O mundo encolhe
Vou andando pelas pegadas
daqueles que já se foram.
Estou perdida.
Por Eduardo Galeano
Hoje [21 de fevereiro] é o dia das línguas maternas.
A cada duas semanas, morre um idioma.
O mundo diminui quando perde seus humanos dizeres, da mesma forma que encolhe quando perde a diversidade de suas plantas e bichos.
Em 1974, morreu Ângela Loij, uma das últimas indígenas onas da Terra do Fogo, lá no fim do mundo; e a última que falava sua língua.
Ângela cantava sozinha, cantava para ninguém, nessa língua que ninguém mais lembrava:
Vou andando pelas pegadas
daqueles que já se foram.
Estou perdida.
Nos tempos idos, os onas adoravam vários deuses. O deus supremo se chamava Permaulk.
Permaulk significa palavra.
Eduardo Galeano em “Os Filhos dos Dias”, Editora E&PM, 2a edição, 2012.
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