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Fascismo e Fome

Fascismo e Fome

Desde o Golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff, o Brasil foi atacado por medidas antipopulares e políticas neoliberais perversas. O capitalismo sem limites e o rentismo é quem ditam as regras e expõem as vísceras de um país faminto, que sofre a barbárie imposta pelo mercado, pelo agro, e principalmente, pelo mau-caratismo de quem é governo.

Por Virgínia Berriel

A miséria e fome bateram à porta de mais de 19 milhões de brasileiros. Mesmo com toda a solidariedade, os diversos movimentos não conseguem alimentar todos que estão na linha da pobreza, na miserabilidade e com o prato vazio.

Os ossos de boi, as carcaças de frango, os pés de galinha, os restos de peixes, agora são comercializados, vendidos, e não é a preço de banana. Uma realidade de doer! Lembro muito bem, porque nasci e cresci na roça e essas miudezas todas sempre eram doadas. Cabeça e miúdos de porcos, bois, frangos e galinhas, inclusive os pés eram doados.

Os porcos eram alimentados com uma ração, um cozido que levava mandioca e abóbora e folhas de verduras. Eram mais bem alimentados, e são até hoje, melhor do que conseguem muitas famílias.

A luta contra a fome, certamente, tem sido uma aventura para muitos brasileiros famintos. A busca por comida se transformou na luta por sobrevivência para milhares de pessoas.

Vamos resgatar e lembrar que nosso país saiu do mapa da fome nos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. A fome foi erradicada graças aos programas de inclusão social como o Bolsa Família. Programa que foi reconhecido pela ONU mundialmente eficaz no combate à fome.

É de doer o coração as imagens de brasileiros procurado restos em lixões, comprando ossos, revirando latas e caminhões de lixo. São cenas que nos fazem chorar. A indignação é tamanha, faz muito mal. São imagens degradantes de um Brasil que grita, que pede socorro, que está sufocado e parece morto.

O que fizeram com o Brasil? Se transformou num país ridicularizado e subserviente, uma nação triste, com um monte de famintos, perambulando pelas ruas, jogados e marginalizados pela política fascista e neoliberal. Uma política que só defende e inclui os interesses do capital, do mercado, dos ricos e estes estão ainda mais ricos.

O que prevalece é o desrespeito ao povo brasileiro. O chefe da Nação mente e propaga descaradamente a mentira e o ódio. O seu projeto político é a necropolítica. Ele odeia os pobres, os trabalhadores, os pretos, os educadores, a cultura, os indígenas, os jornalistas, as mulheres… Ele é uma coisa, uma criatura que ainda está na Presidência porque o seu projeto de desmonte e destruição beneficia aqueles que enriquecem cada vez mais à custa do suor e sangue do nosso povo.

Brasil maior produtor de carne e grãos

Produtor mundial de grãos, carnes e diversos outros alimentos, o Brasil – país do agronegócio, mata de fome os pobres, desamparados e desempregados. É um flagelo social que vai deixar marcas profundas. Não dá para apagar as marcas da fome ou fingir que não estamos vendo. Quem não quer enxergar não é por miopia, mas, sim, por total descaso.

O rebanho de gado brasileiro em 2020, foi o maior do mundo, representando 14,3% do rebanho mundial. O país foi o maior exportador de carne bovina no ano passado. Além da carne, o país ocupa o quarto lugar no mundo na produção de grãos: soja, milho, feijão e arroz. É o maior produtor de açúcar e café e o terceiro no mundo em produção de frutas.

Como um país que lidera a produção de carnes e de alimentos e as exportações desses produtos, mata a fome do mundo, mas não consegue matar a fome dos brasileiros?

O agro se transformou num dos negócios de maior rentabilidade ao país, através das commodities agrícolas, ou seja, mercadorias de consumo que alimentam o mercado global, negociadas em bolsas de valores em todo o mundo, como o petróleo. As principais commodities do nosso agro são: soja, laranja, milho, trigo, açúcar, algodão, entre outras. Alimentam o mercado globalizado, dolarizado e matam de fome o nosso povo, deixando para eles apenas restos: os ossos, o feijão bandinha, o arroz quebradinho e os farelos.

Enquanto isso o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, numa ação social gigantesca, faz o agro passar vergonha. Com todas as restrições e ataques o MST produz toneladas de alimentos que são doados nas periferias do nosso país. Cabe destacar que o MST é um dos maiores produtores de arroz orgânico do país. Em 2020, foram produzidas pelo Movimento, e doadas, mais de 15 toneladas de alimentos nas periferias do Espírito Santo. No Paraná, na região de Castro, foram distribuídas 12 toneladas de alimentos. Também em Recife, Porto Velho, Brasília e Florianópolis o MST, a Via Campesina e o MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores, distribuíram toneladas de alimentos.

Negacionismo e fascismo matam

Vivemos tantas dores: a dor pelas mais de 615 mil vidas perdidas para a Covid-19; a dor da morte pelo arbítrio da polícia que executa sem piedade jovens, pretos, pobres e favelados – além das execuções e chacinas, ainda há as balas perdidas e achadas no corpo dos invisibilizados; a dor das vidas perdidas para a fome.

Sem dúvida, todas as mortes são resultado da política do negacionismo e do fascismo explícitos que está devorando o nosso país. A ignorância é a cara da morte desse governo e de seus ministros, que tripudiam o povo pobre e os trabalhadores. 

Necessário matarmos a fome de todos que lutam por comida, como estão fazendo o MST, a Via Campesina, o Movimento dos Pequenos Agricultores e os diversos movimentos sociais, juntos ou separados.

Faço questão de resgatar aqui, como estamos próximos ao Natal e fim de ano, das imagens fortes, na orla de Copacabana, com mais de cem carrinhos de supermercado vazios, num ato contundente da Ação da Cidadania para chamar a atenção da sociedade para a necessária a doação de alimentos para o Natal sem Fome. A Ação da Cidadania coleta anualmente toneladas de alimentos que se transformam em cestas básicas distribuídas nas periferias e favelas do Rio de Janeiro e de todo o país.

Somente através das ações de caráter solidário conseguiremos minimizar um pouco o impacto da tragédia da fome. Mas, para além de todas as ações solidárias, só avançaremos quando os negacionistas e os fascistas forem combatidos, devidamente culpabilizados e julgados pelos crimes que cometeram contra o Brasil e o povo brasileiro.

Virginia Berriel – Jornalista JP22913RJ.  Executiva Nacional da CUT. Direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ. Direção do Sinttel Rio. Integrante do MHuD Movimento Humanos Direitos. Conselheira do CNDH Conselho Nacional dos Direitos Humanos.

Capa: Greenme.  

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

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