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A resposta do povo vai sendo tecida: o cometa Lula ilumina o céu do Brasil

A resposta do povo vai sendo tecida: o cometa Lula ilumina o céu do Brasil

Não é simples tratar da vida de Lula. Na última biografia publicada, Fernando Morais apresenta com agilidade e objetividade a árdua caminhada de Lula.

Por Athos Pereira/PT Formosa 

A vida do ex-presidente Lula já inspirou a redação de inúmeros livros. Chegou às livrarias “Lula” – Volume 1 -, assinado por Fernando Morais e publicada pela Editora Companhia das Letras. A culpa de todas as biografias parecerem parciais não é de seus autores. Ela cabe a Lula que, do alto de seus 76 anos, continua vivo, ativo e propositivo, participando diariamente com destaque de lances decisivos da história do Brasil e do Mundo.
Se a coisa continuar assim, a direita vai precisar de centenas de juízes fraudulentos, como Sérgio Moro, e de procuradores como Deltan Dallagnol aquele que, em Curitiba, chefiou uma Força Tarefa, que mais parecia uma associação ilícita para delinquir. Caso contrário Lula voltará ao Planalto pelo voto do povo.
Na biografia escrita por Fernando Morais, a narrativa não é linear nem cronológica, desenrola-se por avanços e recuos, segundo o arbítrio do narrador e seguindo o ritmo acelerado que ele queria imprimir e imprimiu à narrativa. A história não começa com o nascimento de Lula na longínqua Caetés, então distrito de Garanhuns, no sertão de Pernambuco, em 1945. Mas no dia 07 de abril de 2018, quando a Polícia Federal conseguiu efetuar a ordem de prisão decretada pelo infame juiz suspeito, Sergio Moro, com o objetivo óbvio de influenciar nos resultados das eleições previstas para aquele ano. Tirar Lula da corrida presidencial era vital para as forças conservadoras que haviam dado o golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Sérgio Moro que estava e está a serviço dos golpistas, participou desse conluio.
É Lula no meio do redemoinho
​​​  Fernando Morais apresenta com agilidade e objetividade a árdua caminhada de Lula, este filho de flagelados da seca, que migrou com a família para São Paulo passando por sofrimentos cruéis, porque passam os excluídos do Brasil, mas, mesmo assim, conquistando o diploma de torneiro mecânico, em curso feito no SESI, o que lhe assegurou alguma estabilidade no emprego e permitiu que ele ingressasse no movimento sindical pelas mãos de seu irmão, Frei Chico.
Foi aí que Lula se projetou, liderando uma ampla renovação do sindicalismo brasileiro, derrotando o peleguismo e abrindo um período de greves, primeiro no ABC paulista, depois no Brasil inteiro, que abalaria as bases da ditadura instalada em 1964. Essas grandes mobilizações deram mais consistência às oposições à ditadura e forneceram a ossatura da memorável campanha das diretas que terminaria contribuindo para a derrota da ditadura.
Lula foi ainda fundador da CUT e do PT, a primeira central sindical do Brasil, fora do controle do Estado e da burguesia, e o primeiro partido de esquerda e de massa livre da tutela dos patrões, que não nasceu em gabinetes, mas veio à luz no chão das fábricas, onde rugia a classe operária em luta pela liberdade e contra o arrocho salarial.
Nesta questão, Fernando Morais não entra, certamente porque entende que o eleitor deve saber que a estreia eleitoral do PT, em 1982, foi penosa. Muitos abutres vibraram com a modéstia das votações obtidas pelo partido.
Mas a resposta não tardaria. Já nas eleições para prefeitos das capitais em 1985, o partido venceu em Fortaleza, venceu e foi fraudado em Goiânia e teve bom desempenho em Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e outras capitais. Assim ele começou a demarcação de um campo democrático e popular na política brasileira, que deixava desde então de ser um domínio monopolizado pelas oligarquias. Um outro ator, a classe dos trabalhadores, adquiria voz própria.
Daí em diante a trajetória eleitoral do PT quase sempre foi de ascensão, com oscilações apenas nos momentos de maior fúria da sistemática campanha difamatória dos grandes meios de comunicação e da perseguição judicial movida contra o partido pelos setores do aparelho do judiciário comprometidos com o golpismo e com o golpe real que aconteceu em 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff.
Para resumir, nas oito eleições diretas para Presidente da República, reestabelecidas pela Constituição de 1988, o PT venceu quatro, foi para o segundo turno em duas e chegou em segundo lugar nas duas que foram decididas no primeiro turno. Algum partido pode apresentar semelhante desempenho? Certamente não.
É por isso que é inegável que quem procura excluir o PT do cenário político tem objetivos sinistros e nenhum compromisso com a democracia. Porque em verdade quer excluir o povo do processo político, formalizando a instalação de uma ditadura para massacrar as camadas mais pobres da população.
O golpe sem máscara
É com esse pano de fundo e de grande tensão, que ocorre a decretação da prisão do ex-presidente. Ele recebeu a notícia no Instituto Lula. Deslocou-se então para o histórico prédio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, centro de grandes concentrações operárias, desde 1979, que imediatamente, e de forma espontânea, começou a ser cercada por uma multidão de apoiadores.
Aí ele foi notificado pela Polícia Federal de que o Juiz Sérgio Moro, lhe oferecia a oportunidade de se entregar na sede da Polícia Federal em Curitiba. Não me entrego, porque não sou culpado, respondeu Lula. Se querem me prender que venham me prender aqui.
Logo se instala um imenso aparato repressivo em torno dos manifestantes concentrados na porta do sindicato. Enquanto isso iniciam-se discussões entre a Polícia Federal e a assessoria de Lula, para superar o impasse. A massa não arreda pé e continua crescendo e gritando: “Não se entrega, não se entrega”.
A um quilômetro do sindicato a PM de São Paulo tinha reforçado o cerco repressivo, instalando um batalhão de choque, mais numeroso, mais habilitado e mais armado do que os efetivos da Polícia Federal.
A oferta de Sérgio Moro para que Lula se entregasse à PF em Curitiba já fora para o espaço. Agora faltavam quatro horas para que se cumprisse o novo prazo para Lula se entregar na sede da PF em São Paulo quando uma funcionária do Instituto Lula, Cláudia Troiano, comunicou a Gleici Hoffmann, presidenta do PT: Amanhã, se fosse viva, Dona Marisa, falecida esposa de Lula, faria 68 anos. Por que não organizamos uma missa para ela aqui no sindicato? Foi uma luz.
Gleisi Hoffmann consultou os líderes petistas. Todos se puseram de acordo. Não seria missa, mas um ato ecumênico. Lula aprovou. Dom Angélico Bernardino, bispo de São Bernardo, aceitou presidir o ato religioso, estava acompanhado por sacerdotes de outras confissões, além de católicos, participaram evangélicos, judeus, budistas e representantes de outros credos.
Lula foi o último a falar. Fez um discurso lúcido e comovente. Enquanto ele falava, Emídio de Souza, dirigente do PT, deslocava-se para a sede da Polícia Federal, em São Paulo, para negociar os termos da prisão de Lula. Ficou acertado que Lula se entregaria em frente ao sindicato, entraria num carro descaracterizado da Polícia Federal, seguiria para a sede da PF, acompanhado de dois advogados, onde embarcaria num helicóptero da PF, também descaracterizado, rumo a Congonhas, onde embarcaria numa aeronave da PF, sem insígnias, rumo ao Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. Dali seria conduzido de helicóptero até à sede da PF na Capital do Paraná. Esse roteiro macabro foi cumprido, não sem tensões e ameaças contra Lula, seus advogados e apoiadores.
A resposta do povo vai  sendo tecida, o tecelão é Lula
(Preso ele articulava a resistência)
A bordo do helicóptero que o conduzia à prisão, Lula viu a repressão da Polícia Federal contra seus apoiadores que, em frente ao prédio, onde ele ficaria preso pelos próximos 581 dias, protestavam contra uma prisão injusta e ilegal. Foi dessa aglomeração que nasceu a vigília Lula Livre, que permaneceu no local, initerruptamente, por todo o período em que ex-presidente esteve preso.
O livro gira em torno desses acontecimentos, mas   trata de outros assuntos relevantes. Mostra a romaria de personalidades ilustres, nacionais e internacionais que foram visitar o grande líder, inocente e preso. Conta o caso de um representante do Papa que levava uma carta de Francisco e um rosário para Lula, mas foi impedido de entrar, porque era quarta-feira, dia que não era previsto para visitas. Alberto Fernandes, presidente da Argentina, interrompeu sua campanha pela conquista da Casa Rosada, foi a Curitiba solidarizar-se com o prisioneiro ilustre e depois correu para o abraço. Sem deixar de citar a truculência de um oficial da PM do Paraná, que não se identificou, nem tinha mandado judicial, mas desembarcou com sua tropa na Vigília Lula Livre e comunicou a um líder do MST ali presente que a vigília tinha que acabar, que todos tinham que se retirar e, quem não se retirasse, seria preso.
Nesse momento, o oficial foi civilizadamente, interrompido por um senhor de cabelos brancos que lhe disse: Então, o senhor pode me prender. Porque eu não vou sair. E se apresentou: Edevaldo Moreira, Juiz Federal. O oficial da PM do Paraná deu meia volta e comandou sua tropa em retirada. Esse tipo de bravata foi comum ao longo do processo.
Não é simples tratar da vida de Lula, Fernando Morais ainda explora, sem esgotar, de assuntos como a República do Paraná, do trabalho corajoso do The Intercept, que divulgou as primeiras informações oriundas do hacker de Araraquara, portanto de Walter Delgatti, o “Vermelho”, que expôs as vísceras podres da Justiça Federal e do Ministério Público no Paraná. E que, por isso mesmo, sofre até hoje sanções cruéis e injustas.
A vida continua. Fernando Morais escreveu uma biografia que está à altura do porte épico de seu biografado. Trata-se de um livro essencial para compreender o Brasil de nosso tempo. E, para finalizar, Lula não saiu da prisão de helicóptero, como queria o governo. Ele saiu pela porta principal do prédio da PF, para se abraçar com a aguerrida militância da Vigilai Lula Livre acampada em frente à sede da PF.
Athos Pereira – vice-presidente do PT Formosa-GO. ​Capa: Ricardo Stuckert.
A resposta do povo vai sendo tecida: o cometa Lula ilumina o céu do Brasil

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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