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Hydro: Doentes por causa da água

Hydro: Doentes por causa da água

Matéria sobre a Hydro, no Dagens Naeringsliv — principal jornal norueguês

Por  Agnete Klevstrand – Tradução: Fernando Mathias

Maria Salustiana (69) é uma das vizinhas mais próximas dos depósitos de lama vermelha da Hydro no Brasil. Agora tudo que ela quer é pode se mudar com a família.

– Ele tosse sangue. Agora ele está melhor. Ou pelo menos é isso que ele diz, mas acho que ele fala isso para não me preocupar.

Maria Salustiana (69) olha preocupada para o filho adotivo Thiago Carua Lhorizigés (12). Ela mesmo tem fortes dores de barriga, mas não tem dinheiro para pagar os medicamentos que foram prescritos.

Nas últimas três semanas a água do poço da família se tornou um perigo para a saúde.

A poluição da água para consumo de um número indeterminado de pessoas foi percebida logo após uma forte chuva de mais de 200 milímetros na madrugada do dia 17 de fevereiro, que levou a enchentes e grande destruição.

A contaminação da água potável se tornou um caso quente no Brasil — e uma crise para a Norsk Hydro, que opera a gigante refinaria Alunorte na região.

Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC) concluíram há duas semanas atrás que a contaminação foi causada por vazamento da produção da Hydro na região.

– Isso é extremamente perigoso para tudo que é vivo. O que é pior é que isso impacta comunidades que vivem tradicionalmente da pesca e do que a floresta lhes proporciona de renda. Eles usam a água como fonte de água potável e para recreação, afirmou o pesquisador Marcelo Lima do IEC para o DN quando o relatório — que confirmou entre outras coisas pH alto e altos índices de minerais na água — foi publicado

A Hydro vem negando que o vazamento vem deles.

– Eles dizem que nada aconteceu, mas não acreditamos nisso, diz Salustiana.

 
A matéria também é manchete na versão online do Jornal.

Pocinho proibido

Ela mora no fim de uma estrada de terra junto com sua filha única Marinete Carina Cardoso Bastos (24), o neto Emanuel (1 mês) e o filho adotivo Thiago. Nas quatro casas vizinhas moram seus filhos e filhas com suas respectivas famílias. Na propriedade há um pequeno poço d’água, onde as crianças costumavam brincar. Agora o poço é zona proibida, depois que membros da família sofreram queimaduras na pele depois de ter contato com a água.

A propriedade faz limite com a área da Hydro, de acordo com a família, e fica a um quilômetro de uma das barragem de rejeitos da Hydro.

– Como vocês podem ter certeza que é a Hydro que tem culpa pela contaminação?

– Nós não temos provas. Mas a água ficou ruim no mesmo dia da chuva forte, e moramos a poucas centenas de metros da barragem. Além disso já passamos por essa situação de vazamento antes, diz Salustiana.

Em 2009, a comunidade local sofreu um vazamento altamente tóxico da barragem de rejeitos. À época, a Hydro era acionista minoritária da empresa proprietária da barragem. Desde 2011, eles se tornaram acionistas principais e responsáveis pela refinaria de alumina Alunorte, a maior do mundo no gênero.

O diretor da Hydro Svein Richard Brandtzæg largou tudo e foi para o Brasil para gerenciar a crise pessoalmente, e a primeira coisa que fez foi visitar os vizinhos, grupos indígenas e população local que vivem no entorno da gigante fábrica da Hydro.

– Esta é a situação mais grave que já vivi em meu tempo como diretor da Hydro, disse ele recentemente ao DN esta semana.

Brandtzæg reafirmou as declarações anteriores da Hydro no sentido de que não é a fábrica deles que é o problema.

– As informações que recebi dos médicos é que não é a fábrica que é o problema. Eles informam que a água de beber e o esgoto estão lado a lado, e foram misturados depois da chuva forte. Ademais, há um grande depósito de lixo nas proximidades onde não há qualquer segurança e que é uma ameaça à agua potável, diz ele.

A Hydro substituiu o seu chefe regional, criou uma força tarefa de gerenciamento de crise e contratou a empresa de auditoria ambiental brasileira SGW Services para fazer uma avaliação independente. Os consultores baseados em São Paulo terão seu primeiro relatório pronto no início de abril. A análise da barragem de lama vermelha deve ficar pronta no fim de abril.

Depois da contaminação ocorrida em fevereiro, tudo que Salustiana quer agora é se mudar com sua família, e afirma que a Hydro ou as autoridades devem assumir a responsabilidade:

– Não quero nenhuma fortuna, mas acho que minha família precisa se mudar daqui. O risco para saúde se tornou muito grande. Além disso, não consigo mais vender a casa, diz Salustiana, que acha que a empresa ou as autoridades deveriam pagar pela casa que a família hoje vive para que eles possam se mudar para outro lugar.

Nas últimas semanas, a família vem se sustentando com galões de água entregues por organizações de ajuda humanitária e órgãos ambientais. 40 litros de água são entregues a cada 15 dias, de acordo com a família, o que é muito pouco para manter a casa.

A Hydro também vem apoiando o fornecimento de água, e o diretor Svein Richard Brandtzæg visitou pessoalmente as famílias impactadas pela contaminação, durante sua passagem rápida por Barcarena durante o fim de semana.

– Foi importante para mim ver com meus próprios olhos, disse ele ao DN depois da visita.

Na quarta feira à tarde o diretor já viajava de volta à Noruega, depois do que a Hydro descreveu como “boas reuniões” na capital Brasília.

Fator-Brasil

As ações da Hydro caíram violentamente na Bolsa desde que a empresa anunciou os problemas no Brasil.

Os problemas se propagam

Os problemas da Hydro no Brasil se propagam e a empresa reduz agora a atividade na mina de Paragominas, a 240 km da Alunorte.

A Hydro ainda não conseguiu encontrar uma solução para a crise na Alunorte, a gigante refinaria de alumina brasileira. O diretor Svein Richard Brandtzæg e a Hydro trabalham agora intensamente para descobrir o que é necessário para que a empresa não mais precise operar a refinaria a meia carga, e para reabrir uma importante barragem de lama vermelha.

De acordo com o diretor de informações da Hydro, Øyvind Breivik, os depósitos de alumina da Alunorte estão quase cheios, e a empresa precisa agora freiar toda a cadeia de fornecimento.

– Vinhamos operando a plena carga em Paragominas até agora, mas os depósitos de bauxita da Alunorte estão quase cheios, então decidimos fazer uma parada de manutenção parcial em Paragominas, de forma que a quantidade de bauxita enriquecida também se reduz para 50% por um período adiante, disse Breivik. Ele destaca que a extração de bauxita em si continua normalmente.

A Hydro extrai bauxita da mina de Paragominas, que é beneficiada antes de ser enviada por um mineroduto de 244 km até a Alunorte, para o refino da bauxita para alumina, o ingrediente principal do alumínio.

A Hydro produziu 6,4 milhões de toneladas na planta da Alunorte o ano passado, a um valor de NOK 18,5 bilhões (R$ 7,6 bilhões). A fábrica é a maior do mundo, e exporta a maior parte da produção para fábricas da Hydro em outras partes do mundo.

Analistas de mercado receiam que a Hydro venha a ficar sem alumina, e tenha que comprar no mercado internacional de seus concorrentes. O analista Eivind Sars Veddeng enxerga dois cenários para a Hydro:

– Eles perdem aquilo que eles deveriam vender no mercado. Se a produção é reduzida a 50%, a Hydro perde 3,2 milhões de toneladas de alumina por ano. Grosso modo, pode-se dizer que a Hydro tem uma margem de 100–110 dólares por tonelada. Isso significa que se você produz a 50% durante um ano, você perde cerca de NOK 3 bilhões (R$ 1,2 bilhão), diz Veddeng.

Ele duvida no entanto que a Hydro venha a ter a mesma margem com a produção reduzida pela metade, ou seja, as perdas devem ser ainda maiores.

Se por um lado a Hydro tem, com a Alunorte a plena carga, alumina em excesso, com a produção reduzida a 50% falta alumina à empresa. Isso faz com que a empresa venha a perder mais quando o preço subir — o que provavelmente vai acontecer por causa dos problemas da Alunorte e de um mercado global já apertado. Ele estima uma perda de mais meio bilhão de NOK (R$ 206 milhões) se o preço da alumina vier a subir 10%.

O analisa Truls Engene do SEB estima para a Hydro uma perda de NOK 400 milhões (R$ 154 milhões) em março. Se o problema persistir, isso custará à Hydro NOK 300–400 milhões por mês (R$ 124–154 milhões) em resultados perdidos.

Engene acredita, no entanto, que a crise não deve durar muito tempo.

– Não devemos subestimar o fator político na situação atual. Mas não se pode esquecer que a Alunorte é uma importante fonte de empregos na região do Pará, então não é do interesse dos políticos que a Hydro corte sua produção por muito tempo e venha a chegar a uma situação em que sejam obrigados a cortar pessoal, diz ele.

ANOTE AÍ:

Fonte: https://medium.com/@Comitemineracao/mat%C3%A9ria-sobre-a-hydro-no-dagens-naeringsliv-principal-jornal-noruegu%C3%AAs-2ce1879f0666

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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