Cordel para Glauber Rocha

Por: Gustavo Dourado – homenagem

nos 79 anos do nascimento de Glauber

Glauber Rocha é arquétipo:
Do Cinema Brasileiro…
Crítico, ator, jornalista:
Cineasta por inteiro…
Porta-voz do Cinema Novo:
Consagrado no estrangeiro…

Nasceu em Vitória da Conquista:
No alto sertão baiano…
Tinha verve condoreira:
Cinema em primeiro plano:
Castro Alves em sualma:
Foi poetás soberano…

Ano 1939:
14 de março o dia…
Glauber de Andrade Rocha:
Iluminou-se na Bahia…
Mahatma do pensamento…
Gênio da cinemagia…

Melhor Direção em Cannes:
Com o filme ’O Dragão’…
Glauber Rocha condoreiro:
Vate da trans.mutação…
Deus.Diabo trialético:
Deu voz ao nosso Ser tão…

Pátio, A Cruz na Praça:
Terra em Transe, Barravento…
Leão de Sete Cabeças:
Câncer, Claro, sentimento…
História do Brasil constante:
Eldorado em moviemento…

Movimento do Cinema Baiano:
Cine-realizador…
Performático- dramaturgo:
Roteirista e escritor…
Atuou na produção:
Brilhou como diretor…

Deus e o Diabo na Terra do Sol:
Marco do Cinema Novo:
Glauberrantencantador:
Traduz a língua do Povo…
Revôolução Quinematográfica:
Glauber Rocha sempre novo…

Revisão Crítica do Cinema Brasileiro:
Cinemais literatura…
Politíca… econhecimento:
Lutas, conflitos, ternura,
Glauber falava com Deus:
A lingua.gen da Lou-cura…

Letícia e Mossa no Marrocos:
Super-Paloma; Tatu-Bola…
Vento D´Este… Rei dos Milagres:
Jorjamado fez escola…
Viagem com Juliet Berto:
Cabeças Cortadas, degola…

Cangaço, ser-sub.ver.são:
Crítica ao Neocolonialismo…
Oralidade.Imagetica:
Folclore-Nacional ismo…
Manifesto Estética da Fome:
Anti-imperialismo…

CineCiência…Cordel:
Riverão Sussuarana…
Rosa, Graça e Rosselini:
Religiosidade baiana…
Flui em Idade da Terra:
A viagem glauberiana…

Colonial ismo cultural hollywoodiano:
Estética do Sonho, perman ente…
Descolonialismo tecnológico:
Glauber críticonsciente…
Lampião-CorisConselheiro:
Em Glauber clarievidente…

In fluência de Getúlio Vargas:
Multis, nacionais em cena…
A corrupção da mídia:
Captou com a sua antena…
Cordel-Kinema-poiesis:
Desde o tempo de Helena…

Lúcia, mãe ambilíssima:
Deu luz ao grã diretor…
A verve glauberiana:
Ela com Adamastor…
Deus asas ao criativo:
Glauber vate sol condor…

Paloma seguiu o pai:
Faz cinema de primeira…
Daniel, Padro Paulo, Erik:
Cineaerte candeeira…
Ava Pátria Índia Yracema:
Quintessência brasileira…

Glauberrando quinemagia:
Glauber ser clarivivente…
Glaubespírito antropicarte:
Glaubeletro-louconsciente…
Criautor de Pyndorama
Socyal Kaosmovidente…

Glaubrilhante primaverão:
Lampião Nordestern oxente…
Universol do Sertão
Universer reiluzente…
Glaubaianagô – Oxossi:
Glaubebendo o solardente…

Glaubeternu vanguartista:
GlauBrasilibert.ação…
Cangaceiro – repentista:
Cinema novo em ação…
Internacionarte plena:
Glaubérrima Revôolução…

Glauber Rocha fez a síntese:
Trans.posição da linguagem…
Cinemagia sertânica:
Cosmo.visão da mensagem…
Deus e o diabo presentes:
Na alquimia da imagem…

Gustavo Dourado

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ANOTE AÍ:

Gustavo Dourado é um dos maiores poetas-cordelistas do Brasil. Sua excelente e extensa produção literária pode ser encontrada em www.gustavodourado.com.br/cordel.htm.  Gustavo é também presidente da Academia de Letras de Taguatinga.

Foto do Gustavo Dourado: dzai.com.br

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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