MANTILHA
Por Marcilio Godoi
O tempo está cosendo o manto
com o qual um mártir deixará a prisão.
Não é capa de herói, asas de anjo
impermeável capotão ou escudo.
Não encobrirá nada, nada
ao estilo de generais prussianos
pois que sua pele, sua prole
sem dinastia ou coroa nada pedem
como tratos de príncipes ou ritos
de majestade mortificada.
Está mais para o mantô de Arthur Bispo do Rosário,
que não era imperador, mas gente de pessoa.
E será o seu manto de apresentação:
sobreveste bordada com zêlo
sem os estereótipos do estilo
e já sem vaidade alguma
em linhas desfiadas de passagens
tiradas de sua própria biografia.
Poder-se-ão ler ali escritas
em seu forte poncho indígena
sagrado, consagrado por vias
não eclesiásticas, brasilatinas,
palavras simples como o nome
dos lugares pelos quais passou,
a graça de pessoas que por ele
guardam estima, idolatria ou respeito,
talvez alguma palavra triste, ignominiosa
como lawfare ou condução coercitiva.
Será sua veste de adoração
ao país pelo qual se devotou inteiro,
fato de povo, pés no chão, tecido sem renda
cru como o corpo, a alma,
a terra, a multidão fiel.
Para ser usado ao sair da cadeia,
sem nobilidade comprada,
tratar-se-á de um simples sobretudo.
Sobretudo, inocente.
Quem é Marcilio Godoi?
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