Herdeiros da Democracia
Herdeiros da democracia!
Mergulhados na agonia…
Da política suja, enxovalhada.
De uma república entregada
Aos homens de gravata.
Ó pátria amada, Brasil!
Mas os herdeiros estão vazando
Para a América e a Europa,
Em busca de paz e harmonia.
Covardes gansos, repletos de covardia.
Políticos da rebeldia.
Esses orquestram a sinfonia
Do trem da alegria.
Dão repressão aos herdeiros,
Na hora de cantarem o hino
Da liberdade do juízo são.
Herdeiros, juntam os bens da pátria,
Como a galinha que esconde os pintinhos
Debaixo das asas,
Quando a chuva cai no chão.
Vão juntando um a um nas praças,
Depois distribuem aos pobres .
Não haverá mais Estado-Maior,
Da classe dos herdeiros, uma só.
Rege a esquizofrenia do paletó,
Da gravata preta, branca e colorida,
Na sessão de anarquia do Congresso.
E cada um vota contra os herdeiros
Que constroem este país verde e amarelo:
De Zé, Mané, Washington, Josué e Jair.
Sempre reinou aqui, o workaholic.
Somos uma colônia da Europa,
Mas herdeiros permanentes
Desta pátria verde e amarelo.
Às vezes nos cegam na cela,
Soldadinhos de chumbo,
Armados com bala amarga.
E desprovidos de lentes,
Dos óculos de Nietzsche.
Mas os herdeiros reagem cantando
O hino da liberdade e da existência.
O Cerrado e a Amazônia são irmãos
De pai e mãe, no Brasil.
Há uma voz que ecoa no tapete,
É a voz do patrão que ludibria a nação;
São bastante dignos de sanção.
É preciso sonhar para poder viver!
Porque tudo pode morrer,
A qualquer instante na vida.
E o herdeiro administra a batuta,
A sinfonia começa nas ruas,
A gritaria do povo vira música,
Nos estados brasileiros.
Vanílson Reis, 03.11.19, Poeta formosense e Prof. · Brasília- SEEDF
Fonte: Arquivo Pessoal do Poeta
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!
<
p style=”text-align: center;”>