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A fogueira amazônica

A fogueira amazônica

A fogueira amazônica

 Lúcio Flávio Pinto 

Em nove anos, entre 2004 e 2012, foram desmatados no Amazonas, o maior estado do Brasil (com seus quase 1,6 milhão de quilômetros quadrados seria o 18º maior país do mundo), 6.034 quilômetros quadrados.

De 2013 até ontem, em nove anos, ainda por completar, o desmatamento somou 10.263 km2. O maior desmatamento foi atingido em 2021, de 2.342 km2, ainda faltando pouco mais de um mês para o ano acabar. A taxa de incremento em relação a 2020 foi também recorde: 55%.

No Acre, em 14 anos (de 2013 a 2017), o desmatamento somou 4.583 km2. Nos últimos quatro anos a partir de 2018, o total foi de 10.283 km2, mais do que o dobro. O recorde também foi em 2021; 871 km2. A taxa foi de 23% em relação ao ano anterior.

Esses números mostram que a expansão da predatória fronteira amazônica vai se intensificar para novas unidades, sobretudo o Amazonas e o Acre, os estados com cobertura vegetal predominante, os menos desflorestados da região. O Acre, com área 10 vezes menor do que o vizinho Amazonas, do qual se desmembrou.

Pelo ritmo do desmatamento registrado pelo Inpe nos últimos anos, os novos alvos dificilmente conseguirão se livrar do destino imposto às demais unidades federativas regionais: da expansão da atividade produtiva (e, acima de tudo, especulativa) à custa dos recursos naturais destruídos.

Roraima, o mais setentrional dos estados, também já foi alcançado pelos pioneiros e desbravadores (na verdade, os mais destruidores), mas seu espaço (sete vezes menor do que o do Amazonas), é dividido entre floresta densa e campos abertos.

Em 2019 (primeiro ano do governo Bolsonaro), o Amazonas superou Rondônia entre os estados mais desmatados da Amazônia, ocupando o terceiro lugar (com 1.245 km2), depois do Pará (3.862 km2) e do Mato Grosso (1.685 km2).

O desmatamento em Rondônia foi de 1.245 km2, mas o estado nem pode comemorar: a floresta tipicamente amazônica (a hileia) ocupa espaço menor em seu território. Rigorosamente, na realidade. Rondônia já é mais Centro-Oeste do que Amazônia. Em uma parte considerável da Amazônia, ao longo de uma faixa contínua de terras, que foi inicialmente conhecida como Arco do Desmatamento, em seguida como Arco de Fogo, a vegetação que predomina é a savana. A hileia foi transferida para os manuais de botânica e os tratados de história.

A situação mais cruel parece ser a do Pará, que se tornou o mais poderoso dos estados da região, por sua liderança nacional na produção de minérios para exportação e geração de energia bruta, além de estrutura logística para escoar a produção alheia (especialmente de Mato Grosso) para os mercados internacionais.

O estado, o segundo mais extenso da Amazônia, com 1,2 milhão de km2 (seria o 22º maior país do mundo), é a maior vítima do desmatamento. Só entre 2004 e 2021, o Pará perdeu quase 85 mil km2 das suas florestas, o equivalente a 7% de todo o território estadual.

O primeiro choque mundial provocado por grandes queimadas na região aconteceu no Pará, em 1976, quando o satélite americano Skylab “fotografou” uma queimada de 10 mil hectares praticada pela Volkswagen para formar pastagem para gado na fazenda que possuía no sul do estado.
Desde então, o Pará é o líder dessa lista nefasta, tanto em números absolutos como proporcionais, a partir dos levantamentos oficiais do Inpe.

Dos 186 mil km2 que foram desmatados entre 2004 e 2021, 83 mil km2 aconteceram no Pará. No 2º lugar, Mato Grosso registrou 37 mil km2 e Rondônia, 22 mil. Os três estados mais desflorestados somam 142 mil km2. O total dos outros seis Estados (43 mil km2) é metade da cota paraense.

Mas isto está mudando. Como quase sempre na Amazônia, desde que ela passou a ser o alvo da maior frente de penetração da história brasileira, para pior.

Lúcio Flávio Pinto – Jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Matéria publicada originalmente nas redes sociais do jornalista e em www.amazoniareal.com.br.

https://xapuri.info/cordel-do-sao-joao/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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