É como se um Ibirapuera (158 ha) fosse ao chão a cada 60 horas. Em abril, a Floresta Nacional do Jamanxim, em Novo Progresso, Pará, perdeu 1900 hectares. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), produzidos pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Para o mês, Jamanxim liderou com folga o ranking de Unidade de Conservação (UC) mais desmatada da Amazônia. A última vez em que havia aparecido no boletim das dez UCs mais desmatadas foi em setembro de 2017, quando foi detectado um desmatamento de 60 hectares.

Tamanho movimento chamou atenção dos pesquisadores do Imazon. “É uma derrubada grande para um mês”, explica Heron Martins, pesquisador do Imazon.

Desmatamento na Floresta Nacional do Jamanxim. Arte: Márcio Lázaro.

Caos fundiário

A invasão, grilagem de terra e criação de gado dentro da Floresta Nacional do Jamanxim é um problema que acompanha a área protegida desde que ela foi criada, em fevereiro de 2006, dentro de um pacote para conter o desmatamento ao longo da BR-163 –  que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) – que estava sendo asfaltada.

Rodovias permitem a criação de pequenas estradas ilegais, apelidadas de ‘ramais’, que dão acesso a floresta. As invasões começam com os madeireiros que retiram as árvores valiosas, o gado aparece depois como forma de estabelecer a posse da terra e gerar renda.

Propriedades que existiam dentro dos limites de Jamanxim, antes da sua criação, têm direito a indenização. Quem invadiu depois deve ser retirado. O ICMBio fez um levantamento para fazer essa distinção e constatou que dois terços das ocupações ocorreu depois da criação da área protegida.

Em 2009, apareceu a primeira proposta para rever os limites da unidade de 1,3 milhão de hectares, mas ela não foi adiante. Em dezembro de 2016, o governo, pressionado por políticos locais e invasores, enviou para o Congresso uma medida provisória reduzindo em 57% a Floresta Nacional do Jamanxim. Considerada ingovernável e com enormes conflitos fundiários, o Ministério do Meio Ambiente preferiu abrir mão de uma parte já invadida e desmatada da Flona para transformá-la em APA (Área de Preservação Permanente), categoria branda que permite produção e fazendas. Após mudanças bruscas no projeto durante tramitação no Congresso Nacional, o governo abandonou a proposta e a Floresta seguiu inteira – no papel.

Da esquerda para a direita, como estava ano passado e como está agora. Imagem: Imazon.

A mudança nos limites da área protegida continua tramitando no Congresso Nacional via o Projeto de Lei nº 8107/2017. Desde setembro de 2017, o projeto está parado na pauta da Câmara. No último dia 14 de abril, o prefeito de Novo Progresso, Macarrão (PSC), esteve em reunião no Palácio do Planalto para pleitear que o governo vote o projeto em regime de urgência.Nessa mesma época, 19 quilômetros quadrados foram derrubados em Jamanxim, justamente dentro dos limites que o governo tinha planejado manter intacto, ou seja, em uma área que continuaria dentro da Floresta Nacional caso a unidade seja reduzida.

Para Heron Martins, isso prova que a proposta de redução não reduzirá o desmatamento na região. “Esses novos desmatamentos só provam que a possível redução da FLONA só irá aumentar a ação de especuladores de terras públicas”, disse.

ANOTE AÍ

Fonte: Associação O ECO

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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