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Malala encontra jovens mulheres indígenas em Salvador

Malala e as jovens mulheres indígenas: uma única luta pela educação e empoderamento feminino

POR VANESSA PATAXÓ

Em encontro com Malala, mulheres jovens indígenas da Bahia contam a realidade da educação para os povos e somam força para empoderamento feminino. Malala esteve em Salvador na última terça-feira (10).
Malala
Na última terça-feira (10), Malala Yousafzai esteve em Salvador (BA) para encontrar-se com jovens indígenas. Foto: Rutian Pataxó

A educação é uma das pautas constantes do movimento indígena nacional. Contudo, nos últimos dois meses o Brasil ganhou força e fez ecoar a temática sobre o direito humano e contra as desigualdades que marcam a educação brasileira. A luta por um ensino de qualidade, específico e que respeite e valorize as práticas culturais retumbou nos campos universitários de todo o país contra os cortes propostos pelo Ministério da Educação no Bolsa Permanência. Hoje, nossa luta se junta com a luta de Malala Yousafzai.

Na última terça-feira (10), a paquistanesa prémio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, esteve em Salvador (BA) para encontrar-se com jovens mulheres indígenas.  Mesmo que em continentes distintos e sob ameaças diferenciadas, são muitas as semelhanças que existem no caminho das indígenas e muçulmanas que desejam estudar. Com Malala, somamos forças pelas implementações de políticas públicas, pela assistência estudantil, e principalmente para nós enquanto mulheres indígenas, para o nosso movimento pela ocupação nos diferentes espaços, empoderamento de novas lideranças mulheres.

“E o meu objetivo é sempre alcançar as áreas onde o apoio é mais necessário”

“As comunidades indígenas representam 0,5% da população, mas representam 30% dos que estão fora da escola ou são analfabetos. Então existe necessidade de apoio”, afirma a Malala em uma rede social. Segundo a Fundação Malala, no Brasil são 1,5 milhão de meninas fora da escola, com alta quando se trata de comunidades indígenas e comunidades afro-brasileiras.

Malala
“O meu objetivo é sempre alcançar as áreas onde o apoio é mais necessário” Malala. Foto: Rutian Pataxó

Enquanto a ativista para educação corre o mundo com mensagens sobre a diversidade de gênero, credo e pluralidade em salas de aula, no Brasil as políticas sociais para educação correm riscos. “O encontro com Malala mostra para o governo que enquanto ele quer tirar a educação dos povos indígenas, ela está trazendo incentivo internacional. Mostra para eles que é preciso investir e não tirar a educação dos povos”, afirma Uhitwe Pataxó, mãe de umas das indígenas que conversou diretamente com a líder mundial.

Malala é exemplo vivo de superação, garra e força feminina. É incentivo às nossas lutas constantes pela permanência nas universidades.

O mundo conheceu Malala em 2012, quando a adolescente de 15 anos na época foi baleada por radicas Talibã ao sair da escola. O grupo é contrário à educação das mulheres. Malala foi perseguida por se evidenciar na luta pelo direito à educação das meninas no Paquistão.

MalalaA fundação que leva o nome de Malala irá contribuir na formação de estudantes indígenas da Bahia. Foto: Rutian Pataxó

Em visita a Salvador (BA), Malala se encontrou representantes indígenas para dialogar e conhecer de fato suas histórias, dificuldades  e conhecer as estudantes que irão se participar do projeto financiado por ela. A fundação que leva o nome de Malala irá contribuir na formação de estudantes indígenas da Bahia. Na ocasião, a ativista enfatizou a importância de ouvi-las, ter esse contato direto, saber as opiniões, as histórias de luta e a situação da educação nas suas comunidades.

Educação e Povos Indígenas
“Para os povos indígenas a educação é uma arma muito importante. A educação é como arma para lutar contra as adversidades, contra a retirada de direitos”, afirmou Rutian Pataxó, que também esteve presente no encontro.

“Usamos o conhecimento para ir contra retirada de direitos conquistados” – Rutian Pataxó

As escolas indígenas têm o papel político e social fundamentais nas comunidades. Contribui e incentiva a valorização da cultura, formação de lideranças jovens e na inserção nas universidades. Promove o empoderamento das estudantes indígenas, principalmente meninas que vem da base, das escolas indígenas. A presença de Malala em uma conjuntura onde nossos direitos à educação estão ameaçados por cortes do Ministério da Educação faz ecoar ainda mais o movimento Permanência Já. Possibilita maior  visibilidade para a educação indígena e fortalece a importância das políticas públicas de educação para os estudantes indígenas.

“A presença da Malala agrega bastante no nosso movimento estudantil, porque ela trouxe visibilidade para nossas lutas que são de bastante tempo”, afirma Thays Pataxó. “Ela deu um olhar especial para a nossa base, as escolas indígenas e principalmente para aquelas que estão nas comunidades. Sua sensibilidade com as meninas indígenas é muito importante por promover o empoderamento dessas estudantes”.

MalalaMalala recebeu adornos e objetos indígenas. Foto: Rutian Pataxó

São lutas que se assemelham e somam na resistência. “Ela traz a luta pela educação. Sua trajetória é trajetória a ser espelhada. Tem um brilho no seu olho quando fala sobre educação de meninas”, comenta a estudante. Nas redes sociais, Fundação Malala publicou uma foto da ativista com as meninas indígenas afirmando: “Para muitas meninas indígenas no Brasil, a jornada para a escola é quase maior do que o próprio dia letivo – e enfrentar a discriminação dificulta ainda mais a permanência na escola”, descrevia a publicação.

“É um incentivo para continuar minha luta enquanto mulher indígena” Thays Pataxó

Ao ouvir a parente Tânara Pataxó Atikum, representante do colégio Estadual indígena Pataxó de Coroa Vermelha, notava-se o entusiasmo da estudante ao relatar o encontro com Malala. “Eu me senti honrada de estar com ela por conhecer sua luta pelo direito das meninas estudarem”, comentou Tânara. “Ela nos fez perguntas sobre a nossa educação, nossas escolas. Foi onde me dei conta que nossa história se assemelha com a dela. Também batalhamos pelos direitos e pela igualdade nas questões educacionais”, sustentou a jovem indígena de 15 anos. “A conversa com ela só fortaleceu minha vontade de querer está em uma Universidade e passar esse conhecimento para a comunidade, para as meninas”

ANAI e o Fundo Malala
A visita de Malala a Salvador firmou uma parceria entre a Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAI) e o Fundo Malala. A ANAI será umas das primeiras na América do Sul a integrar a Rede Gulmakai, que destina recursos do fundo criado pela paquistanesa ganhadora do Nobel da Paz na formação de meninas.
Rutian Pataxó, que também fez parte da construção do projeto, ressalta que a parceria contribuirá para políticas de empoderamento feminino, ainda assim respeitando a educação diferenciada dos povos. “O projeto com o Fundo Malala, tem a intenção de empoderamento dessas meninas de 14 a 17 anos, no sentido de fazer que essas meninas possam ter um leque de opções, que esse leque possa fortalecer”, lembra a estudante de Direito. “O projeto trabalha para que elas possam se tornar lideranças na busca por uma educação diferenciada de qualidade, bilíngue que possa respeitar as nossas ancestralidades, respeitar a nossa cultura, esse é o principal objetivo do projeto”.

A Anaí é uma organização de direito privado, sem fins lucrativos, com sede em Salvador, Bahia, criada em 1979 e formalizada em 1982 para discutir e promover alternativas de relacionamento mais justo entre a sociedade brasileira e os povos indígenas no país.

“Essa parceria mostrará que as meninas indígenas podem continuar sua educação. Encorajará a não desistir, e também fazer com que o governo, tanto o federal quanto o municipal, invistam mais no ensino médio nas comunidades indígenas”, ressalta Uhitwe Pataxó, liderança indígena e que iniciou os estudos aos 45 anos. “A maioria dos jovens indígenas desiste porque não tem o ensino médio na comunidade. Estudam só o ensino fundamental e param por não ter condições de ir até uma cidade vizinha ou um local mais próximo que tenha um ensino médio”, comenta.
ANOTE AÍ

 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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