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Favela, faveleira: planta medicinal da Caatinga

Favela, faveleira: planta medicinal da Caatinga

A faveleira (Cnidoscolus quercifolius Pohl) também possui outros nomes populares, dependendo da região onde é encontrada. Em alguns lugares dos estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí, é conhecida como favela, favela-de-cachorro ou favela-de-cachorro

Por Eduardo Henrique

Essa espécie pertence à família botânica Euphorbiaceae, é endêmica do domínio fitogeográfico Caatinga, sendo comum encontrá-la em afloramentos rochosos e locais de solos rasos.

Sua altura varia de acordo com a idade da planta, tipo e profundidade de solo, profundidade do lençol freático e frequência de chuvas na região; porém, já foram observadas variações de 2 a 12 metros. Uma das principais características dessa espécie são os tricomas urticantes presentes nas suas folhas, que, ao serem tocados, causam uma breve coceira e ardor.

No Semiárido brasileiro, é difícil encontrar alguém que não conheça a faveleira e que não lembre essa planta como tendo feito parte de algum momento de sua vida. Seus frutos são muito utilizados por crianças na zona rural como brinquedo, por exemplo, colocando-se um palito de madeira no fruto seco e fazendo-o girar como um pião. Além disso, suas sementes são utilizadas como alimento por diversas aves, e também na alimentação humana, in natura ou como farinha para misturar com outros alimentos.

É importante ressaltar que quando existem dificuldades de acessar os serviços de saúde, devido na maioria das vezes à distância dos centros urbanos, uma das alternativas é o uso de plantas medicinais. A faveleira, por sua vez, é bastante utilizada na cicatrização de ferimentos, tanto em pessoas como em animais. Por exemplo, as raspas extraídas da casca dessa planta são aplicadas no tratamento de miíases, que são ferimentos com larvas de moscas, principalmente em caprinos e ovinos.

Pesquisas recentes demonstram diversos potenciais para a faveleira:  utilização do óleo da semente na produção de biocombustíveis, extratos para usos medicinais, e ainda utilização da própria planta para a recuperação de áreas degradadas, pois apresenta características de espécie primária na sucessão ecológica e possui afinidade com ampla diversidade de pássaros que se alimentam das suas sementes.

Matéria publicada originalmente em 08/08/2017.

Fotos: Eduardo Henrique

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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Lu Do Rio

Pois é Maria, vc com pena de cortar o pé no quintal, apesar das lagartas e o povo mudando o nome para “comunidade” Uma planta com diferentes utilidades segundo os pesquisadores, inclusive cicatrizantes, mas o SUS fornece tudo de graça, é mais fácil do que aprender com as avós como tratar com produtos naturais.É melhor pagar até caro por um produto orgânico que usa-lo naturalmente do quintal. A Prefeitura podia muito bem ensinar como combater as lagartas, né? É o Brasil – terra MÃE gentil. Parabéns pela atitude. Deus a abençoe. Lúcia

Maria Silva

Tenho um pé bem antigo no quintal de casa, é um pé bem antigo. O problema é que na primeira chuva que dá pelos meses de novembro e dezembro ela renova as folhas e junto com as folhas crescem aquelas lagartas de favela enormes então elas comem todas as folhas até ficar só os galhos aí elas descem pro chão e se espalham como vírus caem dentro de tudo, das panelas, sobem na casa entram nas roupas vira um verdadeiro inferno, já houve ano que a gente teve que arrumar um caminhão pra carregar tanta lagarta morta, uma praga infernal já tive vontade de cortar esse pé de favela mas ele é tão antigo o tronco tem 7 metros de largura da uma pena cortar então vou suportando a cada ano.

Eduardo Pereira

Que beleza de informação. Gratidão por compartilhar tão importante conhecimento!

Manoel Alves Moreira

Interessante lembrar que a nomenclatura proveniente do senso comum do vocabulário dos habitantes de Canudos, que chamavam favela (uma pequena fava) as bagas da fruta desta planta, é que deu origem aos conglomerados habitacionais nas periferias das cidades.
Em Canudos existe um morro que na época da campanha de Canudos era denominado morro das favelas pela presença do arbusto que produzem o fruto no local e depois da guerra um grupo de soldados dispensados que lutaram no morro, foi localizado pelo Governo nas imediações do hoje Morro da Providência, fato que deu origem ao indicativo Morro dos favelas em referência aos que haviam lutado no Morro das Favelas, em Canudos.

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