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 Projeto Saúde e Alegria: 30 anos no coração da floresta!

 Projeto Saúde e Alegria: 30 anos no coração da floresta!

Não é de hoje que o Projeto Saúde e Alegria (PSA) vem mudando a qualidade de vida nas comunidades indígenas, extrativistas e ribeirinhas dos rincões mais distantes da floresta amazônica.

Barco vai, barco vem, já faz 30 anos que um médico-doutor recém-formado no sul do país, de nome Eugenio Scannavino, deu de se embrenhar pela floresta com o sonho de ser mais do que um doutor dos pobres. Eugênio se propunha (e conseguiu) organizar, promover e apoiar processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável no coração da Amazônia.Projeto Saúde e Alegria:

Do sonho, que com o tempo foi-se tornando cada vez mais coletivo, surgiu, no ano da graça de 1987, o PSA, junto a 16 comunidades-piloto da zona rural de Santarém, no estado do Pará. O sucesso foi tanto que, a partir de 2000, o Saúde e Alegria foi expandindo gradualmente sua cobertura para além da região de Santarém.

Ao completar seus 30 anos de existência, o PSA atua, hoje, em mais três municípios do oeste paraense:   Belterra, Aveiro e Juriti. O público também cresceu: Neste início de 2017, o PSA atende cerca de 30 mil pessoas, em sua imensa maioria pessoas das comunidades tradicionais da floresta.

A razão do sucesso, um dia pensado impossível, de fazer da ação militante modelo de política pública para os povos da floresta? “Trabalhar com o coração”, diz Caetano, a outra metade da dupla dos irmãos Scannavino. “Vamos somando esforços para inserir nossas populações nas políticas públicas e vamos, junto com elas, adaptando nossas tecnologias para que sejam instrumentos replicáveis de saúde, alegria e cidadania, sempre com muito compromisso e muito amor no coração”, completa Caetano Scannavino.

Os meios para chegar tão longe?  Bote na conta o engajamento de uma equipe técnica interdisciplinar, que visita regularmente as comunidades para implementar programas voltad
os para o ordenamento territorial, fundiário e ambiental; organização social, cidadania e direitos humanos; produção familiar e geração de renda; saúde e saneamento; educação, cultura, comunicação e inclusão digital, sempre com o sabor de uma feliz e compromissada alegria.

Não tem projeto do PSA que não traga em seu bojo a arte, o lúdico e a comunicação como seus principais instrumentos de educação e mobiliza
ção. E é assim, usando métodos abertos de construção multilateral do saber, adaptados ao universo cultural local, que o Saúde e Alegria consegue envolver todos os segmentos e faixas etárias, qualificando-os como multiplicadores – lideranças, produtores rurais, empreendedores locais, professores, agentes de saúde, grupos de mulheres, jovens e crianças.

O GRAN CIRCO MOCORONGO

Projeto Saúde e Alegria:

Um dos principais instrumentos do PSA é seu Gran Circo Mocorongo. É por meio dele que ribeirinhos e ribeirinhas vão apresentando músicas, poesias, esquetes educativos, peças culturais, ao mesmo tempo em que vão aprendendo técnicas de comunicação próprias do circo, para tratar dos assuntos cotidianos da vida na floresta.

É assim que vão surgindo os diagnósticos participativos que facilitam o planejamento conjunto e o acompanhamento das ações comunitárias, que se tornam sujeitos do seu próprio projeto de gestão e desenvolvimento.

Nos últimos anos, o ganho de escala, as soluções encontradas, os bons resultados, o amplo quadro de alianças, a mobilização, credibilidade e visibilidade obtidas consolidou o papel do PSA na região como instituição fomentadora de programas de desenvolvimento sustentável.

Em decorrência disso, o PSA vem sendo demandado de forma crescente para assessorar instituições públicas, privadas, ONGs e movimentos sociais na disseminação de sua experiência, o que oportuniza e cria condições favoráveis para uma nova etapa de trabalho que amplie sua capacidade de transformação social em todos os aspectos.

ENCANTOU-SE O MAGNÓLIO, O PALHAÇO DA FLORESTA

O ano de 2017 começa com uma nota em descompasso para a família do Saúde e Alegria. Em dezembro, encantou-se o Magnólio, o grande educador ambiental, o grande mobilizador social, o magnífico palhaço da floresta, aquele que, nos dizeres da equipe do PSA, “está entre aqueles em que nos espelhamos porque foi um ser de pura energia, vida, MAGia, dentro e fora da Terra, guerreiro da Saúde, alegria do corpo; e da Alegria, saúde da alma”.

Para a turma do PSA, Magnólio foi chamado por uma outra região do universo que estava precisando dele, em busca de evolução, mas “Mag vive, aqui, lá, em todos os lugares”.  E é também por ele, por esse cara incrível que partiu tão cedo (aos 67), que o show deve continuar. “Sim, seguiremos às suas ordens, o show deve continuar! Seguiremos com o Gran Circo Mocorongo! E o maior dos MocorOscars vai para o Magão!”.

O projeto segue adiante honrando a memória de um dos seus: “Querido amigo, mestre e irmão Mag, tá duro este momento, mas sabemos que agora você está com todos os Pajés, Lamas e Espíritos nobres, fazendo todo mundo rir por aí, como sempre fez com todos nós aqui na terra… Obrigado por ter existido em nossas vidas e vivido todos os dias tão pertinho de nós… nem sei o que dizer, só que esta tua viagem, para nós que ficamos, dói muito, muito…”.

“Por aqui, haveremos de seguir sonhando, de seguir lutando! Beijão, meu querido!”, despede-se Eugênio Scannavino Netto, o médico-doutor-sonhador que com seu grupo de mocorongos ousou fazer na Amazônia esse outro mundo que acreditamos ser possível.

Fotos: Acervo Projeto Saúde & Alegria e Gilvan Capistrano

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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