Por ALEX BESSAS de OTEMPO
Pequisadores da UniversidFederal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram uma tecnologia barata capaz de combater ovos e larvas do mosquito Aedes aegypti em águas sujas. O kit com cinco pastilhas (ou tijolinhos) de cerâmica tratadas quimicamente com material larvicida custa cerca de R$ 1 e, de acordo com testes, possibilita a redução de até 80% da população da espécie, que transmite dengue, chikungunya e zika.
A criação da ferramenta de combate ao inseto surgiu de uma demanda do campus de Saúde da UFMG, que buscou parceria com o Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), como explica o professor Jadson Belchior, que coordenou a equipe de pesquisadores. “No campus, o principal foco de proliferação dos mosquitos são os bueiros, que acumulam água parada, suja, mas com nutrientes que permitem o desenvolvimento das larvas”, examina, adicionando que é um comportamento inusual, pois o Aedes aegypti costuma depositar ovos em recipientes com água limpa.
Os estudos do grupo se iniciaram em 2018, e, neste ano, houve a implementação da tecnologia. Outro projeto da universidade, desenvolvido pelo Departamento de Gestão Ambiental (DGA) em parceria com o Laboratório de Inovação e Empreendedorismo em Controle de Vetores (Lintec), permitiu que se verificasse a eficácia da tecnologia.
“Constatamos que, de fato, ao combater as larvas, que sabemos onde estão, reduzimos a população dos mosquitos, que são de controle mais difícil”, analisa Belchior. O produto foi instalado em 85 bueiros do campus Saúde de forma que, quando o nível de água subia, alcançando o kit (ou sachê), o larvicida era liberado.
Com níveis de concentração que não fazem mal ao ser humano, a substância é eficiente para conter a proliferação de mosquitos em locais como bueiros, bocas de lobo, sifões de pias e ralos.
Segundo o professor do Departamento de Química da UFMG, um kit ou sachê deve ser usado em cada bueiro ou ralo, e o material larvicida é liberado durante seis semanas, de forma lenta e controlada, quando entra em contato com a água.
Agora, conta Belchior, o grupo busca viabilizar a colocação desses sachês nos mais de 1.500 bueiros do campus Pampulha da UFMG. “Estamos na expectativa de que o poder público e a iniciativa privada nos procurem para que possamos disponibilizar essa tecnologia”, diz. “Se isso acontecer, teremos condição de colocar isso no mercado muito rápido”, completa.
Epidemia de dengue
Minas registra, até novembro, a segunda pior epidemia de dengue da história, com uma morte a cada dois dias e um novo caso da doença por minuto. Já são 484,7 mil casos prováveis neste ano, com 153 óbitos em 47 municípios. O número se aproxima do balanço de 2016, que teve 517,8 mil ocorrências de janeiro a dezembro, o maior já contabilizado.
Vantagens
- Diferença. Ao contrário da tecnologia de combate à proliferação de Aedes aegypti em água potável, desenvolvida em 2015 pela UFMG, o produto recém-criado age sem que seja necessário o contato com a luz solar.
- Eficiência. Os tijolinhos também são capazes de repelir outras pragas, como baratas e escorpiões, além de conseguirem eliminar larvas e ovos de outros mosquitos, como o vetor da malária e da febre amarela.
Desdobramento
A tecnologia agora desenvolvida pela UFMG é desdobramento de outra, também elaborada sob coordenação do professor Jadson Belchior a partir de estudos iniciados em 2013.
No projeto de então, os pesquisadores criaram tijolinhos com substância atóxica, que reage à água e à luz, sendo eficazes na eliminação de ovos e larvas do Aedes aegypti em água potável.
Belchior explica que uma empresa de iniciativa privada busca registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que esse primeiro produto seja disponibilizado no mercado.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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