O pequi (Endocar brasiliensis) é um fruto silvestre típico do Cerrado, com ciclo produtivo de novembro a fevereiro. O nome pequi é de origem indígena, vem do Tupi e significa fruta espinhenta (“py”, casca, pele, e “qui”, espinho). O sabor marcante, inconfundível e inesquecível do pequi reforça os valores da tradição entre as populações do Cerrado.
Na gastronomia Cerratense, o pequi tanto é usado em pratos como pequi puro, pequi com arroz, pequi com frango, ou na produção de sobremesas e licores. No interior do Brasil, muitas famílias agricultoras usam o pequi também para a produção de sabão caseiro. Embora com menos frequência, as sementes também são utilizadas para a produção e óleos e essências.
O pequizeiro é uma árvore frondosa. Quando adulta alcança entre 12 e 15 metros de altura. Seu tronco sinuoso e grosso chega a 2 metros de circunferência. Os frutos de cor verde-amarelada trazem até 4 sementes, protegidas por milhares e espinhos. A massa volumosa de cor amarelo-dourado-laranja forte que envolve as sementes é a parte mais usada na gastronomia do Cerrado.
Foto: autoria desconhecida
O perigo do pequi é o espinho. A experiência de um espinho de pequi na língua é dolorosa e inesquecível, dizem. Quem já passou pela experiência tem sempre uma história pra contar, e não costuma ser das boas. Então, pra muita gente, espinho de pequi só serve pra encrencar os incautos.
Na natureza, porém, o espinho de pequi tem um papel fundamental. Sua função é proteger o embrião do fruto, que fica na amêndoa protegida pelos espinhos. Como o fruto é saboroso e muito apreciado pelos animais dispersores de sementes, como a anta, a capivara, o lobo guará, a paca, a preá, o rato do campo que, por conta da proteção natural, comem só a polpa e, assim, preservam as sementes e o destino dos pequizeiros.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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