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Educação ambiental é a chave para evitar desastres, afirma pesquisador da UFRGS

Educação ambiental é a chave para evitar desastres, afirma pesquisador da UFRGS

Pesquisadores reforçam que governo precisa investir em sistemas de prevenção para que chuvas fortes não causem tantas vítimas humanas.

Por Danielly Oliveira/ O Eco

O sistema de monitoramento de chuva  do  Instituto  Nacional  de  Meteorologia  (INMET)  no  município  de  Serafina  Corrêa, um dos atingidos pelas grandes chuvas ocorridas há duas semanas no Rio Grande do Sul, já apontava, com 24 horas de antecedência, que a cheia no rio Taquari seria de grande magnitude. É o que afirma um grupo de profissionais do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Nove pesquisadores assinam a nota técnica enviada ao governo do estado, defesa civil gaúcha e corpo de bombeiros e que fala sobre as falhas nos procedimentos de prevenção de desastres naturais. Para os pesquisadores, as falhas contribuíram para o elevado número de mortes  – 48 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros. 

Na nota técnica de seis páginas, os pesquisadores afirmam que o governo gaúcho deveria investir imediatamente em um sistema de monitoramento de chuva e dos níveis dos rios, na previsão de eventos extremos e em alertas aos moradores das regiões consideradas de risco. O texto propõe um conjunto de ações ao estado para que tragédias como a que ocorreu no Vale do Taquari não se repitam.

Em entrevista a ((o))eco, Fernando Mainardi Fan, um dos autores da nota técnica, detalha quais ações devem ser tomadas. “Investimento em educação ambiental e treinamento são a chave para evitar esses desastres”, afirma o pesquisador. 

Mainardi é doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental e professor adjunto do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Confira:

A nota técnica diz que era possível evitar a tragédia com 24 horas de antecedência. Por quê?

Fernando Mainardi Fan: Uma coisa bem importante para se falar é que a gente não está tentando encontrar culpados. Colocamos ali na nota que era possível sim ter previsto com 24 horas de antecedência, mas também colocamos o histórico de como o rio vinha descendo com força, que as pontes foram caindo e tudo mais. 

Tudo isso para sermos didáticos, para as pessoas entenderem. Porque se o rio está descendo, é possível saber que ele logo vai chegar com força. É a partir daí que colocamos que esse evento poderia ter sido previsto 24 horas antes. Se a gente tivesse investido em infraestrutura, monitoramento e plano de ação, além de dados e modelos de previsão, a gente poderia ter dado um alerta melhor.

Se a gente, enquanto sociedade, tivéssemos dado mais atenção para isso, teria sido possível evitar ou diminuir bastante o impacto desse desastre. Mas não estamos apontando nenhum culpado, seja Defesa Civil, governo do estado ou dos municípios. 

O que antecedeu nas 24 horas, de segunda-feira (04/09) para terça-feira (05/09), que antecederam a tragédia no Vale do Taquari?

Regiões da bacia hidrográfica são capazes de gerar elevado escoamento no rio. Então, essa chuva foi bastante volumosa e fez o rio subir muito rapidamente. Teve alguns pontos que a gente teve registros de 4, 5 e até 6 metros. Isso é realmente uma situação bastante particular. A gente tem registros da cheia de 1941, que ocorreu em algumas cidades  e que era a maior cheia já registrada até então, mas essa ultrapassa a de 1941. Então, foi de fato uma grande chuva que aconteceu e ela veio rio abaixo e causou toda aquela destruição, isso do evento em si. 

Vista aérea dos danos causados por um ciclone em Mucum, Rio Grande do Sul Foto: Silvio Avila/AFP.

Enchentes no Rio Grande do Sul são, infelizmente, recorrentes. Por quê? 

É verdade, a gente tem vários registros históricos de cheias. Também temos, pelos estudos de mudanças climáticas, uma tendência de aumento de eventos extremos. Em anos como o El Niño, em que a gente está vivendo hoje, talvez aconteça mais eventos extremos e mais intensos devido às mudanças climáticas.

No contexto de desenvolvimento das nossas cidades, se desenvolver um lado de um rio é importante porque é onde vai tirar água para beber, é onde vai descartar os teus influentes e eventualmente também é rota de transporte aquaviário. Então, tem cidades que iniciaram o seu crescimento e habitação por pessoas que chegaram pelo rio. Então, é normal uma cidade se desenvolver assim, ao lado de um grande rio. Muitas cidades são erguidas ao longo de grandes rios. E quando os rios sobem essas cidades são afetadas. 

Por que há tantas pessoas nessas zonas propensas a inundações?

Essa pergunta pode ter várias respostas. Pode ser porque quando as pessoas começaram a morar nessa região ninguém tinha registro de enchentes, então só depois elas viram que era um lugar inundável, mas já era tarde para sair. Tem áreas que a gente sabe que é inundável, mas teve especulação imobiliária. Então houve uma certa pressão para se ocupar aquela região, não teve seu controle adequado, em termos de ocupação dos territórios. Existem vários motivos que levam as pessoas a ocuparem essas áreas inundadas, que refletem nessa situação de agora, quando o rio sobe. 

O que ocorreu no Rio Grande do Sul é considerado somente um desastre ambiental?

O que a gente costuma falar é que em um desastre sempre tem a parte natural e a parte social. Neste caso tem o componente da hidrológica. Ou seja, choveu e o rio subiu. Mas também há componentes sociais. Como, por exemplo, se as pessoas não estivessem ali não haveria mortes, seria só uma inundação naquele rio. Outra coisa também é que não fizemos nada em outras cheias, ou fizemos e não foram suficientes. 

Quais são os projetos relacionados aos planos de gerenciamento de riscos e desastres no Rio Grande do Sul?

Temos a nossa política nacional de proteção e defesa civil e ela prevê que sejam criadas as políticas estaduais também. Existiu um movimento em âmbito estadual para que isso fosse criado, implementado com a contratação de empresas para fazer essa contratação e botar esse plano em pé, mas isso ainda não foi finalizado. Então, entendendo que essa é uma das pautas de agora, é uma situação política, o estado precisa movimentar e fazer acontecer o nosso plano de proteção e defesa.

Quais são as ações de curto prazo que o governo do Rio Grande do Sul precisa implementar para que tragédias como essa sejam evitadas?

Tem dois componentes que são muito importantes. Que são os avisos e alertas às pessoas que estão nessas regiões. O outro componente é que as pessoas precisam saber o que fazer. Porque podemos dar um alerta perfeito dizendo “na tua casa o rio vai inundar daqui a três horas”. Mas o que as pessoas vão fazer com essa informação? Para onde elas devem ir? Elas precisam ter noção para qual direção seguir, qual o melhor caminho e qual o lugar mais seguro. Ou seja, precisamos fortalecer a comunicação para que as pessoas saibam o que fazer no momento certo. Além do fortalecimento da própria defesa civil e mais investimento para que eles também consigam implementar esses alertas mais específicos e detalhados. 

Quais são as ações de longo prazo?

A principal política é a educação sobre desastres. As pessoas precisam estar cientes do que é morar numa área sujeita a risco, precisam saber que vão receber alertas, entender como eles funcionam e estarem dispostas a saírem de suas casas quando eles acontecerem. Também é necessário mais investimento nos especialistas e no treinamento de profissionais das equipes de defesa civil, sala de situação e todos que atuam dentro dos sistemas estaduais. Acho que investimento em educação ambiental e treinamento são a chave para evitar esses desastres.

Danielly OliveiraJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Silvio Avila/AFP.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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