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Deijanira e Vespasiano: Exemplo de união

Deijanira e Vespasiano: Exemplo de união, luta e superação

O Grupo Escolar Americano do Brasil sempre foi símbolo de boa educação formal em Formosa, e ainda é. Daquelas salas de aula simples, com seus professores dedicados, saíram inúmeras pessoas de sucesso. E para alegrar o prédio, tinha a presença da bem-humorada e despachada Deijanira, Deija para alguns e Dona Deija para todos…

Por Iêda Vilas-Bôas

Houve um tempo em que Deija e sua família ocuparam a casa que havia no pátio da escola e exercia facetadas funções: merendeira, porteira, psicóloga, curandeira… porque, naqueles tempos, médico era exemplar raro, e a medicina cara. Deija deixava a casa amarela mais clara que o sol do meio-dia.

Ali vivia ela, seu esposo Vespasiano, alfaiate especializado em alta costura masculina, e os filhos que iam nascendo… ano sim outro não, havia sempre mais um bebê na família Gualberto de Brito, que enchia de orgulho aquele casal de trabalhadores.

O casal se conheceu no ateliê no famoso alfaiate de Chiquinho do Espírito Santo, marido de Dona Calú e pai de Zelma, que se notabilizou como a maior estilista de alta costura de todos os tempos no município de Formosa.

Nesse tempo Deijanira era aprendiz de calceira. Vespasiano, o conhecido Seu Vespa, era homem vaidoso, cheio de charme e, embora tenha vindo de Flores de Goiás, lá do interior do interior, onde era peão de boiadeiro, sempre teve pretensões de se casar com moça direita da cidade grande e logo se encantou pela comunicativa Deija. O namoro e o noivado duraram apenas cinco dias, e eles se casaram em uma sexta-feira da primavera no mês de outubro de 1951.

Vespasiano, considerado oficial de alfaiate de “mão-cheia”, resolveu trabalhar em Anápolis para melhor contribuir com o sustento da família. Por lá ficou algum tempo e Deija, com saudades do esposo, deu seu jeitinho de aplicar-lhe um xeque-mate: tinha 30 dias para retornar para Formosa. Vespa voltou de mala e cuia e por aqui ficou.

Por 2 mil réis comprou, com a ajuda de Deija, uma máquina de costura de última geração na loja de Seu Ayçor Fayad. Deija contribuiu com mil Réis do salário que recebia como porteira. Vespa, por sua vez, confeccionou dois ternos para Zé Coqueiro, que complementou o pagamento da necessária máquina de costura. Daí pra frente toda a sociedade formosense ficou sabendo que a cidade tinha mais um grande mestre da alta costura masculina, e veio a clientela seleta.

Deija e Vespa criaram grande prole: Creuza, veio de Flores de Goiás aos sete anos, resultado de uma aventura de Vespa e foi acolhida por Deija como se sua filha fosse. Aí, nasceu o Walter, o Vanderley, o Wagner, o Vespasiano Filho, o Valdo, o Waldir e a moça da casa: Valquíria Gualberto de Brito, minha amiga, colega de magistério e Confreira na Alaneg – Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano.

Um dia, era 10/10/2008, Vespasiano cometeu a deselegância de partir primeiro. Viveu bem seus 84 anos (nasceu em 25/08/1924). A Deija, tocou seguir a vida sem seu companheiro de jornada, recebendo visitas de netos e filhos, festejando nascimentos e celebrando casamentos. Sempre muito linda e bem arrumada. A anfitriã perfeita, servindo café com bolo, uma fineza de fazer gosto!

Em 22/06/2018, Deijanira também partiu, com 94 anos (nasceu em 01/02/1926), sem deixar tristezas. Sua força e sua alegria contagiante ainda emanam da sua casa no Abreu. Parece que Deija continua ali, com seus lindos olhos, por baixo dos óculos, sua pele negra, quase sem rugas, e o sorriso largo de quem gostava de bem-viver e de bem-querer a todo mundo!

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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