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Lula: Quem pensar que eu tenho raiva, vai morrer de raiva

Lula: Quem pensar que eu tenho raiva, vai morrer de raiva, porque eu não tenho raiva. Eu tenho senso de justiça. Não me peçam paciência com Bolsonaro, Moro e Dallagnol

Do UOL, em São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou hoje não ser um homem que sente raiva, mas pediu: “Não me peçam paciência com [Jair] Bolsonaro, [Sergio] Moro e [Deltan] Dallagnol”. Em entrevista transmitida ao vivo no YouTube pelo blog Nocaute, do escritor e jornalista Fernando Morais, ele voltou a atacar o atual presidente, o ministro da Justiça e o procurador da República.

Lula justificou que tem o direito de brigar por Justiça e falou sobre o papel do PT nas próximas eleições e sobre figuras políticas como Ciro Gomes (PDT), a quem disse “guardar as coisas boas”, e Marta Suplicy, a quem deixou abertas as portas do partido.

Sobre a atuação de Bolsonaro, Lula foi duro: “Tô vendo o governo destruir o país. O Bolsonaro fica com essa estupidez, querendo governar com fake news e mentira para todo lado, o [Paulo] Guedes [Economia] aproveita e vai vendendo o Brasil, e o país tá sendo quebrado. Desemprego muito alto, salário muito baixo, acabando com educação e investimento em ciência e tecnologia. Até hoje o presidente não foi ver que barco derramou óleo. É como alguém levar um tiro e você primeiro procurar quem atirou, e não socorrer a pessoa.”

“[Bolsonaro] Não tem coragem de ir lá, de ir ver o desmatamento na Amazônia e no Pantanal. Vocês sabem que sou um cara que perdi muitas eleições, e quando perco aceito o resultado. Mas acho que o PT deveria ter protestado mais na vitória do Bolsonaro, que foi ilícita, foi um roubo aquela indústria das fake news. Mas ele tem três anos de mandato, não cometeu crime de responsabilidade. Mas não me peçam paciência nem com Bolsonaro, nem com Moro e nem Dallagnol. Não é crime querer justiça. Quero recuperar o respeito que ganhei na sociedade brasileira durante a minha vida”, acrescentou ele.

Lula livre ou lula solto?

“Eu na verdade estou solto, só, porque ainda corre o processo”, explicou o ex-presidente. “E o grande processo da minha vida é a anulação. Por que embora não tenha saído com espírito de vingança, mas de justiça, quero provar ao país que quem montou uma quadrilha foi o Moro e o Dallagnol. Como sou cidadão que respeita as instituições, acho que elas têm que cuidar para que não surjam mentirosos e canalhas como eles.”

O coordenador da Lava Jato foi quem sofreu os maiores ataques. “Eu, preso, vi o descarado do Dallagnol ameaçar o Congresso, ameaçar a Suprema Corte. É um moleque desaforado. Eu quero Justiça e Justiça passa por essas pessoas serem punidas.”

Lula acrescentou: “O que quero é que esse país volte à normalidade, para isso o processo tem que ser anulado e o responsável tem que ser punido. Não é possível contar uma mentira, desafio qualquer um deles a provar um centavo de desvio. O que estão tentando transformar em crime são os oito anos de governo Lula, é a passagem do PT pelo governo.”

 

Paz e amor?

Lula teve momento mais “paz e amor”. “Não temos de fazer o jogo rasteiro que eles fazem. Senão não politiza a sociedade. Contra a raiva deles, devemos vender sorrisos, falar mais de amor, mais de humanismo, o ser humano tem que voltar a ser humano”, disse ele.

“Um cara com 74 anos apaixonado fica pronto pra guerra. Em qualquer nível, qualquer guerra (risos). Eu tô bem, tô bem na política, tô bem no meu namoro, no meu futuro. Sou um cara que pensa grande, quem pensa pequeno morre cedo”, falou o ex-presidente, acrescentando. “Não fale que tenho raiva. Eu grito por causa da eloquência. Quem pensar que eu tenho raiva, vai morrer de raiva, porque eu não tenho raiva. Eu tenho senso de justiça.”

Mesmo na prisão, o petista afirmou que tentava controlar os momentos de maior pressão. “Eu tava tão nervoso lá dentro, e tentei me dominar para não deixar o ódio tomar conta da minha cabeça. Toda vez que eu ficava nervoso, eu pensava: ‘O povo tá pior do que eu’.

Lula também falou sobre soluções e defendeu a polarização que o PT faz com os bolsonaristas. “A solução é fácil, é só colocar o pobre dentro do orçamento. Um prato a mais de comida pro pobre, um chinelo a mais pra criança, um livro a mais, isso que vai fazer as pessoas crescerem.”

E adicionou: “O PT nasceu grande. Falaram que o PT vai polarizar. Se não tiver um partido que quer polarizar, não tenha partido. O PT nasceu para polarizar. Vamos polarizar em 2022, essa é a nossa sina. Polarizar e ganhar, para provar que somos capazes de governar melhor que eles.”

Eleição municipal, Marta e Ciro

Lula foi questionado sobre alianças e apoios em eleições municipais, e mostrou que não planeja reduzir espaços do PT, pelo contrário. O ex-presidente defendeu que o partido tenha candidaturas próprias nas principais capitais – citando São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre – , até para que o PT tenha um bom tempo de TV para promover seus vereadores.

“Um partido sem candidato não tem condição de se projetar. Não sou contra apoiar (Marcelo) Freixo, fazer aliança. Mas acho importante ter candidato, para divulgar as teses do partido. As pessoas têm que ter candidaturas competitivas. Se tem candidatos melhores que os seus, tudo bem. Mas não têm. No Rio, por que o PT não lança um candidata do porte da Benedita (da Silva)? A Benedita é um quadro que considero extraordinário. Por que não pode ser candidata? Se ela não for (para o segundo turno), ela pede voto pro Freixo, e se ele não for, pede para ela”.

Lula deixou abertas as portas para uma volta de Marta Suplicy. “O PT é grato, eu sou grato por tudo que a Marta fez pelo PT. Fiz dezenas de reuniões na casa da Marta, gravando programa naquela sala, com aquela criançada. Ela ainda nem era do PT, era uma sexóloga famosa. E depois foi a melhor prefeita de São Paulo. Se quiser voltar ao PT, da mesma forma que saiu, ela pode entrar.”

E mordeu e assoprou Ciro Gomes, que vem o atacando em entrevistas. “Tenho respeito pelas pessoas, fico sempre pesando as ofensas que o Ciro Gomes faz e as coisas que ele fez no meu governo. E prefiro ficar com as coisas boas. Dizem que ele é destemperado, eu não preciso ficar com isso, eu sou grato por ele”.

“Quando foi eleito deputado, ofereci a ele a presidência do BNDES”, relembrou Lula. “O Ciro não é o homem do debate político, ele é o homem de uma verdade só, que é a dele, não dá pro parlamento. Não quis. Agora, no segundo turno do Haddad, ele foi embora pra França. Fomos nós que criamos caso? Ele escolheu ir pra Paris no segundo turno e xingar o povo que votou no Haddad e não nele.”.

Brincadeira com astronauta e defesa da Constituição

Lula também mostrou bom humor ao criticar quem acredita que a terra é plana, citando Marcos Pontes, ex-astronauta e hoje ministro da Ciência e da Tecnologia. “O Bolsonaro tem um astronauta no governo. Esse astronauta tem obrigação de avisar o Bolsonaro que o Olavo de Carvalho tá mentindo e que a terra não é plana. Ele tem que dizer que a terra é redonda, ele viu de lá de cima, tirou foto”, riu o ex-presidente. E defendeu a constituição, atacando a elite brasileira. “A Constituição não é um papel apócrifo que você pode jogar fora a qualquer momento. Existe uma elite conservadora que hoje enxerga a Constituição como um atraso para para o país. Espero que o Congresso tenha a grandeza de não derrubar a prisão após trânsito em julgado.”

 

 

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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