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Emissões globais de combustíveis fósseis batem recorde

As emissões globais de combustíveis fósseis batem recorde em 2018

“Emissões só cairão consistentemente com uma mudança completa no modelo de produção e consumo e o decrescimento demoeconômico”

 

Por José Eustáquio Diniz Alves
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Créditos da foto: (Unplash)

O Acordo de Paris, assinado em 2015, em seu ponto principal, trata do esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre 2014 e 2016 as emissões mundiais ficaram estagnadas e parecia que tinham alcançado um pico para, em seguida, começar um processo de redução. Mas as emissões voltaram a subir em 2017 e 2018, acendendo um sinal vermelho quanto a impossibilidade de manter o aquecimento global abaixo de 1,5º Celsius.

Estudo, divulgado pelo Global Carbon Project (05/12/2018), durante a 24ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-24), realizada na Polônia, indica que as emissões de dióxido de carbono deverão alcançar níveis recordes em 2018. As emissões globais de combustíveis fósseisdeverão alcançar 37,1 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera em 2018, o que representa um aumento de 2,7% em relação a 2017, sendo que o aumento havia sido de 1,6%, entre 2016 e 2017 (os dados definitivos serão divulgados ano que vem).

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(EcoDebate)

O gráfico acima mostra que as emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis passou de 9,28 bilhões de toneladas de CO2 em 1959 para 37,1 bilhões de toneladas de CO2 em 2018 (um crescimento de 4 vezes em cerca de 60 anos).

No mesmo período, a população mundial passou de cerca de 3 bilhões para 7,6 bilhões de habitantes – um aumento de 2,53 vezes – enquanto a economia global cresceu 8,8 vezes. Desta forma, a quadruplicação das emissões, entre 1959 e 2018, foi maior do que o crescimento demográfico, mas foi menor do que o crescimento econômico. Assim, houve aumento per capita das emissões e redução da intensidade das emissões por unidade de produto.

Em 1959, as emissões dos EUA foram de 2,82 bilhões de toneladas de CO2 e da União Europeia de 2,65 bilhões de toneladas de CO2. Ou seja, o mundo desenvolvido ocidental emitia 5,47 bilhões de toneladas de CO2, representando 59% das emissões globais em 1959. A China e a Índia emitiam, respectivamente, 0,72 e 0,11 bilhões de toneladas de CO2. O resto do mundo emitia 2,98 bilhões de toneladas de CO2.

Seis décadas depois, as emissões dos EUA, em 2018, foram de 5,4 bilhões de toneladas de CO2(crescimento de 1,9 vezes) e da União Europeia de 3,52 bilhões de toneladas (crescimento de 1,3 vezes). A soma das emissões dos países ricos ocidentais, em 2018, foi de 8,92 bilhões de toneladas de CO2, representando apenas 24% das emissões globais, bem abaixo da proporção de 59% de 1959.

Mas o maior destaque do aumento da poluição global veio da China que passou a ser o país com os maiores níveis de emissão, atingindo 10,3 bilhões de toneladas de CO2 em 2018 (crescimento de 14,3 vezes em 60 anos), superando a soma dos EUA e da União Europeia. A Índia também se tornou uma grande emissora, com 2,63 bilhões de toneladas de CO2 em 2018 (crescimento de 24 vezes em 60 anos). Portanto, os dois países mais populosos do mundo, atualmente, superam o conjunto dos países ricos nas emissões de CO2. O resto do mundo passou de 2,98 para 15,3 bilhões de toneladas de CO2 em 2018 (crescimento de 5,1 vezes e acima da média mundial).

Nos anos 2000, os EUA e a União Europeia (os maiores poluidores do passado) diminuíram o volume das emissões, enquanto os países em desenvolvimento aumentaram. Talvez a China esteja próxima de atingir um pico das emissões. Mas a Índia e o resto do mundo tendem a manter emissões crescentes por conta da necessidade de reduzir a pobreza e atender uma população prevista para continuar crescendo até 2100. O gráfico abaixo mostra que o grande aumento das emissões ocorreu na Ásia, mas os demais continentes (Oceania, África, América do Sul e Oriente Médio) também apresentam aumento das emissões, enquanto a Europa e a América do Norte apresentam diminuição nos anos 2000.

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(EcoDebate)

O fato é que as emissões só cairão consistentemente com uma mudança completa no modelo de produção e consumo e o decrescimento demoeconômico. Mas fazer a transição de um modelo insustentável para um modelo sustentável não é fácil como mostra as manifestações dos “coletes amarelos” (gillets jaunes) da França. Evidentemente, este movimento extrapola a questão ambiental, mas o presidente Emmanuel Macron buscou taxar os combustíveis fósseis presumivelmente para possibilitar o abandono da produção e o consumo de energias poluidoras, que emitem muito CO2, até 2050.

O plano incluía o fechamento das centrais de carvão até 2022, além de triplicar a produção de energia eólica terrestre e quintuplicar a fotovoltaica. Mas o descontentamento popular colocou em xeque as políticas do Palácio Eliseu e mostrou que existe muita dificuldade em resolver simultaneamente os problemas econômicos, sociais e ambientais, especialmente diante das altas taxações e da perda de poder de compra da população. Também a greve dos caminhoneiros no Brasil em maio de 2018 foi na contramão do ambientalismo ao reivindicar subsídio para o diesel e para os combustíveis fósseis.

Mas a ameaça mais séria vem de uma aliança de países na COP24 que questionam as conclusões do recente relatório divulgado pelo IPCC, que considera que os esforços para limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5º Celsius exigirá “mudanças sem precedentes” em nível global e que o mundo tem apenas 12 anos para evitar um colapso ecológico. Segundo o Observatório do Clima:

“A Arábia Saudita, maior produtor mundial de petróleo, os EUA, a Rússia e o Kuwait vetaram a menção no livro de regras ao relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) que trata do aquecimento global de 1,5º C. O documento havia sido encomendado pela própria Convenção do Clima em 2015, para avaliar se e como seria viável manter o limite de 1,5º C ao aquecimento da Terra. Sua principal mensagem, apresentada à COP24 pelo painel na última terça-feira, é de que o mundo tem apenas 12 anos para reduzir emissões em 45% se quiser ter alguma chance de ficar nesse limite. Como as decisões na ONU se tomam por consenso, basta um país dizer não para alguma coisa não sair” (10/12/2018).

Desta forma, o grande problema é que o tempo é escasso para reverter os efeitos dramáticos do aquecimento global. Outros autores dizem que o tempo para evitar uma catástrofe climática é ainda mais curto do que indica o IPCC e que a tendência de aumento das emissões de CO2 precisa ser revertida, no máximo, em três anos. A situação é desesperadora. Contudo, cresce a oposição dos céticos das mudanças climáticas que buscam sabotar as metas do Acordo de Paris. No Brasil, o ruralista Ricardo Salles, indicado por Jair Bolsonaro para chefiar o Ministério do Meio Ambiente a partir de 2019, diz que pretende “tirar o Estado do cangote de quem produz” e que a “discussão sobre aquecimento global é secundária”

Todavia, negar a realidade é o mesmo que caminhar com os olhos vendados para o abismo. Como afirmou o importante naturalista David Attenborough, durante a abertura da COP-24, a possibilidade de um colapso ambiental está cada vez mais próxima: “Neste momento estamos enfrentando um desastre de escala global, a nossa maior ameaça em milhares de anos é a mudança climática”. Attenborough completou: “Se não tomarmos medidas, o colapso de nossa civilização e a extinção de grande parte do mundo natural está no horizonte”.

Fonte: Eco Debate

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