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Totalitarismo na América Latina: Um esboço introdutório

Totalitarismo na América Latina: Um esboço introdutório

O artigo  faz uma introdução ao totalitarismo na América Latina

Por Fernando Neto 

O resgate histórico e geográfico sobre a América Latina nos ajuda a compreender sua formação política, social e econômica. Somos uma porção do continente americano localizado entre os Estados Unidos e o México, banhados pelo Rio Grande e a Terra do Fogo (conjunto de ilhas do extremo sul da América do Sul).

Essa regionalização é marcada por características históricas e culturais, principalmente por nosso processo de colonização, a grande América neste sentido divide-se entre América Anglo-saxônica (EUA e Canadá) localizada ao norte e a América Latina formada por países de língua originárias do Latim, desta mesma característica ao Sul da América.

O modelo colonizador de nossa região geográfica se deu pela exploração territorial, mineral, comercial e catequização religiosa, cada um destes países servia como braço de mercado de importação e consumo para a sua metrópole colonizadora, o que impediu em todo o continente a formação de mercados internos sólidos e consolidados, provocando atrasos incalculáveis nos aspectos mais importantes para o desenvolvimento de uma nação.

A colonização de exploração até os dias de hoje são marcas visíveis na economia, cultura e nos registros de dívida interna de cada país que formam o bloco Latino Americano, o Brasil é um bom exemplo, ainda é pagador de dívida da monarquia com a Inglaterra atreladas ao açúcar por empréstimo ao Rei.

Cada uma dessas marcas econômicas do período da colonização é evidente nos países, visíveis no acumulo e concentração de terras e propriedades urbanas centralizados em pequenos grupos econômicos e familiares, elites de exploração patronal, que por séculos de privilégio escravizaram povos, exterminaram etnias, raças, concentraram renda, lucro, poder político, domínio territorial e o ciclo de exportação aéreo, marítimo e terrestre, ferroviário ou rodoviário, a somatória destes fatores gerou em cada um desses povos características de conflito social, urbano e no campo, que exigiram da elite econômica ou política desses países medidas de conflito com a sociedade, acirramento das relações no campo e estrangulamento nas relações de trabalho para benefício do grande Capital.

Ações totalitárias normalmente deixam sequelas estruturantes na sociedade, o continente ainda carrega consigo dificuldades estratégicas de desenvolvimento econômico e aliança política, reflexo disso está na balança comercial dos países membros que compõem o Mercosul em relação ao continente latino americano como um todo, o pouco desenvolvimento fronteiriço e praticamente nenhum tratado bilateral ou hegemônico entre nossos países coirmãos.

Cada um dos vinte países que formam o nosso continente: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sofrem rupturas sociais constantes, influência externa direta e dependência econômica de mercado em escalas proporcionais ao seu PIB, em alguns casos houveram períodos de crescimento econômico capazes de diminuir a dependência europeia e norte americana, principalmente com a mudança de comportamento diplomático e da política externa, casos como do Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, Chile e Colômbia e em cada um desses a resposta veio como retaliação, bloqueio, quebra de acordos financeiros e pressão interna das elites de exploração comandadas por seus ‘Senhores’ de mercado, em resumo, pressão de dentro do próprio país contra o crescimento e a independência econômica.

Algo similar acontece com os países que buscam autonomia política e com menor expressão econômica casos de Cuba, Paraguai, Peru, República Dominicana, Nicarágua, Honduras, Haiti, El Salvador que enfrentam diretamente intervenções políticas, militares, parlamentares, golpes de Estado, contra a estrutura econômica de cada país afetando diretamente os tecidos sociais, com o mesmo reflexo, apoio externo por influência dos grandes centros econômicos sendo países da União Europeia ou Estados Unidos e apoio interno de sua elite de exploração comandadas por seus ‘Senhores’.

O México e a Costa Rica são países dependentes diretamente do mercado americano, principalmente pela proximidade territorial e modelo de exploração pós colonização ou colonização de mercado, o México em especial, possui capacidade econômica maior por sua expansão territorial e populacional, porém mantem-se dependente geopoliticamente principalmente por sua guerra interna, estimulada pelo narcotráfico e pelo interesse fronteiriço norte americano.

O arquétipo construído ao longo deste artigo, de forma simplória, dá introdução as características essenciais para a construção do totalitarismo das elites na América Latina. Com os modelos de exploração, a concentração de renda, a violência exercida pelos centros de poder para manutenção de seus privilégios, a distorção social e cultural produzidos ao longo dos anos em nome de uma catequização econômica e doutrinária ideológica, resultados e consequência de um modelo de colonização que ainda não se dissipou, extirpou e libertou o continente, somados a falta de independência e autonomia de Estado, retransmitem a sociedade uma fissura social e distanciamento dos modelos de representatividade democrática provocando lacunas profundas no desenvolvimento social de cada país.

O totalitarismo presente e latente representa-se por seus blocos de interesse interno, seus oligopólios, monopólios, concentração de capital, propriedade e poder de Estado, em geral uma elite frágil, superficial, neófita, débil, dependente e incapaz de pensar projetos nacionais de desenvolvimento social e econômico. Por fim é preciso desconstruir a elite de exploração e oportunizar o surgimento de uma elite nacional que dialogue com as ramificações sociais, o trabalhador e a trabalhadora, a juventude, pense seu país concatenado as necessidades deste século, refletidos com projetos de longo prazo, que incluam a sociedade e as gerações futuras.

Fernando Neto – Ex-Secretário de Estado da Juventude do GDF. Imagem interna: Emir Sader/Boitempo Editorial. Capa: Berk Ozdemir.

 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

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