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A terceira sombra

A terceira sombra

 
Na sombra, mesmo que se tenha o que existe, sempre lhe tornará um aprendiz do que realmente é. E, todavia, o que é uma sombra? A terceira. A sombra do terceiro homem era sumamente grande em um momento, já noutro tomava a distorção de um ser pequeno e disforme.
 
Sumamente grande porque se achava na sua extrema descaracterização: não se encontrava consigo mesma. Na noite do silêncio onde oculta os olhos dos homens, ascende a maravilha que desfavorece o seu si. Duvidou. Porventura, não é duvidando que se testemunha a evidência do fato? De que o si não se encomenda ao si mesmo.
 
Era penalizada pela transformação repentina, não gozava de reverência de si mesma. Sua relação consigo, antecipava um destaque de excessivo cuidado por quão desprezível era. Defendia a sua circunstância: era sombra.
 
Assíduo na sua conclusão experimentava a pureza dos rogos, que ora batia à sua disposição. Frequentemente, se permitia não ser apenas o que era. Dependia para seu modo de ser: da luz e do calor. Porém, não lhe farejava alcançar à noite, pois esta, lhe impossibilitava por alguns instantes de ser.
 
Imponente, cheio de si, confiante, “altez” de suas ideias, de olhar transversal aos seus ditames, lá estava um malogro que caminhava com passos largos, firmes e com certa rapidez. Tendia-se para seu rumo, como se uma voz aguda lhe chamara. O zunido alto dava ao fato sua grande importância, um clamor à escutar com ações de aceitação, a resposta cabal bem esclarecida.
 
Não precisava impor a aceitação, ela ocupava desinteressadamente do fortalecimento do seu poder real de ser num outro. Não esgotava em se conjugar o seu aprisionamento em outro.
 
Suas noites eram esmagadoras, se perdia nelas. Representava sofrimento e consumação da sua plena entrega ao que de tudo condena seu aspecto de entregar- se a si. Quando ele próprio se conforma, seu existir ao incômodo do que ele quer para si mesmo.
 
Então, esvazia-se de si! É assombroso o que lhe carece. Falta o que é seu; seu pequeno tesouro: o si mesmo. Na vastidão do mundo nada consegue fazer com que seu existir esteja completo: falta tudo, o seu existir em si, pois é em si o si noutro. Isso o angustia e agita desde dentro: um dentro que nele é fora, ao passo que não tem o si.
 
Almeja, infinitamente o si de si. Deseja estar dentro e no seu si não tem o seu desejo, o seu querer, apenas o buscar do encher o vazio que anseia pelo preenchimento do si.
 
Desejava a si mesma e desde aquela agonia, leva em si o desejo de si ter a si mesma. Principalmente por não se ver em si, desconfia-se do seu “este”. Queria ser propriedade de si mesma, dona do seu “este”. Consagrar à origem, aderir ao instantâneo de si.
 
Ter a certeza de se abandonar em si e se achar livre para acolher sua entrega, seria como multiplicar o seu abandono: na serenidade da verdade que se busca e no otimismo que vai alcançar, a verdade recomeçando sempre, como se este começo nunca existira noutrora: renovar o novo e si ver em si, a terceira sombra.
 
 
Padre Joacir d’Abadia, Pároco da Paróquia São José Operário – Formosa-GO / Diocese de Formosa-GO.Filósofo, Escritor, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel e Licenciando em Filosofia, membro da “Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano” (ALANEG), da “Academia de Letras do Brasil – Seccional Planaltina-GO” (ALBPLGO) e da “Casa do Poeta Brasileiro”,  autor de 12 livros. Contato: WhatsApp 61 9 9931-5433
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Pe. Joacir Soares d’Abadia, Pároco em Alto Paraíso-GO, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel em Filosofia e Teologia, Licenciando em Filosofia, membro do Conselho de “Pesquisas e Projetos” (UnB Cerrado), membro do Conselho de Presbíteros, Coordenador da Pastoral da Educação e Coordenador dos Padres do Setor IV. Escreve para os jornais: “Alô Vicentinos” (Formosa-GO) e “Carta de notícias” (Posse-GO). É o fundador do jornal “Ecos da chapada” (Alto Paraíso-GO). Ganhou, em 2011, o Concurso Internacional de Filosofia da “Revista Digital Antorcha Cultural” da Argentina e têm 4 obras publicadas no exterior. É autor 8 livros: “Opúsculo do conhecer” (Cidadela); “A caridade e o problema da pobreza na periferia” (Agbook); “A Igreja do ressuscitado” (Virtual Books); “Contos de barriga cheia” (Cidadela); “O eu autor” (B24horas); “Taffom Érdna: romance com a sabedoria” (Palavra e Prece); “A Filosofia ao cair da folha” (Cidadela) e “Riqueza da Humanidade” (B24horas). Contato: Whatsapp (61) 99315433 ou joacirsoares@hotmail.com
 

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

 
 
 
 
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