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Antônio Macêdo: “A floresta é nossa mãe e nossa vida. Não queimem nossa casa, meus irmãos!”

Antônio Macêdo: “A floresta é nossa mãe e nossa vida. Não queimem nossa casa, meus irmãos!”

Boa noite a todos e todas, meus Txai,

Neste exato momento estou na cidade de Tarauacá, minha terra natal. Nesta viagem que estou realizando para me juntar ao meu casal de filhos, Maná e Lara Flor, até aqui já percorri 400 km da BR 364. Ainda tenho pela frente mais 300 km. Nos 400 km já percorridos vi muito fogo e muita fumaça. Achei isso muito horrível e ao mesmo tempo muito sério.

Sério ao ponto de me sentir obrigado a, através desta rede social me dirigir aos meus conterrâneos acreanos pedindo a todos que não sigam os maus exemplos deixados pela cruel, desumano e irresponsável discurso do atual governo do nosso estado do Acre, especialmente quando ele autoriza as queimadas dizendo que ninguém pague multa por derrubar e queimar a floresta. Não façam isso meus irmãos. A floresta é nossa mãe e nossa vida. Nós precisamos por a nossa casa em ordem ou não haverá progresso.

Quero aqui agradecer a todos e todos são todos que de uma forma ou de outra contribuíram comigo nesta viagem delicada. Estrada longa, carro carregado e muitos buracos na estrada. Quero agradecer aos amigos e amigas que tanto tem me acompanhado nesta missão, quanto tem me ajudado financeiramente com a gasolina e o concerto do meu carro que terminou quebrando ainda a 50 km de Sena Madureira.

Agradecer ao dono da Oficina , os mecânicos, as mocinhas do atendimento e em especial o rapaz do guincho que sem medir esforços foi comigo buscar meu carro na estrada para que pudesse ser consertado. Muito obrigado a todos e todas e apesar do cansaço da estrada. O que eu queria mesmo hoje, mesmo de luto pelo falecimento da minha Rena que agora já mora com Deus era um violão afinado para que eu pudesse cantar aqui para meu povo a música Tarauacá.

Carinhos do

Txai Antônio Macêdo (Sertanista pela FUNAI, acreano, indigenista. Passou a vida na luta junto aos povos indígenas no AC). Foto: Acervo Antônio Macêdo. 

Fonte: Facebook


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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