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Mexeu com Krenak, Mexeu Comigo

Mexeu com Krenak, Mexeu Comigo

Por Altino Machado

MEXEU COM KRENAK, MEXEU COMIGO –– Um “faceamigo” se incomodou com a decisão do Conselho Universitário da Universidade de Brasília (UnB) ao aprovar, por aclamação, a concessão do título de doutor honoris causa ao escritor, ambientalista e líder indígena Ailton Krenak:
 
“Sei lá, às vezes parece que falta um pouco de humildade pra esse krenac. Parece meio metidão.”
Respondi:
 
“Passados 521 anos, a maioria dos descendentes dos colonizadores ainda prefere a servidão dos indígenas. Metidão é você; metidona é toda ascendência branca.”
 
E o médico PH Valadares completou:
 
“Parabéns por mais esta necessária intervenção. Neste país essencialmente racista, genocida, euro centrista e senhorial, distorcer conceitos e realidades para perpetuar mentiras, cultivar preconceitos e negar direitos é cabedal daqueles que alimentam, mesmo por inépcia, a luta contra os povos nativos americanos. O estado de ser nobre, de ser belo, de ser sábio e inteligente, de ser impávido, não é uma concessão de quem quer que seja. Se assim fosse, assim não seria.
 
Caetano Veloso talvez tenha encontrado, no nosso idioma, a mais bela tradução dessa expressão de força, coragem e resistência:
 
‘E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio’
Viva a todos aqueles que lutam pela verdade e a mantém viva neste mundo.”
 
O reconhecimento é concedido a personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.
 
“O Krenak é um filósofo imprescindível para este momento. Ele acrescenta novas ontologias que transcendem a divisão entre a natureza e o ser humano. Quando destruímos a natureza, destruímos o ser humano. E acrescenta novas epistemologias. A Universidade de Brasília se caracteriza pela abrangência epistemológica, em diversas áreas. Eu destaco as línguas e povos indígenas, o nosso Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas”, afirmou o vice-reitor Enrique Huelva ao site Brasil de Fato.
 
NOTA DA REDAÇÃO: Nós, da Revista Xapuri, assinamos embaixo de cada palavra escrita no post do Altino Machado.  Mexeu com Krenak, mexeu conosco. Viva Ailton Krenak! 
 
Foto Interna: Altino Machado. Capa: Internet. 
 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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