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Angola: Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar

Angola: Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar

O governo de Angola deu entrada junto à UNESCO da candidatura do centro histórico de Mbanza Congo, localizado no norte do país, a patrimônio mundial da humanidade.

Segundo a Agência LUSA/Angola, a entrega formal da candidatura da cidade histórica da província do Zaire foi feita em Paris, na sede da UNESCO, cumprindo-se desta forma o calendário anunciado em 2014 pelo Ministério da Cultura de Angola, para a última fase dos trabalhos.

O projeto “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”, que tem como principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII, na lista do patrimônio mundial da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007.

O centro histórico de Mbanza Congo está classificado como patrimônio cultural nacional desde Junho de 2013, um pressuposto indispensável para a sua inscrição na lista de patrimônio mundial. Envolve um conjunto cujos limites abrangem uma colina e que se estende por seis corredores. Inclui ruínas e espaços entretanto alvo de escavações e estudos arqueológicos, que envolveram especialistas nacionais e estrangeiros.

A propósito da candidatura, a ministra da Cultura de Angola sublinhou a “urbanidade africana tropical antiga” daquela cidade histórica, “que ainda tem muito para nos revelar”, pelo que existem argumentos para garantir a classificação. “Nós acreditamos que, aquando da avaliação, eles vão ser aceites”, afirmou Rosa Cruz e Silva.

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Foto Mbanza Congo: http://www.plataformamacau.com/

SOBRE MBANZA CONGO
(Texto publicado por João Mavinga/Jornal de Angola)

Portugal enviou missionários para a cidade de Mbanza Congo e começaram os baptismos. “No dia três de Maio de 1492, dia de Santa Vera, frei João, vigário geral dos missionários, baptizou o rei do Congo com o nome de D. Afonso I, tendo abdicado do nome de Ne Nvemba Nzinga e assim foi acontecendo com os outros reis que o sucederam. O ntótela Nenyanga foi baptizado com o nome de D.Pedro II e o penúltimo rei, John Lengu por D. Pedro VII”, disse Nicolau Cabeia.

O rei Dom Afonso I ordenou que fossem queimados todos os locais onde decorriam os cultos tradicionais. Quem não cumpria, sofria a pena de morte ou outras punições. Em função dos mandamentos, ele próprio, o rei do Congo, a título de exemplo, decidiu deixar as muitas mulheres que tinha, tendo ficado apenas com uma, conforme ditava a regra dos missionários, quando instalaram a religião católica em Mbanza Congo.

Kulumbimbi é a primeira igreja construída na África subsaariana, por missionários católicos que faziam parte da primeira expedição portuguesa liderada por Diogo Cão, e que chegou a Angola em 1482. O local do desembarque, na foz do rio Zaire, tem um padrão (Ponta do Padrão), no Soyo, província do Zaire.

A lenda diz que o templo foi construído de pedra e cal, durante uma noite. Hoje está em ruínas. A igreja está localizada no centro da cidade de Mbanza Congo, ao lado do cemitério dos reis do Congo.
Documentos da época desmentem a lenda. Os trabalhos de construção da igreja de Kulumbimbi foram executados entre seis de Maio e seis de Julho de 1491. As ruínas têm despertado o interesse de especialistas nacionais e estrangeiros, pela raridade do seu aspecto arquitectónico.

Nicolau Cabeia conhece a história do templo. Diz que o “ntotela” Ne Nvemba Nzinga autorizou os emissários de Diogo Cão a construir a igreja no centro de Mbanza Congo, que mais tarde foi baptizada de S. Salvador do Congo: “a obra contribuiu para a pacificação dos espíritos e a elevação cultural dos povos naquela altura”.

Enquanto decorriam as obras, o espaço foi vedado aos olhos dos mortais. E quando o rei disse ao povo que já podia ir ao centro da mbanza real, toda a gente ficou admirada por ver uma bela igreja que no dia anterior ninguém tinha visto. Por isso é que correu a lenda que Kulumbimbi tinha sido construída da noite para o dia.
A igreja foi arrasada pelo tempo e desapareceram os seus apetrechos. Hoje resta apenas o altar.

Rei mata mãe

Nicolau Cabeia diz que o rei, era intolerante: “mandou enterrar viva a sua própria mãe, Mamã Mpolo, Dona Apolónia, depois de baptizada. Foi sentenciada por recorrer aos curandeiros tradicionais.

“O rei simulou uma cerimónia, convidando toda população. No local onde mandou sua mãe sentar, havia um buraco de tamanha profundidade, com paus ligeiros atravessados e cobertos com um Luando (esteira) e uma cadeira executiva por cima para a mãe do rei” afiançou.

A morte de Dona Apolónia provocou momentos de muita consternação ao povo Congo. O rei D. Afonso I (Ne Nvemba Nzinga) veio a falecer de forma trágica numa missa dominical realizada em Mbanza Congo.

Reis embalsamados

Os cadáveres dos reis eram transportados para o sunguilu, local onde eram lavados para depois serem levados para Mpinda E’tadi (casa mortuária), onde eram recebidos por mamãs especializadas na arte de embalsamar.

O historiador explicou que na casa mortuária o cadáver era estendido numa maca com fogo por baixo para garantir o escorrimento de toda a água contida no corpo, processo que permitia a conservação natural do defunto, de seis meses a um ano, enquanto os seus colaboradores preparavam a eleição do novo sucessor, por sufrágio universal.

O séquito do rei, incluindo a equipa das mamãs que embalsamavam os corpos dos reis, tinha a obrigação de manter sigilo sobre a morte do rei até à eleição do sucessor para, conforme aludiu Nicolau Cabeia, prevenir desordens e invasões.

Revolta popular

Antes da chegada dos portugueses, Mbanza Congo chamava-se Mpemba na época de Nimi a Lukeni, o fundador da cidade. Nicola Cabeia, elucidou que por altura da prestação de contas, Mbanza Congo, como capital do reino, acolhia as grandes reuniões que juntavam todos os manis (governadores provinciais).

A capital do reino do Congo foi descoberta por Nimi a Lukeni, que era um exímio caçador proveniente da Lunda, das margens do rio Cuango.

Nimi a Lukeni mereceu a confiança do povo à sua chegada a Mbanza Congo, por apresentar propostas que melhoravam a vida das pessoas. Foi aclamado rei.

Árvore secular

Yala Nkwo é conhecida como a árvore secular de Mbanza Congo. Segundo reza a tradição, a sua existência é anterior à chegada dos portugueses. A coloração da sua seiva é avermelhada. A população confundia a seiva com sangue. Aproveitando a brisa da sua sombra, o rei do Congo escolheu o local para recepção de visitantes ilustres e descanso nas horas de lazer, disse Nicolau Cabeia.

Nicolau Cabeia disse a terminar que até hoje paira ainda o mito de que ninguém pode tocar na Yala Nkwo com objectos cortantes, porque senão, quem golpear a árvore pode morrer ou ter problemas de saúde.

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Foto: Angop

SOBRE ANGOLA

Nos anos 1960, os angolanos lutaram por sua independência do jugo português, o mais longevo dos impérios. Portugal resistiu de forma sangrenta, depois que outros países alcançaram a independência contra os impérios europeus. Muitos autores detestam reduzir as guerras a estatísticas, pois argumentam que refletem uma análise superficial da realidade. Porém, só para ilustrar, em Angola, com muita destruição social, essas lutas trouxeram perdas estimadas de 33 mil vidas.

Após a morte de Salazar, ditador de Portugal durante 40 anos, de 1933 a 1972, e a Revolução dos Cravos pela democracia portuguesa em 1974, com o apoio dos militares portugueses contra a guerra, se concretiza a independência de Angola.

Durante a guerra fria, os EUA enxergavam as lutas pela independência como comunistas, pois tinham apoios da União Soviética e de Cuba. Ainda no governo militar de Geisel, o Brasil divergiu dos EUA. Em Angola, aonde o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) proclamou a independência, os EUA apoiaram a UNITA, guerrilha de direita.

O Brasil reconheceu o governo do MPLA no mesmo dia, com o embaixador Italo Zappa na chefia do Departamento da África do Itamaraty. Esse apoio equivocado dos EUA reforçou uma guerra civil que durou até 2002, onde morreram cerca de 500 mil combatentes. Resultou num país mutilado pela miséria e pela guerra que persiste até hoje, apesar de ganhos econômicos.

A população angolana é hoje marcada pela sua conscientização e identidade nacional, a valorização da sua cultura, pela fraternidade expressa como pátria de todos – negros, brancos e mestiços. Em muitos, persiste a utopia revolucionária do panorama do pós-independência angolano, apesar da má distribuição de renda e de direitos.

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Foto: www.prof2000.pt

ANOTE AÍ:
Como fontes básicas, foram consultadas:
– Agência Lusa/Angola
– Jornal de Angola
-Walace Ferreira, 2013. A África na Política Externa Brasileira: Análise de Distanciamentos e Aproximações entre as Décadas de 1950 e 1980, Revista Acadêmica de Relações Internacionais, N°4, Vol. II.
– Celso Amorim, 2013, Breves Narrativas Diplomáticas, São Paulo: Benvirá
-Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira, 2007. Panorama das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Caderno Cespuc de Pesquisa (Serie ensaios, volume 16, páginas 12-69)

https://xapuri.info/o-menino-jesus-e-o-papai-noel/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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