Por Felipe Mendes/via Brasil Popular
“Não é um reconhecimento da luta da Sônia, é um reconhecimento coletivo depois de tudo que a gente vem fazendo pra combater ataques, retrocessos, retirada de direitos. É um esforço que a gente faz todos os dias”, disse, em entrevista ao Brasil de Fato.
Para Sônia, o reconhecimento vem em boa hora e ajuda a dar visibilidade para as pautas indígenas, tanto dentro quanto fora do país. Ela acredita que é necessário que mais pessoas saibam a importância dos povos originários.
“É o momento pra gente sensibilizar as pessoas e conscientizar sobre o papel dos povos e dos territórios indígenas pra toda humanidade, a importância dos territórios protegidos, a demarcação das terras indígenas”, disse.
Sônia afirma que a postura do governo Bolsonaro contra os indígenas e o aumento da violência contra os povos originários estão diretamente ligadas. Para ela, muitas agressões são realizadas por pessoas que “se sentem autorizadas” pela postura do governo. Por isso, o ganho de visibilidade é ainda mais importante.
“Nos últimos anos a gente sentiu que as pessoas passaram a entender melhor e se importar mais com a pauta indígena. A classe artística tem manifestado mais apoio, participado das mobilizações, e eles atingem um público que a gente geralmente não consegue atingir”, destaca.
Pré-candidata a deputada federal pelo PSOL de São Paulo, Sônia Guajajara disse que é preciso fortalecer a luta indígena também nos espaços institucionais. Junto a outras lideranças indígenas ela criou a “bancada do cocar”, com o objetivo de fazer oposição consistente à bancada ruralista. Hoje, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) é a única representante dos povos indígenas no congresso.
“Ali no congresso precisa ter a voz da terra, voz da floresta, da biodiversidade. E quem faz essa representação legítima somos nós, indígenas, que nos entendemos com a floresta e o meio ambiente. A gente não quer mais ser só representado, queremos ser nossos próprios representantes”, destacou.
“Lula sinalizou com um ministério dos povos indígenas. Pra gente isso é importante, pode aglutinar ali toda a política indigenista, mas queremos também participar da discussão da construção do país com representação indígena forte também em outros ministérios, como o da Saúde, o da Educação e do Meio Ambiente. Queremos estar juntos na reconstrução de direitos perdidos nos últimos anos”, concluiu.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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