Coração em Desalinho: Adeus, Monarco!
Eu te conheci, oh, Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão
Me deste, oh, Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor
Eu te conheci, oh, Flor!
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida
Por um falso amor
Como retribuição
Procuraste um outro ninho
Em desalinho
Ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão
Me deste, oh, Flor!
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor
Sozinho curto a minha dor
Luto no Samba! Morre Monarco, presidente de honra da Portela – Sambista portelense deixa um legado imensurável para a cultura brasileira
Em 1950, aos 17 anos, Monarco ingressou na ala de compositores da azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira. Seu padrinho e incentivador foi Alcides Malandro Histórico, um dos maiores poetas da história da Portela. O baluarte portelense ingressou em meados dos anos 40 no Bloco Primavera e também chegou a atuar como diretor de harmonia da Portela. Monarco nunca teve um samba-enredo de sua autoria levado pela escola na avenida em um carnaval.
Em meados da década de 1960, deixou a Portela e entrou para a Unidos de Jacarezinho (para a qual compôs “História de Vila Rica do Pilar – a descoberta do ouro” para o carnaval de 1970 e ‘Homenagem a Geraldo Pereira’ para o carnaval de 1980), mas retornou à Portela em 1969, tornando-se responsável pelo grupo Velha-Guarda da Portela. Monarco alçou patamar de sambista respeitado ao gravar em 1970 o álbum “Portela, passado de glória”, produzido por Paulinho da Viola. Passou a liderar a Velha-Guarda da Portela após a morte de Manaceia.
Monarco possui um rosário seleto de composições que marcaram a história do samba em 60 anos de uma trajetória marcada pela fidalguia e a valorização do samba. Obras como “De Paulo a Paulinho”; “Lenço”; “Nunca vi você tão triste”; “Passado de glória”; “Portela desde criança”; “Proposta amorosa”; “Quitandeiro”; “Tudo menos amor” e “Vai vadiar”, são obrigatórias no embalo de qualquer roda de samba que se prese.
Presidente de honra da Portela desde 2013, quando o grupo político que hoje comanda a escola assumiu agremiação, Monarco deixa um legado imensurável para a cultura brasileira. Ainda jovem fez parte do grupo de sambistas que era perseguido pela polícia, pois samba era uma manifestação marginal, coisas do racismo estrutural que assola a sociedade brasileira há séculos. “Pandeiro era porte de arma”, disse várias vezes o sambista, morto aos 88 anos de idade.
Além de milhares de fãs, Monarco deixa uma família que certamente conduzirá para sempre o seu legado. Seu filho Mauro Diniz é arranjador e cavaquinista, além de compositor de sucessos gravados por boa parte de intérpretes da MPB. A neta, Juliana Diniz, filha de Mauro Diniz, é atriz e cantora com disco solo. Marcos Diniz, o outro filho, além de compositor de sucessos, faz parte do Trio Calafrio. Em 2004 casou-se com Olinda, sua companheira dos últimos anos.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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