Rio Curuperé: Antes e depois da poluição pela Minerva Foods, no Pará
Abaetetuba (PA) – “Tristeza, angústia e raiva”, resume, em certo momento, uma das moradoras da comunidade margeada pelo rio Curuperé, ao descrever o sentimento de perda do manancial que está poluído por dejetos e pesticidas, provenientes do confinamento de gado para exportação, na fazenda da multinacional alimentícia Minerva Foods.
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Braulio Calvoso
28/08/2019 12:41
Trazer à tona os acontecimentos que dão originalidade à alteridade entre o europeu e o índio no século XVI, elevando o nível da discussão sobre as implicações desse choque cultural, fabrica uma memória, que contribui para a resolução de conflitos atuais, pois essas sociedades indígenas apesar de não existirem mais, deixaram um lastro de comunidades que vivem em uma lógica de sobrevivência e de reprodução cultural que ainda não foi entendida pela sociedade como um todo, pois os consideram um entrave ao desenvolvimento, uma vez que não querem se “adequar” à lógica capitalista, pois sequer veem nela sentido, desde o diálogo com Jean de Léry, em 1555.
Se não há entendimento sobre o modo de vida desses povos originais do Brasil em sua essência, tampouco serão aceitos na atualidade, uma vez que são jogados de um lado a outro, pressionados por garimpeiros, atendidos de forma interesseira por entidades estrangeiras, submetidos a julgamento pelas suas tradições e tendo de se adaptar aos ditames dos missionários, sendo pressionados para que aluguem as suas terras, que são patrimônio ambiental e assim perdendo eles mesmos a noção de quem são, pois nem podem viver com seus costumes e nem são inseridos na sociedade, uma vez que são ou coagidos em suas terras ou marginalizados nas cidades.
Arendt propõe um esquema prático para definir o que os gregos consideravam como o supremo desenvolvimento social, ou a mais alta forma de vida humana, que deveria ser despendida em uma polis (cidade) ou agrupamento de pessoas em torno de uma super infraestrutura e em que a suprema capacidade humana era a fala, segundo o que seria o entendimento de Aristóteles.
Com relação ao esquema proposto acima, podemos arguir em favor da observação de que existe uma suprema capacidade humana desenvolvida nas sociedades indígenas, através da fala, que aliás torna-se elemento de descrição objetiva (pinçada) nos relatos dos cronistas do século XVI, elevando a condição dos aborígenes brasileiros como um povo dotado de desenvolvimento dessa suprema capacidade humana, com requinte e refinamento claramente observado nos seus protocolos sociais e em outras ocasiões, como quando Jean de Léry é questionado por um chefe indígena sobre a motivação para ficar rico com a madeira levada do Brasil, se a riqueza não iria ser aproveitada por quem acumulou algum montante de bens, mas que seria apenas objeto de disputa entre os herdeiros.
Chama a atenção o fato de como um índio poderia argumentar sobre a inutilidade de acumular bens para que outros usem, se eles mesmos não acumulavam nada e a experiência de enriquecer não era parte da cultura indígena, sendo uma novidade para a qual se mostraram prontamente preparados para avaliar em seus efeitos.
Braulio Antonio Calvoso Silva é aluno do Mestrado em História pela Universidade de Brasilia.
Bibliografia:
Arendt, Hannah, Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1988;
LÉRY, JEAN DE. VIAGEM À TERRA DO BRASIL
Tradução integral e notas de SÉRGIO MILLIET segundo a edição de
PAUL GAFFÁREL com o Colóquio na língua brasílica e notas tupinológicas de
PLÍNIO AYROSA, BIBLIOTECA DO EXÉRCITO — EDITORA, 1961.
Gandavo, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil : história da província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil / Pero de Magalhães Gandavo -Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008;
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Trazer à tona os acontecimentos que dão originalidade à alteridade entre o europeu e o índio no século XVI, elevando o nível da discussão sobre as implicações desse choque cultural, fabrica uma memória, que contribui para a resolução de conflitos atuais, pois essas sociedades indígenas apesar de não existirem mais, deixaram um lastro de comunidades que vivem em uma lógica de sobrevivência e de reprodução cultural que ainda não foi entendida pela sociedade como um todo, pois os consideram um entrave ao desenvolvimento, uma vez que não querem se “adequar” à lógica capitalista, pois sequer veem nela sentido, desde o diálogo com Jean de Léry, em 1555.
Se não há entendimento sobre o modo de vida desses povos originais do Brasil em sua essência, tampouco serão aceitos na atualidade, uma vez que são jogados de um lado a outro, pressionados por garimpeiros, atendidos de forma interesseira por entidades estrangeiras, submetidos a julgamento pelas suas tradições e tendo de se adaptar aos ditames dos missionários, sendo pressionados para que aluguem as suas terras, que são patrimônio ambiental e assim perdendo eles mesmos a noção de quem são, pois nem podem viver com seus costumes e nem são inseridos na sociedade, uma vez que são ou coagidos em suas terras ou marginalizados nas cidades.
Arendt propõe um esquema prático para definir o que os gregos consideravam como o supremo desenvolvimento social, ou a mais alta forma de vida humana, que deveria ser despendida em uma polis (cidade) ou agrupamento de pessoas em torno de uma super infraestrutura e em que a suprema capacidade humana era a fala, segundo o que seria o entendimento de Aristóteles.
Com relação ao esquema proposto acima, podemos arguir em favor da observação de que existe uma suprema capacidade humana desenvolvida nas sociedades indígenas, através da fala, que aliás torna-se elemento de descrição objetiva (pinçada) nos relatos dos cronistas do século XVI, elevando a condição dos aborígenes brasileiros como um povo dotado de desenvolvimento dessa suprema capacidade humana, com requinte e refinamento claramente observado nos seus protocolos sociais e em outras ocasiões, como quando Jean de Léry é questionado por um chefe indígena sobre a motivação para ficar rico com a madeira levada do Brasil, se a riqueza não iria ser aproveitada por quem acumulou algum montante de bens, mas que seria apenas objeto de disputa entre os herdeiros.
Chama a atenção o fato de como um índio poderia argumentar sobre a inutilidade de acumular bens para que outros usem, se eles mesmos não acumulavam nada e a experiência de enriquecer não era parte da cultura indígena, sendo uma novidade para a qual se mostraram prontamente preparados para avaliar em seus efeitos.
Braulio Antonio Calvoso Silva é aluno do Mestrado em História pela Universidade de Brasilia.
Bibliografia:
Arendt, Hannah, Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1988;
LÉRY, JEAN DE. VIAGEM À TERRA DO BRASIL
Tradução integral e notas de SÉRGIO MILLIET segundo a edição de
PAUL GAFFÁREL com o Colóquio na língua brasílica e notas tupinológicas de
PLÍNIO AYROSA, BIBLIOTECA DO EXÉRCITO — EDITORA, 1961.
Gandavo, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil : história da província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil / Pero de Magalhães Gandavo -Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008;