Santo Agostinho e São Tomás de Aquino: o que pensavam sobre o aborto?
Polêmica sobre a proibição do aborto pela Igreja Católica surgiu apenas no século 19. Entenda o caso
Por Joseane Pereira – aventurasnahistoria
Durante os primeiros anos do Cristianismo, existiam posiçõs contraditórias entre os vários papas e as doutrinas dos padres da Igreja. E tanto no Antigo quanto no Novo Testamento as alusões ao aborto são poucas e confusas. Um dos trechos mais citados entre os que condenam o aborto se encontra no primeiro capítulo de Jeremías, no Antigo Testamento. Lá é dito: “Antes de se formar no ventre materno, eu te conhecia; antes de sair do seio, eu havia te consagrado e constituído profeta para as nações”. Tomada individualmente, a frase parece dizer que a alma do embrião já era conhecida por Deus. Entretanto, para o filósofo James Rachels, autor de Introdução à Filosofia Moral, a leitura do fragmento não permite a conclusão de um julgamento moral sobre o aborto, sendo apenas uma figura “poética”.
As escrituras falam sobre o aborto de forma explícita apenas no capítulo 21 do Livro do Êxodo, onde são descritas as regras a serem seguidas pelos israelitas. Lá é feita uma distinção entre a pena por homicídio, que se castigava com a morte, e a pena pelo aborto, que era merecedor de uma simples multa.
Santo Agostinho (354 – 430 d.C.), um dos principais pensadores dos primeiros séculos do Cristianismo, considerava que o embrião não tinha alma até o 45º dia após a concepção. Para ele, a alma só se constituía após o embrião estar completamente formado e se constituir como um feto. Por isso, distingue entre o aborto realizado em um feto animado, o que constitui homicídio, e o aborto realizado sobre algo sem alma humana, que deveria sofrer uma penalidade menor.
Quase um milênio depois, São Tomás de Aquino (1225 – 1274), influente frade italiano, discutiu longamente em sua Summa Theologica que “a alma não é infundida antes da formação do corpo”. Segundo ele, a alma humana se constitui junto da forma humana, de modo que durante as primeiras semanas de gravidez o embrião não tem alma. Segundo ele, os primeiros movimentos do feto seriam o início da “animação”, primeiros sinais visíveis de vida. Segundo o teólogo, o aborto de um embrião em seus primeiros estágios de desenvolvimento era comparável à contracepção, por isso igualmente condenável, mas não no mesmo nível que um homicídio.
A posição tomada pelos dois pensadores foi adotada pela Igreja desde 1312, a partir do Concílio de Viena convocado pelo Papa Clemente V. Portanto, a partir desta data, realizar aborto nas primeiras semanas de concepção não era considerado assassinato.
Apenas no século 19 a situação mudou, quando cientistas, analisando um embrião com microscópios rudimentares, pensaram ter visto seres humanos minúsculos que chamaram de “humúnculo”.
Seguindo o pensamento de Tomás de Aquino, os religiosos passaram a considerar a existência de criaturas perfeitamente formadas, e por isso dotadas de alma. Mesmo após avanços tecnológicos terem demonstrado que os embriões só adquirem forma humana semanas depois da gravidez, a Igreja manteve a posição que considera homicídio o aborto em qualquer fase da gestação. E essa decisão repercute até hoje.
Fonte: aventurasnahistoria
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