Manaus, AM — O desmatamento na Amazônia aumentou 73% em maio deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do monitoramento mantido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados esta semana.

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto indica que 634 quilômetros quadrados de florestas foram derrubados no mês passado, se forem consideradas apenas áreas com mais de 10 hectares. Em maio do ano passado, foram desmatados 365 quilômetros quadrados.

Os dados indicam também crescimento na degradação da floresta, provocada por queimadas ou extração seletiva de árvores, principalmente no leste do Pará. Cento e trinta quilômetros de florestas foram degradados na Amazônia em maio, de acordo com os números.

Outra preocupação trazida pelos dados é o avanço do desmatamento sobre unidades de conservação. “Chama a atenção a distribuição dos alertas no estado do Pará”, destaca o engenheiro ambiental Antônio Victor Fonseca, pesquisador do Imazon.

“Teve uma concentração alta em áreas protegidas. Se você ver o ranking da Amazônia, a APA Triunfo do Xingu está em primeiro, com 82 quilômetros quadrados, em seguida está Jamanxim, com 38 quilômetros quadrados. Em Jamanxim, foram áreas grandes desmatadas”, completa.

De acordo com o pesquisador, ainda não é possível avaliar as causas desse aumento na derrubada de florestas. Ele lembra que as informações são bem recentes e os dados anuais do SAD ainda não foram fechados, já que o ciclo de monitoramento começa em agosto.

Quase metade das florestas perdidas (48%) cobriam áreas no estado do Pará. Mato Grosso (29%) e Amazonas (15%) completam o ranking dos maiores desmatadores no mês passado.

“O corredor do sul do Amazonas também é uma área crítica”, avalia o pesquisador. “O desmatamento está se deslocando, se concentrando nessa região dos quatro estados, que inclui também Rondônia. Há dois ou três anos, isto está acontecendo”.

Fonseca ressalta que esse desmatamento não avançou para o interior do estado do Amazonas graças a um cinturão de áreas protegidas no sul do estado, como o Mosaico do Apuí, um conjunto de unidades de conservação que ocupa áreas nas divisas com Pará e Mato Grosso.

Mas ele alerta que existem iniciativas e pressão para reduzir áreas protegidas em Apuí, sul do estado do Amazonas, que tem contribuído para frear o desmatamento.

Fonte: O Eco

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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