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Energia nos confins amazônicos

Energia nos confins amazônicos

Energia nos confins amazônicos

A Eletronorte vai incorporar à sua concessão federal – para o fornecimento de energia em Roraima – os bens e as instalações da Interligação Elétrica Brasil-Venezuela. A autorização foi dada, em 25 de março, pelo Ministério de Minas e Energia. O ministério deu a autorização à Agência Nacional de Energia Elétrica, que a repassará à subsidiária da Eletrobras na Amazônia…

Por Lúcio Flávio Pinto/via Amazonia Real

Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso inaugurou o trecho brasileiro da linha de transmissão de energia (com 230 quilômetros dos 706 quilômetros de extensão total), entre a hidrelétrica de Guri, na Venezuela, uma das maiores do mundo, e Boa Vista, a capital de Roraima.
A Eletronorte foi autorizada a importar da Venezuela 200 megawatts para suprimento à capital e a outros municípios do Estado, que possui mais de 650 mil habitantes. A autorização, por 20 anos venceu em junho do ano passado. Mas a linha já estava inoperante desde março de 2019, quando o governo venezuelano cortou a energia sem dar qualquer explicação ao associado brasileiro na obra.
Como é o único Estado ainda não interligado ao sistema elétrico nacional, Roraima voltou a depender de quatro usinas termelétricas instaladas há mais tempo e de uma nova. Quando a linha de Guri para Roraima foi desligada, seu custo mensal era de 62 milhões de reais. Com as usinas térmicas, a despesa passou a ser de R$ 107 milhões, 70% mais cara.
A portaria do ministério determinou que os contratos existentes de importação e de exportação de energia elétrica com o país vizinho deverão ser encerrados no prazo estabelecido pela Aneel e não poderão ser assinados novos contratos dessa natureza. A determinação é apenas formal, já que a Venezuela não fornece energia há três anos.
Uma solução hidrelétrica é defendida pelas lideranças locais há muitos anos. Seria a hidrelétrica Bem Querer, na bacia do rio Branco. Mas para produzir os 1049 megawatts previstos no inventário, seria preciso alagar uma área com 150 quilômetros de comprimento e área com mais de 500 quilômetros quadrados, maior do que o reservatório da hidrelétrica de Belo Monte, 10 vezes mais potente. A região é muito plana, daí o terrível impacto ecológico, além do enorme investimento. Até agora a obra não foi licenciada.
Assim, não há solução de curto prazo ao alcance da Eletronorte para garantir energia mais barata aos 117 mil consumidores de Roraima, com demanda reprimida de 425 megawatts. O custo dos derivados de petróleo é tão alto que só 22% dele são repassados ao mercado local. 78% são custeados pelo consumidor de todo país.
Mas o negócio é suficientemente apetitoso para uma empresa privada audaciosa. Em fevereiro deste ano, a Eneva foi autorizada a iniciar a operação da primeira unidade, de quase 50 megawatts, da termelétrica Jaguatirica II, com capacidade total de 140,8 MW, em Roraima.
Jaguatirica será a maior das agora cinco usinas de energia do antigo território federal. A capacidade da térmica equivale a quase metade da potência de uma única das 23 turbinas da hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, no Pará.
A usina é movida a gás natural, que é extraído do campo de Azulão, no Amazonas, que passou 20 anos, depois de descoberto, sem exploração, só iniciada em setembro do ano passado. Diariamente, centenas de caminhões percorrem a BR-174, paralela à linha de transmissão, para levar esse gás
Em 2011, a empresa Transnorte venceu a licitação para construir uma linha de transmissão na direção contrária, rumo sul (de Boa Vista para Manaus), quase do mesmo comprimento (726 quilômetros) da que foi aberta na direção da Venezuela, obra de R$ 1,1 bilhão (valor da época).
O contrato caducou porque a linha emperrou ao chegar à Terra Indígena indígena Waimiri-Atroari. Ainda não houve acordo para a passagem pelos123 quilômetros pelo interior da reserva, embora a linha atravesse área já alterada pela rodovia federal.

 
A imagem que ilustra este artigo é de autoria de Emily Costa e mostra o Linhão de Guri, em Roraima.
Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:
lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.
valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.
amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.
cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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julio cesar bonassa de oliveira

Com a construção de belo monte as linhas de traz micção foram dotas construídas de corrente alternada para corrente continua em todo território nacional.

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