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Lurian: Meu pai fica dolorido com todo esse ódio

Lurian Lula: Meu pai fica dolorido com todo esse ódio 

Em 2 de abril de 2015, Fernando Britto reproduziu no Tijolaço entrevista do jornalista Leandro Resende em O Dia com Lurian Cordeiro Lula da Silva, a filha mais velha de Lula, com o seguinte comentário:

Muito interessante e de grande valor humano a entrevista publicada hoje no jornal O Dia, do Rio de Janeiro, com a filha mais velha do ex-presidente Lula, Lurian Cordeiro da Silva. Ela e os irmãos , os filhos do Lula, são sempre acusados de terem fortunas e carregam, o estigma de uma condenação ”antecipada” por tudo.

Se calam, são culpados de qualquer coisa – de mansões a jatinhos imaginários, tirados de qualquer fotografia da internet. Se falam, geram uma polêmica que, depois, não têm meios para travar e em tudo o que disserem será vista uma suposta orientação do pai para que o façam.

É legal ver alguém que foi pessoalmente atingida pela baixaria da política, como ela foi naquele depoimento sórdido de sua mãe, Miriam Cordeiro, exibido em 1989 por Fernando Collor, entender que a política não pode ser regida pelo ódio e exige sentar para o diálogo.

O título, é claro, “puxa” por uma frase não dita (“Se for preciso, Lula volta”) mas certamente contida naquela que foi dita: “Se não tiver um nome construído, ele vai“.

– Aguenta o tranco: a voz mudou, o cabelo e a barba caíram, mas a essência não mudou.”

Parte das perguntas do jornalista e das respostas de Lurian continuam atuais e, por essa razão, as publicamos a seguir:

O DIA: Qual sua avaliação do governo Lula?

LURIAN: Nunca antes na história desse país tanta gente se tornou igual. O governo do meu pai resgatou a autoestima do povo brasileiro.

Como ele vê os escândalos de corrupção?

Ninguém gosta de nada negativo. Sinto que ele fica dolorido por esse ódio. Isso mexe com ele e todos nós. É aquela coisa do pai que deu tudo, e é visto como maldito. Não é querendo mérito, a ingratidão é diferente. E foi nos governos do PT que mais se investigou corrupção. E são escândalos que começaram antes.

Você já morou e trabalhou em Santa Catarina e São Paulo. O que Maricá tem de diferente?

Paz e respeito. A cidade me respeita. Não é a filha do Lula que está ali, é uma pessoa normal. Em Maricá, consigo sair sem maldade. Maricá me dá liberdade.

Essa insatisfação contra o PT te tornaria um alvo numa campanha?

Em Maricá e Niterói, não, mas muita gente do Sul me ataca nas redes sociais.

Pela abertura da ONG Rede 13, em Santa Catarina? Nas redes sociais, te acusam de ter enriquecido com dinheiro público.

A Rede 13 foi criada para disseminar o programa ‘Fome Zero’ em Santa Catarina. Trabalhei como voluntária, nunca teve dinheiro. Queria muito saber onde está a conta e a senha desse dinheiro que dizem que tenho. O ônus da prova não cabe mais a quem acusa, e ninguém prova nada.

Já vi propaganda de um terreno “ao lado da mansão da filha do Lula”. Absurdo, nunca tive cartão corporativo. Paguei a vida toda por ser filha de alguém.

Por que o estigma da corrupção colou tanto no PT, mais do que nos outros partidos?

Há uma manipulação de massa para isso não ser desvinculado do PT. O Mensalão é ‘Mensalão do PT’. O ‘Mensalão do PSDB’ é chamado de ‘Mensalão Mineiro’, por exemplo.

É só culpa da mídia? O PT não tem nenhuma responsabilidade sobre esses escândalos?

Não. Se eu digo que tem, coloco toda a culpa da corrupção do mundo no PT, e isso não é verdade. As pessoas ficam indignadas quando Dilma diz que não sabia dos desvios, ou o Lula fala isso. Daí, as pessoas dizem: mas eles tinham que saber! Veja aquele caso da menina que matou os pais: ninguém sabia melhor dela do que seus pais, e foram apunhalados. Imagina se você vai saber o que se passa dentro de um gabinete, com uma pessoa que as vezes você não tem a menor relação. Não se pode culpar alguém pelo que uma outra pessoa fez.

Mas se a pessoa é o gestor, nesse caso o presidente da República, não tem que saber?

Se foi omisso até o ultimo instante, e a pessoa será pega como todo mundo diante da traição, então você não sabia. Parto do princípio que todos são inocentes. Se não, se acharmos que todos irão trair, ninguém faz nada.

O ‘Mensalão’ jogou o governo Lula nas cordas e chegou a ameaçar sua reeleição. Nada perto da proporção que o escândalo de corrupção na Petrobras está fazendo com o governo Dilma, por exemplo. Por que?

O fato de Dilma ser mulher vulnerabiliza muito ela. A porrada vem muito mais forte. Quando ela teve câncer, por exemplo, vinham perguntar se ela estava de peruca. E tinham todo zelo com o José de Alencar. É um abuso, gostando ou não dela. Mas Dilma já passou por coisas muito piores do que um milhão de pessoas na rua, já passou por tortura. Ela sente o momento, mas se sente pior ao ver que outros estão sentindo mais do que ela.

Que avaliação você faz da campanha de 2014?

Eu posso falar mais do que todo mundo e, sem dúvidas, de que essa campanha foi pior do que a de 1989. Lá, você teve um candidato que atacou e expôs na mídia uma intimidade do outro. E isso fez muita gente deixar de votar nele. Agora, nessa eleição não teve nada de pessoal, é ódio puro, de graça. As pessoas brigaram, não pode mais andar de vermelho…

Agora, como foi para você aquele dia em que o Collor exibiu um depoimento da sua mãe dizendo que o Lula a tinha incentivado a abortar uma criança que, na realidade, era você? O que passou pela sua cabeça?

A gente sabia que ia passar aquele depoimento, porque uma assessora do Collor deixou a campanha dele quando soube dessa baixaria. Na hora em que minha mãe entrou no ar, o Ricardo Kotscho (assessor de imprensa do Lula) veio me buscar e me “escondeu na casa dele. E as pessoas não queriam saber se era uma menina de 15 anos, queriam vir atrás de mim…

E depois disso? Como ficou sua relação com sua mãe?

Dois anos sem falar com ela. Eu não sei lidar com mentira nem com baixaria. Era criada pela mãe da minha mãe, e ela, quando viu aquilo na TV, disse “nossa, mas não foi nada disso que aconteceu…”. O problema, depois, é explicar para o mentiroso que aquilo ali tudo é mentira. Eu já conhecia minha história.

E anos depois, o mundo dá voltas, seu pai como presidente abraçou o Collor como senador.

Eu nunca falei isso pro meu pai, mas não teve cena mais prazerosa do que ver ele (Collor) se referir ao Lula como “presidente”. Não há prazer maior de ver o Collor, o homem que saiu pela porta dos fundos, ter que chamar de presidente o homem que foi aclamado pelo povo quando deu a faixa para Dilma. Dizem que vingança é um prato que se come frio… Não é vingança, sabe? É justiça.

Hoje, é correto dizer que o PT está em crise?

Não é isso. O partido precisa se reconfigurar e se defender de todo esse ódio, tem que sair da zona de conforto. Bater no peito e dizer: sou petista mesmo. Tem que ir para rua.

Fonte: tijolaco

 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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