A Lenda do Carnaval dos Infernos
A Amazônia é uma região rica em mitos e lendas. Incrustadas no meio da floresta existem várias cidades que se misturam em meio ao mosaico verde, onde as pessoas convivem diretamente com a natureza e com ela aprendem a viver em meio a acontecimentos fantásticos. Para muitos isso não passa de estórias, para mim se trata de um patrimônio cultural.
Por Bruno El Anjo
Conta-se que já se passaram alguns anos, na verdade já se vão algumas décadas desde o suposto acontecimento, dado em uma cidade de tradição religiosa muito forte, pois sua origem é a de um aldeamento catequético. Como toda cidade da Amazônia, ela se vê prisioneira das distâncias, e por isso ela mantém muitos costumes que permeiam a vida de todos, como a tradição de toda família ir à igreja…
Tudo ocorria na sua tediosa rotina, quando chegou a festa pagã mais famosa do Brasil, o Carnaval. Nesta oportunidade o pároco da cidade, que era linha dura e queria moralizar a cidade novamente, que passava por muitas mudanças, principalmente problemas relacionados ao álcool, e naquela ocasião foi implacável com os fiéis para que comparecessem às s missas que ele ia celebrar nos dias de carnaval.
A população se viu em uma situação complicada, parecia que sua tradição religiosa iria prevalecer, contudo para a surpresa do pároco, o povo simplesmente desapareceu das celebrações.
Apenas alguns poucos apareceram e isso causou a ira do padre, que não se controlou e rogou uma praga, “esse pessoal burro, preferiu o diabo a Deus, então eles que comemorem com o diabo”. As pessoas que ouviram ficaram assustadas, mas passado à situação eles se recolheram as suas casas.
A festa ocorria no estilo de rua, muita bebida e outras delicias terrenas, o foco principal da festa acontecia na praça da matriz, que fica em frente à igreja, a festa já ia madrugada a dentro.
Quando era por volta das 03h00min da manhã o inusitado, senão aterrador, aconteceu. Não apenas uma pessoa, mas sim dezenas de pessoas viram nada mais, nada menos que o Capeta dançando e soltando fogo pelas ventas em meio a fuzarca!
O pânico tomou conta da multidão e o tumulto estava formado, a festa acabara de uma maneira sinistra, nas outras noites a festa continuou, mas com muito menos pessoas a maioria foi para a igreja.
Essa estória correu como o vento e ficou famosa, mas com o tempo caiu no esquecimento, agora eu lhes relato, não lhes afirmo que essa estória realmente aconteceu, mas sei que aqui na Amazônia acontecem coisas que desafiam a realidade…
Lenda enviada por Bruno El anjo
com edições de Zezé Weiss
para o blog www.assombrados.com.br
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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