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FORMOSA: A CIDADE DOS COQUEIROS

Formosa: A cidade dos coqueiros 

Formosa era a “cidade dos coqueiros”, como a definiam viajantes – Carmo Bernardes, por exemplo – que lá chegaram no início do século vinte…

Por Alfredo A. Saad

 Ao adentrar a cidade, o estranho não divisava casas brancas, ou barreadas, ou os telhados, ou coberturas de capim. O que se via eram coqueiros, às centenas, coqueiros xodó e indaiá, com as copas destacando-se acima das mangueiras. Eram os anunciantes da existência de uma cidade próxima. Principalmente os coqueiros xodó, com seus fustes direitos e esguios.

Cada quintal possuía seus coqueiros xodó (macaúba), às dezenas. Mas, às vezes, eram os coqueiros indaiá que enfeitavam alguns recantos. Nunca se soube se o extenso coqueiral de indaiá era nativo daquele recanto, que os primeiros habitantes escolheram para construir seus ranchos, ou se, nascidos, paulatinamente, a partir de sementes dos coqueirais da redondeza, dispersas, após roída a polpa espessa dos cocos pelo homem e por animais.

Além de utilizados na alimentação da população, mais tarde, os cocos passaram também a ser aproveitados para a fabricação de sabão. Os coqueiros indaiá, além dos cocos, forneciam as folhas para a cobertura dos ranchos de taipa.

Além disso, esses últimos apresentam uma característica singular: no tronco, acumulam-se nos restos de antigas folhas, a poeira soprada pelo vento, nutrientes que servem de substrato para enormes samambaias. Quanto mais antigo o coqueiro, maiores e mais numerosas as frondes das pteridófitas, atualmente muito utilizadas para decoração.

Era costume do homem do campo conservar esses coqueiros, assim como os coqueiros xodó, quando derrubavam o mato para o plantio. Mesmo sofrendo a ação do fogo das queimadas tradicionais do interior do país, ainda hoje utilizadas, os indaiá e os xodó mostram boa capacidade de recuperação e voltam a produzir, após um ou dois anos.

Tanto uma quanto outra espécie eram utilizadas para a produção de óleo combustível para iluminação e para alimentação. O óleo dos cocos era utilizado nas candeias abertas, comuns na região de Couros.

Alfredo A. Saad – Escritor, em Álbum de Formosa – um ensaio de história e mentalidades. Obra póstuma, publicada pela família em 2013.

Publicado originalmente em 26 de abril de 2021


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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