saudáveis?

4) por que, estudadas as várias matrizes de Tecnologias Sociais, instrumentos e arranjos produtivos cuja eficácia e efetividade estão atestadas em pequena e média escala, não se investe, portanto, na larga escala, isto é, a atingir um contingente maior de pessoas? A exemplo: a Economia Solidária e as políticas de microcrédito, capazes de financiar produções familiares ou cooperadas: poderiam atender a milhões de empreendedores locais.

5) por que não se mantem a Floresta Amazônica, o Cerrado e os demais biomas de pé para usar todo esse poder e capilaridade de nossas riquezas naturais a fim da manutenção da vida em todo o Planeta?

É bom lembrar que o Brasil possui a maior biodiversidade e a maior quantidade de água doce da Terra (procure saber mais sobre o Aquífero Guarani e o Aquífero Alter do Chão). Isso é economia, é riqueza sem precedentes. Basta usar de forma estratégica e sustentável tal grandeza capital.

Ainda: segundo o economista Osíris Silva[3], ex-Secretário da Fazenda do Amazonas, somente a Amazônia guarda o montante 2 quatrilhões dólares, sendo o valor mensurado para as reservas de água subterrânea, somando-se ainda cerca de 20 trilhões de dólares para seus minérios e hidrocarbonetos e 379 bilhões de dólares para o sequestro de carbono da atmosfera em suas árvores, responsáveis por manter o clima do Planeta Terra equilibrado.

Para o cientista estadunidense erradicado na Amazônia desde 1974, Philip Martin Fearnside , “vender carbono sequestrado dará mais dinheiro que exportar soja”[4].

Enfim, não vou mais me estender por estas razões tão razoáveis de uma revisão civilizatória. Cabe a cada um de nós, a você, Leitor, e às autoridades nacionais, ampliar este debate e propor um conjunto de intervenções regulatórias e estruturais cujo horizonte seja límpido para novos e revolucionários investimentos econômicos a reequilibrar nossa Balança Comercial e, de retorno (impostos), oferecer serviços públicos e qualidade de vida a nosso povo brasileiro.

Entretanto, como Bolsonaro tem se mostrado um nanico intelectual, moral e político, por certo, não será o líder a parametrizar este conteúdo de tão impactante repercussão e necessidade. Resta-nos torcer sobremaneira para que ele ao menos cale a boca, pare com a demagogia barata e a sua submissão aos EUA, e governe de fato esse País, um gigante completamente embriagado e jogado na sarjeta temporária da geopolítica; da história global.

Talvez assim, recuperemos a parcela do comércio exterior que está fugindo de negociar conosco por termos, data vênia, estúpidos de gravata a nos apresentar (e nossas riquezas) para o mundo.

NOTAS DO AUTOR:

[1] Esses dados são do Ministério da Agricultura. Segundo o órgão, o Brasil exportou no ano de 2018, 35,5 bilhões de dólares para a China. E este é pouco mais que o valor acordado entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, respectivamente, EUA e China.

[2] É relevante considerar que nenhum desses países, embora possuam os melhores sistemas de educação e os melhores IDHs do Planeta, você não os vê entre os badalados países ricos pautando, a exemplo, a economia no Fórum de Davos. Estar entre os países mais ricos do mundo não soluciona o problema “de gente”. Fato: o Brasil é a 8ª economia mais rica da Terra; no entanto, está entre os países com maior desigualdade da galáxia. Veja a nojeira: os 6 (seis) homens mais ricos do Brasil possuem mais dinheiro que 100 milhões de brasileiros (juntos). Que País este?

[3] Clique aqui para ler o artigo completo.

https://www.franciscogomesdasilva.com.br/amazonia-vale-muitos-quatrilhoes-de-dolares/

[4] Clique aqui para ler o artigo completo.

https://super.abril.com.br/ideias/quanto-vale-a-floresta/

 
SOBRE O AUTOR: Marconi Moura de Lima Burum. Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi vereador em Cidade Ocidental-GO, município em que também esteve Secretário de Educação e Cultura. É servidor efetivo da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e atualmente escreve para blogs como o jornal Brasil 247 e a Revista Xapuri Ambiental, onde disputa as narrativas de conteúdo civilizatório. Marconi Moura de Lima –  Fone:  (61) 9383-1306 – E-mail: marconi.politica@gmail.com


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