Primeiro de tudo que esse governo é responsável por pelo menos a metade dos mortos pela Covid- 19. Estimulou o não uso de máscara, a aglomeração e a negação da vacina. Agora se diz responsável pela vacinação intensa. Mentira. Foi a ciência e o povo brasileiro que foi se vacinar.
Essa carona é perversa. Aprendemos também que este governo não engana mais ninguém, só quem não precisa mais ser enganado. Pensa como ele e eles existem. Estão aí desde sempre só que agora o presidente da república abriu a porteira e eles saíram. Mas o povo não é bobo. Vai usar este aprendizado para dar um novo destino ao país.
Aprendemos a um duro custo que o isolamento às vezes salva-vidas. Pode salvar também o contágio de más companhias apesar de ameaçar nossa saúde mental. Precisamos de companhia, mas essa companhia tem que ter significado de vida.
Neste isolamento que fomos obrigados a viver aprendemos o valor dos livros, do conhecimento através da leitura e da troca de experiências com nossos pares também interessados através dos grupos de WhatsApp. As conversas às vezes são excessivas, mas o ganho é enorme.
Nesses grupos trocamos também informações fundamentais sobre séries e filmes nas plataformas de streaming. A Netflix e outras quase foram beatificadas apesar das dúvidas sobre os milagres que causam. A Netflix é a mais bem estruturada, a que funciona melhor. Tem bons filmes e produções locais. Também tem muita bobagem, mas onde não tem?
As outras, apesar dos bons catálogos sofrem de falta tecnológica para fazerem mais sucesso. Esse aprendizado todo também se deve ao tempo que passamos diante dos celulares, computadores e televisores.
Nossos olhos devem ter se comprometido com tantas horas diante dessa luz eletrônica que ainda desconhecemos. Mas muita companhia foi feita nas madrugadas insones. Outras pessoas devem ter dedicado seu tempo aos jogos eletrônicos. Não sou um desses, mas reconheço a importância que tiveram neste período.
As relações foram mexidas de modo radical. Muita gente se separou, mas achou melhor continuar morando junto. Medida de economia e de precaução sanitária. Alguns casamentos até foram reatados, outros se acabaram definitivamente. Acho que poucos novos começaram.
Daqui pra frente, talvez, mas esse sossego forçado nos fez refletir sobre a vida, o que vale a pena ou não. Deve ter sido importante pra muita gente assim como acho que deve ter acontecido o contrário, um desbunde mais sério, um “desmadre”, como diriam os argentinos. Difícil manter a saúde mental ou o (des) equilíbrio sem um auxílio luxuoso, pelo preço, e nocivo pelos efeitos.
Mas aconteceu, certamente. Muitos amigos e conhecidos morreram de covid. Nunca convivemos tanto com a morte como nesse período. Foi duro, dramático e revoltante. No início por desconhecimento e despreparo, mas depois por negação ou má- intenção. Foram muitas as perdas, algumas nunca mais vamos recuperar.
A falta é enorme e ainda temos que acordar todos os dias, com um pouco de esperança renovada pelo avanço da vacinação, mas com a ameaça constante dessa presidência que persiste. Fruta ruim não cai do pé. Verdade. Mas também não aprende lições. Nós aprendemos e as conclusões que eu chego não conto pra eles. Uso como energia e combustível ainda a um preço controlável para seguirmos em direção ao futuro, e aí esse aprendizado vai ficar eternizado na nossa memória. Essa não morre. Resiste e vira História.
Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana do mês. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN Linda Serra dos Topázios, do Jaime Sautchuk, em Cristalina, Goiás. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo de informação independente e democrático, mas com lado. Ali mesmo, naquela hora, resolvemos criar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Um trabalho de militância, tipo voluntário, mas de qualidade, profissional.
Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome, Xapuri, eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás de grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, praticamente em uma noite. Já voltei pra Brasília com uma revista montada e com a missão de dar um jeito de diagramar e imprimir.
Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, no modo grátis. Daqui, rumamos pra Goiânia, pra convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa para o Conselho Editorial. Altair foi o nosso primeiro conselheiro. Até a doença se agravar, Jaime fez questão de explicar o projeto e convidar, ele mesmo, cada pessoa para o Conselho.
O resto é história. Jaime e eu trilhamos juntos uma linda jornada. Depois da Revista Xapuri veio o site, vieram os e-books, a lojinha virtual (pra ajudar a pagar a conta), os podcasts e as lives, que ele amava. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo a matéria.
Na tarde do dia 14 de julho de 2021, aos 67 anos, depois de longa enfermidade, Jaime partiu para o mundo dos encantados. No dia 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com o agravamento da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
É isso. Agora aqui estou eu, com uma turma fantástica, tocando nosso projeto, na fé, mas às vezes falta grana. Você pode me ajudar a manter o projeto assinando nossa revista, que está cada dia mió, como diria o Jaime. Você também pode contribuir conosco comprando um produto em nossa lojinha solidária (lojaxapuri.info) ou fazendo uma doação via pix: contato@xapuri.info. Gratidão!
Zezé Weiss
Editora
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