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Bambas da Capoeira: Salve, Salve, Mestre Curió!

Bambas da Capoeira têm arte documentada em discos com registros de manifestações culturais da Bahia

Por Mauro Ferreira

Caixa da série ‘Mestres Navegantes’ inclui três CDs com gravações de temas do Candomblé.

O senhor da foto acima é o baiano Jaime Martins dos Santos, o Mestre Curió, bamba da capoeira, arte na qual se iniciou aos seis anos. Bisneto do lendário mestre Besouro, capoeirista de Santo Amaro (BA), Curió aparece na foto com integrantes do grupo Forte Capoeira.

Praticante da ancestral Capoeira Angola, ramo mais antigo dessa arte afro-baiana, Curió tem quatro temas de capoeira registrados no disco Capoeira Angola 1.

O disco é um dos sete CDs embalados na caixa Mestre Navegantes – Edição Bahia vol. 2, produzida pelo músico e pesquisador Betão Aguiar – filho do novo baiano Paulinho Boca de Cantor – e lançada neste mês de junho de 2019.

Os sete discos da caixa apresentam registros inéditos de manifestações culturais da Bahia, captadas entre julho e agosto de 2018 em expedição documental comandada por Betão por Salvador (BA) e por cidades do Recôncavo Baiano.

Integrantes do terreiro Loba'Nekun, de Cachoeira (BA) — Foto: Samuel Macedo / Divulgação

Integrantes do terreiro Loba’Nekun, de Cachoeira (BA) — Foto: Samuel Macedo / Divulgação

Além de gravações de temas de Capoeira Angola, gênero que absorve dois dos sete CDs da caixa, há registros de cânticos de três vertentes do Candomblé – Ketu, Angola / Caboclo e Jêje Mahi / Nagô, cada uma ocupando um CD – e de dois gêneros de Chegança (feminina e mista, cada um gravado em um disco).

No caso do Candomblé, a documentação fonográfica do patrimônio musical dessa tradição religiosa e cultural simboliza ato de resistência em momento em que as religiões afro-brasileiras sofrem ataques que incluem até destruição de terreiros.

Para a captação dos temas para os discos de Candomblé, cada terreiro escolheu um repertório específico da nação a que está associado, fato que aumentou o valor documental por incluir obras até então nunca registradas em fonogramas oficiais.

“Cada comunidade trouxe aquilo que possui de mais sagrado. Cantigas e toques que celebram orixás, voduns, inquices, encantados, caboclos e entidades afro indígenas, comprovando a riqueza e a diversidade musical do povo afro-brasileiro”, reitera Betão Aguiar.

Com o lançamento da caixa Mestre Navegantes – Edição Bahia vol. 2, a série documental de Betão Aguiar passa a totalizar 28 discos que reúnem mais de 500 fonogramas com registros de temas de manifestações culturais e populares de vários estilos e regiões do Brasil.

Fonte: G1

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

 

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