Pesquisar
Close this search box.

Dez anos sem Oliveira Silveira: o poeta da Consciência Negra

Dez anos sem Oliveira Silveira: o poeta da Consciência Negra

Falecido em 2009, ele idealizou o feriado da Consciência Negra em homenagem à morte de Zumbi dos Palmares

No primeiro dia deste ano, a família do professor, ativista e poeta Oliveira Silveira lembrou os dez anos de sua morte, em janeiro de 2009. Um dos grandes nomes do movimento negro brasileiro, ele idealizou a campanha que instituiu o feriado da Consciência Negra, lembrado todo dia 20 de novembro no país, ainda na década de 1970.

Silveira, acompanhado de outros ativistas, como Vilmar Nunes, Ilmo da Silva e Antônio Carlos Côrtes, questionavam a data em que os negros no Brasil se reconheciam até então: o 13 de maio, dia em que a princesa Isabel teria assinado a abolição da escravatura no país, em 1888. Para eles, o verdadeiro dia do orgulho negro no Brasil deveria ser o da morte de Zumbi do Palmares, em 20 de novembro de 1695.

O grupo passou a organizar reuniões em uma casa na esquina da Rua dos Andradas e a Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em que discutiam sobre o legado do Quilombo dos Palmares, onde Zumbi viveu a maior parte de sua vida no século XVII. Dali nasceu o Grupo Palmares, que existe até hoje e atua em várias frentes relacionadas ao movimento negro. “Depois dessas duas reuniões, na casa do Oliveira, e depois na casa dos meus pais na rua dos Andradas, o ato mais aberto foi no clube náutico Marcílio Dias, onde fizemos um breve excurso histórico de tudo aquilo, onde participaram cerca de 20 pessoas. Ali houve a materialização do Grupo Palmares”, contou Côrtes ao jornal Zero Hora.

“Estávamos insatisfeitos com o 13 de maio. Havia um grupo de negros que se reunia na Rua da Praia [no centro de Porto Alegre] e o nosso assunto, invariavelmente, era a questão negra e o fato de o 13 de maio não ter maior significação para nós. Logo, surgiu a idéia de que era preciso encontrar outra data. Eu, como gostava de pesquisar, aprofundei-me nisso. E encontrei material, cuja fonte era Édison Carneiro, autor do livro O Quilombo dos Palmares, indicando que Zumbi dos Palmares havia sido morto em 20 de novembro [de 1695]. Essa informação foi confirmada no livro As guerras dos Palmares, do português Ernesto Ennes, no qual foram transcritos documentos. Já que não sabíamos o dia de seu nascimento ou do início de Palmares, tínhamos pelo menos a data da morte de Zumbi, o último rei do quilombo de Palmares, Alagoas. Então, promovemos uma reunião, que originou o Grupo Cultural Palmares, cuja idéia era fazer um trabalho para reverenciar Palmares e Zumbi como algo mais representativo que 13 de maio”, contou o próprio Oliveira à Agência Brasil, em 2008.

Segundo seus biógrafos, Silveira se preocupava especialmente com a situação dos negros no Sul do país, local onde até hoje há relatos de racismo. Natural da cidade de Touro do Passo, em Rosário do Sul, a 430 km de Porto Alegre, ele se dedicava a escrever poemas sobre como viviam os afrodescendentes na região. Ex-integrante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, ele é autor de Capítulo 20 de novembro, história e conteúdo, Educação e Ações Afirmativas: entre a Injustiça Simbólica e a Injustiça Social, organizado pelos professores Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e Valter Roberto Silvério, da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo.

“Esse traço gaudério na poesia dele, no aspecto positivo. Quem fala isso é o Oswaldo de Camargo na introdução do penúltimo livro do Oliveira Silveira. Ele fala na poesia afrogaúcha do Oliveira Silveira. Acho que isso é inegável, mas acho que o regionalismo na poesia dele é análogo ao regionalismo nordestino na poesia do João Cabral de Melo Neto. Em ambos os poetas, esses traços aparecem, mas não a ponto de ser um regionalismo fechado”, disse Ronaldo Augusto, poeta e amigo de Silveira, ao Zero Hora. Augusto organizou recentemente a antologia da obra de Oliveira Silveira.

“Oliveira é um poeta, como diz Osvaldo de Camargo, que inaugura uma vertente afrogaúcha, mas ele não se relaciona com ela de modo pacífico. Ele é crítico, não embarca no ‘sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra’. Claro, ele é crítico em relação à história do Rio Grande do Sul com a população negra”, completou.

No entanto, a situação do negro no Brasil também era fonte de suas pesquisas, como afirmou à Agência Brasil um ano antes de sua morte. “A democracia racial é um mito trabalhado especialmente em função dessa política de branqueamento, que nunca foi revogada. A miscigenação é apresentada como uma coisa positiva, mas, na verdade, não é. No Brasil, existe preconceito, discriminação na prática, existe racismo. É um país reconhecidamente racista. Isso é oficialmente reconhecido. Eu acredito que o racismo não é uma coisa que desapareça, que possa ser eliminado. Ele pode se aquietar, mas lá pelas tantas está vivo, forte e atuante”.

Apesar da data dos seus poemas, todos os temas tratados por Oliveira Silveira são extremamente atuais e frequentemente discutidos, até hoje, por alunos de comunicação, estudantes de faculdades de direito e outras áreas de comportamento humano em todo país, de forma a inibir e reduzir ao máximo a prática do preconceito racial.

 

 

ANOTE:

Foto de Capa: Gazeta do Rosário

Foto interna: Neco Varella

 

0 0 votos
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest
1 Comentário
O mais novo
Mais antigo Mais Votados
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Parcerias

Ads2_parceiros_CNTE
Ads2_parceiros_Bancários
Ads2_parceiros_Sertão_Cerratense
Ads2_parceiros_Brasil_Popular
Ads2_parceiros_Entorno_Sul
Ads2_parceiros_Sinpro
Ads2_parceiros_Fenae
Ads2_parceiros_Inst.Altair
Ads2_parceiros_Fetec
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

REVISTA

REVISTA 113
REVISTA 112
REVISTA 111
REVISTA 110
REVISTA 109
REVISTA 108
REVISTA 107
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

CONTATO

logo xapuri

posts recentes