Manaus (AM) – Dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) indicam que 36 espécies de mamíferos que ocorrem na Amazônia estão ameaçadas de extinção. Desse grupo, 16 são primatas e três deles estão a um passo de serem considerados extintos. Principais alvos dos caçadores e vítimas silenciosas do desmatamento, o cuxiú-preto (Chiropotes satanas ), o caiarara ka´apor (Cebus kaapor ) e o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor ) estão “criticamente em perigo”, a última classificação de risco antes do desaparecimento da espécie.O número de espécies apontadas como ameaçadas na Amazônia pelo ICMBio é alarmante, uma vez que não leva em conta outras que constam da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em Inglês). Há, pelo menos, oito espécies, com área de ocorrência no Bioma Amazônia ou em seus limites (o que inclui países vizinhos), que não aparecem na lista do ICMBio (que avalia a situação apenas dentro do território brasileiro) e estão globalmente ameaçadas.
Não é por acaso que os primatas sejam os primeiros da fila. “No caso de um bicho solitário, como um veado ou uma anta, se [o caçador] perder um tiro, o animal foge. No caso do macaco, não [acontece o mesmo]. Você tem dez, vinte bichos na frente: se perde um tem outro”, compara o biólogo Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB). Já os primatas são animais diurnos, vocalizam durante o dia, o que os tornam alvos fáceis. O cuxiú-preto era caçado apenas para que se utilizasse a cauda do animal como espanador. O biólogo cita ainda o exemplo do macaco-aranha (Ateles belzebuth) , que vive no Norte do Brasil. Embora a floresta esteja conservada, a espécie está ameaçada pelos altos níveis de caça.
O desmatamento impacta mais os primatas do que outros mamíferos. Enquanto algumas espécies de primatas do velho mundo se adaptaram às savanas, como os chimpanzés, os primatas brasileiros são arborícolas e dependem das árvores para viver e se alimentar. E diferente de outros animais, como onças ou morcegos, os primatas na Amazônia ocupam regiões restritas, geralmente delimitadas pelos grandes rios.
Não é coincidência que a maioria das espécies listadas como ameaçadas tenha como habitat o Arco do Desmatamento, que pega desde Rondônia, Mato Grosso, passando pelo Sul do Pará e Oeste do Pará e Leste do Maranhão. Nove das espécies de primatas amazônicos sob ameaça, que constam na lista do ICMBio, ocorrem nas regiões oriental e sul da região. O biólogo e coordenador do CPB lembra que o desmatamento não é uniforme e já consumiu 20% da área originalmente ocupada pela Amazônia. “Tivemos uma perda de floresta muito grande; então estimamos que, pelo menos, 80% da população foi perdida, porque eles ficam sem ter onde viver e se alimentar”, diz.
A única unidade de conservação de proteção integral a abrigar as duas espécies de macacos é a Reserva Biológica do Gurupi, no Maranhão, com 271 mil hectares, criada em 1988. Por estar próxima a um conjunto de quatro terras indígenas, a unidade se torna um bom ambiente para a proteção, mesmo elas sendo alvo de caça para alimentação das comunidades tradicionais. “Inclusive o nome do caiarara ka´apor é uma homenagem aos índios Ka’apor, que vivem na região e onde a espécie foi encontrada pela primeira vez”, conta Jerusalinsky. Por conta do desmatamento e da consequente fragmentação territorial, os animais ao tentarem se mover entre um trecho e outro de floresta ficam mais expostos a predadores ou acidentes, como atropelamentos ou choques elétricos.
O Sauim-de-Coleira na imagem do fotógrafo Diogo Lagroteria (2014)
O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor ) enfrenta uma situação parecida, com o agravante de não contar com nenhuma unidade de conservação de proteção integral em sua área de ocorrência. A espécie ocorre entre os municípios de Manaus e Itacoatiara, que passa por um rápido processo de transformação no entorno, com o avanço da área urbana da capital e das cidades vizinhas, com a produção agropecuária.
A classificação do ICMBio é feita segundo a seguinte gradação, da mais crítica para a menos: “extintas na natureza” (EM), “criticamente em perigo” (CR), “em perigo” (EN) e “vulnerável” (VU). Na lista, o instituto considera a cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta ) praticamente extinta em território brasileiro. O pequeno marsupial, que antes ocorria em Rondônia, ainda pode ser encontrado no Peru, segundo o mapa de ocorrência da espécies divulgado pela IUCN.
Fonte: http://amazoniareal.com.br/primatas-sao-os-mamiferos-mais-ameacados-da-amazonia/
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