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O fogo da macambira na Caatinga

O fogo da macambira na Caatinga

A macambira (Encholiriumspectabile Mart. ex Schult. f.), também conhecida como macambira-de-flecha, é uma espécie endêmica do Brasil que pertence à família bromeliaceae. Encontra-se distribuída na região semiárida do Nordeste, principalmente em afloramentos rochosos e áreas de caatinga mais preservada.

Por Eduardo Henrique

Esta bromélia possui significativa relevância socioeconômica e ambiental nas regiões brasileiras onde as chuvas são mais escassas. Prova disso é sua intensa utilização para alimentação animal no período seco, quando o sertanejo não possui outras fontes de alimento para seu rebanho, ou até mesmo na alimentação humana, como mostram as histórias das grandes secas.

Assim, existem duas formas comumente utilizadas no Semiárido brasileiro para fornecimento de macambira aos animais: uma delas é a extração seletiva manual com facão apropriado, e a outra é a queima de suas touceiras no ambiente natural. Esta última, por sua vez, causa danos irreparáveis ao ambiente.

Na extração manual da macambira o trabalho é mais árduo, porém, se bem manejado, permite a rebrota nos anos seguintes. Por outro lado, o uso do fogo destrói vastas áreas de touceiras da planta que levam séculos para se formarem.

Além disso, o fogo atinge outras espécies da flora e diversos animais componentes da fauna da Caatinga que se beneficiam do ambiente inóspito aos predadores proporcionado pelas margens aculeadas da macambira.

Um dos grandes desafios no Semiárido é utilizar os recursos naturais de forma sustentável, garantindo renda digna às famílias ao mesmo tempo em que se preserva o meio ambiente. Dessa forma, faz-se necessário buscar alternativas que permitam essa harmonia na interação ser humano-ambiente.

Assim, tendo em vista a importância da criação de animais no Semiárido, uma das formas de evitar problemas ambientais causados pela queima das macambiras é a utilização de métodos de conservação de plantas forrageiras, como a fenação e ensilagem, que são utilizados em diversas partes do mundo em que a disponibilidade de alimento para os animais é abundante apenas em pequena parte do ano.

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!


 

 

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