Lula avança
Por Aloizio Mercadante
Já no pronunciamento aos veículos da mídia independente, esta semana, Lula consolidou o avanço da sua vitória nas eleições presidenciais de outubro. Primeiro, porque o PT se fortaleceu. Há um sentimento popular de que, assim como Lula, o PT foi perseguido e que os erros do Partido são muito menores do que a contribuição histórica do nosso projeto para o país. Por isso, o PT é o partido preferido de 28% dos eleitores, enquanto os segundos colocados aparecem com apenas 2% e muitos nem aparecem.
É nesse sentido que Lula tem buscado um entendimento com o PSDB histórico, no qual Mário Covas foi um grande expoente. É fato que, desde a redemocratização, o PT e o PSDB sempre disputaram e tiveram divergências programáticas importantes, especialmente com a adesão dos tucanos à agenda neoliberal e ao Consenso de Washington. Entretanto, essa disputa sempre foi balizada pelo respeito à democracia, ao reconhecimento do resultado as eleições, sendo que os que atuavam como oposição eram fiéis aos seus programas e compromissos, mas valorizavam e respeitavam a soberania do voto popular.
Esse entendimento foi rompido nas eleições de 2014, quando o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, foi um dos protagonistas do golpismo e subiu à tribuna do Senado Federal para dizer que a então presidenta eleita, Dilma Rousseff, não governaria. O resultado do golpe de estado de 2016 foi a retirada de direitos e a ascensão do bolsonarismo, apoiado, inclusive, por setores importantes do PSDB, que fizeram a campanha eleitoral de Bolsonaro, em 2018, e rifaram a candidatura de Geraldo Alckmin. Entretanto, há setores do PSDB histórico e democrático que não se renderam ao bolsonarismo e com o qual precisamos dialogar.
A atração de Geraldo Alckmin promovida por Lula para o nosso projeto também pode ser decisiva para a eleição de Fernando Haddad em São Paulo. Neste caso, uma vitória nacional com ampla vantagem de votos e a conquista do governo do estado de São Paulo pela primeira vez na história significariam um imenso deslocamento na correlação de forças, considerando o peso econômico e político do estado.
Mas, conforme Lula consolida sua vitória e amplia a vantagem em todas as pesquisas, há um esforço hipócrita dos conservadores de tentar separar Lula e o PT. Lula é o grande construtor e principal liderança do PT e o PT sempre esteve ao lado do ex-presidente, inclusive nos momentos de maior dificuldade, tendo sido a coluna vertebral dos governos Lula.
Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Matéria publicada originalmente na Revista Focus Brasil.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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