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Bico do Papagaio realiza Encontro de Agroecologia

Bico do Papagaio: 5º Encontro Tocantinense de Agroecologia reúne povos originários e comunidades tradicionais

Marcado pela mística das Quebradeiras de Coco Babaçu, evento aconteceu na Comunidade Sete Barracas, em São Miguel do Tocantins (TO), entre os dias 24 e 27 de outubro

Mãe Palmeira. É dessa forma carinhosa que as quebradeiras de coco babaçu se referem à Palmeira Babaçu, árvore da qual extraem o que é necessário para viverem. Nesse contexto, em meio aos babaçuais da Comunidade Sete Barracas, situada no município de São Miguel do Tocantins (TO), o 5º Encontro Tocantinense de Agroecologia aconteceu entre os dias 24 e 27 de outubro, reunindo mais de 600 participantes, entre povos originários, comunidades tradicionais, organizações, sindicatos rurais, movimentos e pastorais sociais do estado do Tocantins.

Apresentando o tema “Territórios Agroecológicos: Tecendo resistências e esperança para o campo e a cidade na construção da democracia popular e do Bem Viver’’, o Encontro aconteceu no território do Bico do Papagaio, situado ao norte do estado tocantinense, e foi marcado pela integração entre os participantes e a troca de experiências. Mesas de debate, oficinas, apresentações culturais, troca de sementes, feira agroecológica e manifestações fizeram parte da programação.

A diversidade de saberes e culturas foi uma das características do evento, expressa em seus participantes. O Encontro contou com a presença dos povos indígenas Apinajé, Krahô, Kanela do Tocantins, Tapuia, Xerente e Krahô Takaywrá, agricultores familiares, camponeses, quilombolas, pescadores artesanais, ribeirinhos, quebradeiras de coco, estudantes, juventudes rurais, pesquisadores, professores, trabalhadores sem-terra e assessores. Convidados de outros estados – como Maranhão, Pará, Piauí e Goiás – e de outros países – como França, Chile e México – também marcaram presença na Comunidade Sete Barracas.

Devastação ambiental

O objetivo de fazer o diálogo entre o campo e a cidade acontecer não ficou apenas no tema do Encontro. No dia 25 de outubro, os participantes protestaram contra a devastação ambiental nos estados do Tocantins e Maranhão. As manifestações aconteceram na cidade de Imperatriz (MA), município que faz divisa com a região do Bico do Papagaio, território que abarca a transição dos biomas Cerrado e Amazônia.

As ações buscaram sensibilizar e conscientizar a população para a grave situação ambiental dos estados, que já compromete o abastecimento de água, a saúde e a qualidade de vida das populações urbanas e rurais. O protesto foi realizado em três localidades diferentes: em frente à Fábrica da Empresa Suzano Papel e Celulose, na Praça de Fátima, e, por fim, na Ponte Dom Afonso Felipe Gregori.

No primeiro ato, que ocorreu em frente à Fábrica da Suzano, cerca de 300 participantes realizaram um grande círculo de braços dados. No centro da roda, dezenas de cruzes foram fincadas no chão, simbolizando a morte dos rios, das matas e dos povos da região tocantina, impactada pelas ações da Empresa.

De acordo com Rosalva Gomes, assessora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), a degradação do Rio Tocantins e seus afluentes é um impacto direto das ações da Suzano em Imperatriz. “Na comunidade onde eu fui criada, temos dois brejos que estão praticamente secos. É perceptível a diminuição do volume do Rio Tocantins, que seca a cada ano. Isso acontece devido ao desmatamento e pela água que é utilizada na fábrica’’, ressalta.

Na Ponte Dom Afonso Felipe Gregori, última parada do itinerário de manifestações, que conecta os dois estados passando por cima do Rio Tocantins, de maneira pacífica, os manifestantes entoaram cantos e clamaram por suas demandas. Para finalizar o dia de protestos, foram penduradas faixas de aproximadamente 20 metros com os dizeres: “Agrotóxico mata’’, “Suzano mata as águas’’ e “Agroecologia é vida’’.

Agroecologia em rede

O Encontro é uma iniciativa da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA), que desde 2015 atua para integrar comunidades tradicionais e povos originários com o objetivo de promover troca de experiências, formação, integração e organização política.

Para a jovem agricultora e estudante da Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio, Antônia Ruth, é preciso mostrar para a cidade o que o campo está fazendo. “Esse encontro de Agroecologia é importante porque podemos mostrar que estamos produzindo de maneira agroecológica e diversificada, sem precisar envenenar nossas plantações e rios, desmatar ou poluir’’, enfatiza.

De acordo com a coordenação executiva da ATA, a Agroecologia deve ser compreendida como uma ciência, uma prática e um movimento, apresentando um caminho possível para o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade. Ainda segundo a coordenação, a 6ª edição do Encontro Tocantinense de Agroecologia já está sendo planejada e organizada.

Texto: Bruno Santiago/Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. Fotos: Bruno Santiago e Carlos Vinicius Santos/APA-TO.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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