– Sou um economista liberal, acredito que o Estado deve ter papel menor na economia, mas não tem outro jeito neste momento. O governo tem de entrar e tentar salvar as empresas e os empregos – comenta o economista Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Embora o pânico tenha tomado conta do mercado financeiro em 2008, o PIB nacional subiu 5,1% à época. Em outubro daquele ano, com a economia nacional ainda fortalecida, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou atenção ao dizer que, se o “tsunami” iniciado nos Estados Unidos chegasse ao Brasil, seria apenas uma “marolinha” em solo verde-amarelo.
Os maiores problemas da crise foram sentidos no ano seguinte. Em 2009, o PIB teve retração de 0,1%. Depois, em 2010, impulsionado por estímulo ao consumo das famílias, saltou 7,5%.
– A crise de 2008 se diferencia da atual, principalmente em sua origem. Estava relacionada a questões financeiras, de crédito. Em episódios assim, a literatura econômica recomenda baixa no juro e compra de títulos para acalmar o mercado. O mundo sabia o que era preciso ser feito. A crise de agora não está ligada a crédito. A origem é um vírus que fez os governos paralisarem a atividade econômica, provocando choque de oferta – pontua o economista-chefe da Vokin Investimentos, Igor Morais.
Especialistas defendem mais gasto público O governo Jair Bolsonaro anunciou diversas ações para amenizar o baque econômico causado pelo coronavírus. Especialistas avaliam que é preciso buscar mais opções para atenuar perdas de empresas e famílias. Até o momento, o plano do governo inclui apoio financeiro a trabalhadores informais, prorrogação do prazo de pagamento de tributos e empréstimos a pequenas e médias empresas.
Diretor-geral da Fator Administração de Recursos, o economista Paulo Gala sugere ao governo “turbinar” programas sociais já existentes, como o Bolsa Família. Na quarta-feira, Bolsonaro liberou R$ 3 bilhões para a iniciativa.
Na visão de Gala, o BNDES também deveria ser “mais agressivo” ao oferecer linhas de financiamento para empresas com condições mais atrativas. No último dia 22, o banco anunciou pacote de R$ 55 bilhões para auxiliar no combate ao coronavírus.
– O governo, até agora, foi muito tímido nas ações. Não temos tempo hábil – diz Gala.
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Marcel Balassiano concorda com a leitura de que as ações iniciais devem focar nas camadas mais desfavorecidas da população:
– A crise de agora preocupa mais do que a de 2008. As medidas devem ter foco nos mais pobres.
Professor da Unisinos, Marcos Lélis considera que o governo poderia buscar novas opções para financiar parte da folha de pagamento das empresas. Nesta sexta-feira (27), o governo anunciou linha de crédito emergencial para pequenos e médios negócios, para ajudá-los a quitar salários de funcionários por dois meses. Para Lélis, a medida pode ajudar, mas é “insuficiente” diante do tamanho da crise.
Economista-chefe da Vokin Investimentos, Igor Morais avalia que, se a maior parte da indústria e do setor de serviços permanecer parada nas próximas semanas, o governo terá de elevar gastos e “poderá comprometer o crescimento futuro”. Outra opção, diz Morais, seria o poder público buscar, com base em indicadores populacionais, o isolamento do grupo de risco ao coronavírus, formado principalmente por idosos. Na opinião do economista, a operação seria viável, mas exigiria um “exercício de guerra”.
Conforme o governo federal, as ações anunciadas para reduzir prejuízos no país chegaram, até quarta-feira, a R$ 306,2 bilhões – cerca de 4% do PIB brasileiro (R$ 7,3 trilhões). Os EUA, a maior economia do mundo, chamaram atenção ao confirmar plano de socorro de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 10 trilhões e 10% do PIB local).
Fonte: Gaúcha ZH
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