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Daniel Matenho Cabixi, encantado do povo Pareci

Daniel Matenho Cabixi, encantado do povo Pareci

HOMENAGENS

Daniel Matenho Cabixi, primeiro escritor Indígena que junto com o Ancião João Garimpeiro, lutaram e conquistaram a demarcação de mais de um milhão de hectares para a Nação Indígena Pareci Haliti, e que hoje está sendo invadido pelas lamas do Agronegócio. Daniel Cabixi foi fundador e mentor do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena em 1992.

Angello Silveira/Indios em Foco

Nossa homenagem ao grande líder indígena, político e intelectual matogrossense. Daniel Matenho Cabixi, (in memoriam) líder do povo Pareci e do movimento indígena. Daniel, juntamente com outros líderes, como Nelson Xangre, Lourenço Bororo e outros, foi um dos pioneiros na mobilização de lideranças para realizações das assembleias de chefes indígenas. É lembrado como uma das lideranças de fundamental importância na organização do movimento indígena e na visibilidade do indigenismo para a sociedade nacional. Defendia bravamente que o Brasil é um pais onde se vive povos diferenciados, com suas especificidades e características próprias, com línguas, crenças, culturas, saberes e tradições milenares, que clama pelo direito de ser diferente habitando seus territórios tradicionais.
Daniel foi órfão de pai, esteve no internato de Utiariti (MT), estudou até a sétima séria, esteve no Lar do Menor em Diamantino. Voltou em 1972 para o convívio com seu povo, articulando a luta com apoio da Missão Anchieta e da Operação Anchieta. Destacava-se como uma das principais lideranças na defesa dos direitos dos Povos Indígenas e na organização do movimento indígena, participando diretamente nas lutas por direitos. Em 1985 ingressou na Fundação Nacional do Índio (Funai) como professor. Foi coordenador do órgão indigenista em Tangará da Serra (MT) e coordenador de assuntos indígenas no estado do Mato Grosso nos anos de 1988 e 1989. Daniel marcou sua época como uma das grandes lideranças indígenas deste pais. Ao Povo Pareci e seus Familiares nossa gratidão pelo aprendizado que Daniel deixou em seu legado. Seus sonhos se tornam os nossos sonhos. (Índios em Foco)

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 
 
 
 
 
 
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