Por Gustavo Dourado
Serpentinas e confetes
Viva pierrô e colombina
Samba,choro e marchina
Frevo, transmistura fina
Escolas de Samba, blocos
A multifaceta divina
Abre Alas com Chiquinha
No entrudo, teve origem
Cordões pelas avenidas
Balanço que dá vertigem
A multidão se sacode
Manda embora a fuligem
Noel, Ari, Pixinguinha
Jacob com seu bandolim
Trio elétrico na folia
Armandinho, um serafim
Dodô e Osmar no ritmo
Salve o Senhor do Bonfim
Filhos de Gandhi e Ylê
Alceu no Maracatu
Olodom, Carlinhos Brown
Araketu, artê, Curuzu
Joãozinho Trinta, Jamelão
Maxixe, xote, axé, sol, lundu
Portela e Mocidade
Mangueira e Beija-Flor
Salgueiro e Imperatriz
O samba é imperador
Tijuca e Viradouro
O Carnaval é sedutor
Caprichosos e Rocinha
Império, Vila Isabel
O samba fez escola
Lá na terra de Noel
Porto da Pedra, Estácio
Carnavalu é puro mel
Banda de Ipanema, Momo
Rainha do Carnaval
No Codão da Bola Preta
O Pacotão monumental
Máscaras e fantasias
Animam meu Carnaval
No Carnaval da Bahia
Treme a terra em Salvador
O Pelourinho pega fogo
Axé, samba e calor
Todo mundo na folia
Ritmos de paz e amor
Pernambuco balanceia
No Galo da Madrugada
Recife e Olinda pulam
De dia e na noitada
Frevo e Maracatu
Trio elétrico na estrada
Leandro de Itaquera, X-9
Os Gaviões na folia
Nenê de Vila Matilde
Mocidade é fantasia
Tatuapé, Casa Verde
Tem Vai-Vai na alegria
Camisa Verde e Branco
Unidos de Vila Maria
Peruche e Tom Maior
Rosas de Ouro: Poesia
Tucuruvi, Águia de Outro
No samba do dia-a-dia
Bailes em todo o Brasil
Centro, Sul, Sudeste, Norte
O Nordeste pega fogo
Alma em teletransporte
Carnaval é poesia
A vida ilude a morte…
Capa: J. Borges — O Mestre da Xilogravura – (J. Borges/Reprodução)
Publicado originalmente em 2 de março de 2019
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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