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Holocausto ecológico pode causar o fim dos povos originários do Brasil

Holocausto ecológico pode causar o fim dos povos originários do Brasil

Holocausto ecológico pode causar o fim dos povos originários do Brasil

Por Felipe Milanez/Carta Capital

O fascismo de Bolsonaro consiste em inviabilizar a vida das próximas gerações e acabar com os povos nativos dessa terra

Bolsonaro quer matar geral. Liberar armas, fuzil, arrebite na estrada, “violenta emoção”, mais cortes na saúde, fim do Mais Médicos, fim da aposentadoria. Uma agenda da morte. Um cenário de Mad Max.

No Ministério da “Destruição” do Meio Ambiente, temos assistido atônitos a implantação de uma política pública do desastre (e desastres são sempre socialmente desiguais), por meio de um plano de aceleração do holocausto ecológico. Este talvez o mais cruel e violento de todos os projetos do novo fascismo de Bolsonaro: aquele que vai inviabilizar a vida das próximas gerações de brasileiros, promover o colapso ecológico e exterminar tantas outras vidas não humanas.

É o governo da conquistabilidade — a mentalidade da conquista — que honra os bandos de bandeirantes saqueadores como conta a nossa história que quase não está nos livros: invadir, saquear, roubar, matar, espoliar, e botar fogo em tudo o que deixar para trás.

De todos os retrocessos e anti-políticas de destruição da base civilizatória do Brasil, em dois eixos o autoritarismo de Estado de Exceção avançou mais agressivamente nas últimas semanas: contra o Ministério do Meio Ambiente e contra a Educação. Se levarmos em conta que a área de Segurança Pública, chefiada pelo conje Moro, já vivia no Estado de Exceção da política, tanto nos julgamentos da Lava Jato, quanto no genocídio da população negra.

 

Na Educação, com seu guarda-chuva ridículo, o ministro pregou a perseguição a professores, liberdade de cátedra, e até a invasão das universidades e apagamento de livros. Nesse caso, tem sido respondido nas ruas, com grandes mobilizações, luta, enfrentamento de ideias.

Acontece que com relação ao ambiente ainda paira uma certa apatia diante do abismo. A guerra contra a política ambiental que está em curso, com a desestruturação das instituições ambientais, e incitação à rapina e caça (literalmente), tem fluído de maneira desproporcional, com extrema agressividade contra a população brasileira — e mundial — e contra a natureza.

No Meio Ambiente, o ministro agroboy militarizou toda a diretoria: PMs de São Paulo chamados aos cargos de chefias para reprimir e intimidar fiscais e servidores públicos, em mandar a não-agir (como as denúncias de fiscais que não poderiam fiscalizar). Esvaziou todos os conselhos, sobretudo o Conama, liberou agrotóxicos (associado ao Ministério da Agricultura), faz vista grossa para o saque paraestatal dos recursos naturais, como madeira e garimpo e grilagem, rompendo acordos internacionais.

Nesse caos, nem se fala mais em “licenciamento ambiental”, rumo a “flexibilização” para o Capital espoliar ainda mais a natureza, mesmo diante dos escândalos (abafados) das barragens da Vale em Minas, quase todas tremendo prestes a novos crimes e desastres…

Rios, florestas, manguezais, espécies ameaçadas de extinção, santuários marinhos, todo o sistema ecológico nacional entrou na lista vermelha de ameaçados de extinção. Tudo, para facilitar o saque, supostamente contribuir para a “economia” nacional.

É a implantação da política do saque pirata, irresponsável, bandeirante: aquele que saqueia e deixa terra arrasada. Nem sequer a extração de recursos naturais disfarçada de “sustentabilidade”, como foi no neodesenvolvimentismo: é o roubo puro da conquista e do colonialismo. É a aceleração do holocausto ecológico do território rumo ao colapso de onde está o “Brasil”. Impossível imaginar como as próximas gerações poderão viver aqui — cruel pensar no extermínio dos animais e da natureza.

E, no entanto, diante dessa tragédia absurda, o quase silêncio, ainda. Nada nas ruas, nem um cartaz. Mas começam a aparecer algumas agitações políticas (ainda sem manchetes…), muita luta de poucas e boas congressistas (em especial a bancada do PSOL e a primeira deputada indígena, a grandiosa Joênia Wapishana, da REDE), e mobilizações de servidores do Ministério do Meio Ambiente e cientistas comprometidas e comprometidos com a vida. Mas isso é quase nada – ainda – diante do abismo que vivemos.

 

A destruição acelerada da ecologia é a mais urgente das tragédias intensificadas pelo bolsonarismo, pois a tragédia ecológica é a única de todas que o bolsonarismo tem provocado — ou intensificado — que atravessa a vida de todos e todas, pessoas, animais, natureza, a vida em sentido amplo.

Os desastres irão afetar a vida de todas as pessoas, mas de forma desigual. Uma sociologia do desastre expõe as contradições do capitalismo e do colonialismo associadas aos efeitos socioambientais, como a construção social dos riscos, das vulnerabilidades e das desigualdades das comunidades impactadas.

Não pensem que a Amazônia é longe: a destruição ecológica provocada pelo atual ministro do Meio Ambiente, pistoleiro do bolsonarismo, atinge a tudo e a todos, na Amazônia e fora dela. Onde há vida, das Araucárias do Sul às Castanheiras do Pará, tem a caneta do ministro cercando da vida para exploração do capital.

A pauta ecológica, que apesar de regular a vida em sentido amplo da sociedade, ficou restrita nos últimos anos a círculos “ambientalistas” — em diferentes correntes, sejam neoliberais e pró-mercado, eco-modernistas em defesa de nuclear, carbonização da vida e mercados de REDD+, ou sejam conservacionistas. De forma geral, a ecologia da vida deveria ser uma pauta estrutural para superar as desigualdades no Brasil e se imaginar um futuro comum, mas foi um tema capturado pelas elites econômicas e classes médias dos grandes centros.

Discursos tecnicistas, apoiados na ciência Ocidental com suas explicações universalistas, que contribuíram para distanciar as lutas ecológicas das lutas populares e, em certa medida, suavizar a terminologia do momento que vivemos de catástrofe climática. Catástrofe, colapso, repito. A ciência, que sistematicamente silenciou outros saberes, hoje de forma comprometida e ampla alerta para o colapso. Até a ciência, tão legitimada na sociedade, agora é atacada pelo obscurantismo terraplanista bolsonarista. Atacam a ciência não para ampliar os saberes, mas para promover o caos. E no caos, promover o saque.

Até mesmo a Noruega, um dos países mais predadores do mundo, cuja economia é baseada na extração de recursos naturais, poluidora da atmosfera, petroleira, que alimenta seus salmões à base de soja produzida na Amazônia e contamina rios no Pará explorando bauxita, conseguiu construir uma imagem de país “sustentável”, ou então “preocupado” com o meio ambiente. Até essa Noruega reclama de Bolsonaro — mas ainda não ficou nítido se por real compromisso com o Planeta e a vida na Terra, ou por interesses comerciais. Não à toa, sustenta essa desconfiança, foi de onde vieram os recursos para comprar as primeiras licenças de exploração do pré-sal logo após o golpe de 2016.

Não é pela Noruega ou pela escandinavização do ambiente que devemos lutar. Muito menos para “salvar mercados internacionais” que decidem boicotar os produtos da destruição (contraditoriamente, talvez a pauta mais ecológica de Bolsonaro seja via seu chanceler negacionista, cujos erros grosseiros na diplomacia têm fechado mercados que são importantes para a economia do agronegócio, mas destruidores do ambiente).

É pela vida de milhares de pessoas que vivem nesses ecossistemas ameaçados de devastação pelo capital, ambientes de pescadoras, marisqueiras, fundos e fecho de pasto, das periferias secando sem água e os pobres tendo que se alimentar de agrotóxicos cada vez mais agressivos, dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, sertanejos, camponesas e camponeses, sem terra, por aquelas pessoas que tem suas vidas dilaceradas pelo rompimento das barragens, pela seca, e por todas as vidas não humanas que também devem poder viver, porque também têm o direito de existir igualmente aos humanos. Pelos direitos humanos, pelos direitos não-humanos e da natureza.

A luta ambiental não deveria ser vista como a luta de um setor ou de um grupo social específico da sociedade brasileira, mas a luta ampla da sociedade em defesa da vida e da própria possibilidade da reprodução da vida.

O país onde mais ambientalistas são assassinados no mundo parece não ter compreendido que estes ambientalistas não vivem na zona Oeste de São Paulo ou na zona Sul do Rio de Janeiro, mas na Amazônia, no sertão da Bahia, nos manguezais, nas reservas extrativistas, nos territórios coletivos em convívio com a natureza.

Essa dimensão da violência e da luta não está colocada nos atuais debates ambientalistas na imprensa, espaço ainda restrito à pensadores brancos, seja pelo agronegócio, seja pelo “conhecimento científico”, cujas lógicas de seus discursos, resquícios do Iluminismo, são muito parecidas: pensamentos onde o ambiente invariavelmente aparece separado da existência humana, algo que pode ser “manejado” e “explorado”, de forma “sustentável” ou “predatória”, de acordo com a irresponsável vontade acumulativa do capital.

A luta ambiental é uma luta popular e, sobretudo, pelo direito à vida das próximas gerações — de pessoas humanas e não-humanas, animais, plantas e outras formas de vida.

Fonte: Carta Capital


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