Melodia, Pérola Negra: Homenagem a Luiz Melodia –
Por Gustavo Dourado –
Adeus, Luiz Melodia
Pérola Negra da canção
A Juventude Transviada
Com saudade e emoção
Despede do grande artista
Que tocou nosso coração
Nasceu no Morro do Estácio
No dia 7 de janeiro
Em 1951
Veio ao mundo por inteiro
Sambar e dançar no palco
No bom ritmo brasileiro
Filho de Oswaldo e Eurídice
Afinidade musical
Viola de 4 cordas
No período inicial
Abandonou o ginásio
Seu lance era cultural
Jogava bola na favela
Tempo de adolescência
Dança nas rodas de samba
Pulsava a sua essência
Festas e shows de calouros
Despertava a consciência
Os Filhos do Sol e os Instantâneos
Bandas onde ele tocou
Jovem Guarda e Bossa Nova
O seu coração pulsou
Foi uma boa influência
Ao samba ele sempre amou
Tipógrafo, vendedor, caixeiro
Sublime compositor
O seu pai era boêmio
Artista e estivador
Melodia herdou do pai
A verve do cantador
Jazz, soul, Billie Holliday
Romance e crítica social
Elogio de Torquato Neto
Deu impulso cultural
Subversivo do samba
O morro foi seu quintal
1973
Primeiro disco lançou
Aos vinte e dois anos
Seu nome se consagrou
Comparado a Noel Rosa
Pixinguinha abençoou
Samba, choro, rock, blues
Em sua arte misturou
Pagode, forró, foxtrote
No violão dedilhou
Congênito, Mico de Circo
Com cadência ele criou
Melô nos anos Oitenta
Um bom reconhecimento
Festivais internacionais
Deram voz ao seu talento
Em os discos Nós e Claro
Luz, Luiz em movimento
Negro Gato, Bossa Nova
Torquato, Wally Salomão
Samba, jazz e iê, iê, iê
O rock em profusão
O toque da Tropicália
Com Gal Costa inovação
Estácio, Morro do São Carlos
A expressão musical
Artista reconhecido
De padrão universal
Tocou na Suiça e França
Voz em Pecado Capital
Estácio Holly Estácio
Alto passo da canção
No trago fez o seu traço
No paço do coração
Com o amor da morena
Deu luz à composição
Magrelinha e Ébano
Do mestre compositor
Um criador de talento
Genial como cantor
Gentileza e doçura
No Estácio brotou flor
No Largo do Estácio a arte
O morro em ebulição
Foi do time de Cartola
Melodia um vulcão
Com Gal e Maria Bethânia
Fez sua transmutação
Luiz Carlos dos Santos
O luminoso Melodia
Era torcedor do Vasco
Sambava com maestria
Inspiração nas mulheres
Amava a terra da Bahia
Pérola Negra em Fatal
Gal com o seu cabelão
A influência hippie
Dedilhar do violão
Arte a todo vapor
Melodia em explosão
Parceria com Renato Piau
Com muita gente apresentou
Alcione e Cássia Eller
Com Caetano cantou
Fez parceria com Gil
Melodia grande show
Melodia no compasso
De alta composição
Luminar da MPB
Luzeiro da criação
Farol da boa música
De elevada criação
A Voz do Morro, Gente Humilde
Ao povo ele sempre amou
Estação Melodia, Relíquias
Cheio de graça nos legou
Ele fez biscoito fino
Boa obra arquitetou
Juventude Transviada
Novela Pecado Capital
Codinome Beija-Flor
O Dono do Mundo global
Foi casado com Jane
Pai de Iran e de Mahal
Foi indicado ao Grammy
Teve vasta parceria
Zeca Pagodinho, Zezé Motta
Fez samba com maestria
Macalé e Luciana Melo
Musical em sintonia
O último disco foi Zerima
Céu em Dor de Carnaval
O canto da emoção
Um artista universal
Luiz Melodia estrela
Multiversom musical
Ouvir Vale Quanto Pesa
A dor de Farrapo Humano
O sonho de madrugada
O sabor do desengano
Fadas, em Mico de Circo
Melodia, grande arcano
Chora o surdo na favela
Samba em luto e dor
Melodia deu seu toque
Nos deixou paz e amor
Grande artista do Brasil
Eterno compositor.
ANOTE AÍ
Gustavo Dourado é um dos maiores poetas-cordelistas do Brasil. Sua excelente e extensa produção literária pode ser encontrada em www.gustavodourado.com.br/cordel.htm. Gustavo é também presidente da Academia de Letras de Taguatinga.
www.gustavodourado.com.br
https://xapuri.info/x-do-problema-noel-rosa/
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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