Eliane Potiguara abrilhanta Feira Pan-Amazônica
Em Belém do Pará, escritora e ativista indígena Eliane Potiguara se encontra com estudantes do Bengui
Por Selma Amaral (SECOM)
Pela terceira vez em Belém, a escritora e ativista das causas indígenas brasileiras Eliane Potiguara, 69 anos, se encontrou na manhã desta sexta-feira (30), com os alunos da EEFM Maria Luiza da Costa Rego, no bairro do Benguí. O encontro foi marcado de emoção e se deu no ambiente do projeto Portal do Conhecimento, que é uma extensão da roda de conversa dos escritores convidados da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes deste ano. Eliane Potiguara é autora de sete obras que passeiam pelos gêneros literários da poesia, crônicas, contos e artigos que retratam sua infância, sua formação acadêmica e sua luta pela manutenção da herança cultural dos povos tradicionais indígenas.
Para receber a escritora, os alunos da escola Maria Luiza estudaram suas obras e sua biografia durante um mês. Cartazes com textos e fotos de Eliane foram colados nas paredes do corredor central da Escola como forma de recepcionar a convidada especial. O estudante Ramon Passos falou em nome das turmas e agradeceu o trabalho da ativista em defesa das riquezas e tradições dos índios brasileiros.
A professora Eunice Garcia, que dirige a escola, destacou a visita como sendo um presente à sua comunidade escolar, pois muitos de seus alunos não têm condições financeiras para ir visitar a Feira do Livro e participar das atividades. A escola Maria Luiza tem 1.546 alunos matriculados e funciona há 36 anos no bairro do Benguí. “Nosso prédio é antigo e precisa de reformas urgentes, mas estamos esperançosos que essa realidade vai mudar em breve”, disse a gestora da Escola.
Alunos ouviram atentos a explanação da escritora Foto: Alex Ribeiro / Ag.Pará
Sobre a oportunidade de receber a visita de Eliane Potiguara, a professora Eunice disse ser um presente. “Eu agradeço a coordenação da Feira do Livro deste ano por essa oportunidade única”, disse, comentando ainda sobre o novo formato da programação do evento. “A Feira do Livro está com a cara do Pará, com uma programação que valoriza nossa cultura e nossas tradições”, completou.
Resistência – Eliane Potiguara é um nome forte da literatura indígena. Ela assina sete obras, entre as quais “Metade Cara, Metade Máscara”, “A Cura da Terra”, “O Coco que guardava a noite” e o “Pássaro encantado”, e se prepara para lançar mais dois livros até o final do ano. “Minha produção aborda vários gêneros literários, mas posso dizer que gosto muito de poesias, de exercitar meu viés jornalístico e de destacar minha origem potiguara do estado do Paraíba”, disse.
Professora de formação, até meados das décadas de 70 e 80, Eliane era redatora do “Jornal do Curumim” publicado no Rio de Janeiro e distribuído para todo o Brasil. Depois vieram outros trabalhos voltados à educação indígena, influenciado pelo educador Paulo Freire, e hoje, ela se dedica a participação de Feiras, Simpósios e Encontros Literários no Brasil e no exterior. A escritora se considera uma migrante da região Nordeste, que segundo ela, foi alvo das invasões portuguesas, holandesas, espanhola e francesa. “Minha família, bisavós e avós, foi muito atingida e vivenciamos a invasão de terras pelas culturas do algodão e da cana-de-açúcar, no entanto, somos resistentes e assim vamos continuar”, destacou.
O trabalho acadêmico e social em defesa das causas sociais e educação indígena apresentou Eliane Potiguara ao mundo. Moradora do Rio de Janeiro, Eliane é professora, empreendedora, fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas e uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. No currículo também constam o Prêmio Pen Club, na Inglaterra e Fundo Livre de Expressão nos Estados Unidos, além de participação na composição constitucional de 1988.
Fonte: Agência Pará
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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