Meu Divino, meu Divininho, cuida das mongubas por mim!
Mesmo distante, temos vocês nos nossos corações.
Helena, Marilda e Ruth Tanus
Iêda, por você: seguir sonhando, seguir lutando!
Fátima Safadi
“…Uma contribuição longeva ao habitat e ao meio ambiente
para além do seu tempo…” escreveu José Martí. Iêda, você fez isso, depois decidiu que chegou a hora, foi sua escolha. E em nós ficaram as lembranças e as memórias, o amor por ti. Esquecer de ti? Impossível!
Uma poeta nunca morre!
Magno Lara
Por Iêda Vilas-Boas
Vivemos no Cerrado, somos parte desse solo seco, envolto em uma nuvem areienta, que chega com os ventos campineiros de agosto e só cede lugar à chuva fininha, chuva do caju, em meados de setembro. Depois, caem os céus em pancadas. A chuvarada maneira, de setembro, vem para abrir alas às chuvas torrenciais de nosso Cerrado.
Chuvas que são temporãs, que caem na cabeceira dos rios e vão se avolumando. Sem medo de nada. Descem correnteza abaixo de goela aberta, engolindo, arrastando e depois vomitando turbilhões a nos lembrar de sua força e a nos dizer, estrondosamente, que a água é força elementar da natureza, poder vital e necessário.
Por vezes, as águas dos rios traquinam, ou serão traquinagens dos habitantes dessas águas traquinas? Água não segue lei, revira, remexe, serpenteia e sai lá adiante. Vai bebendo em sua sede insaciável barrancos, galhos, casas, gentes.
Muitos já viraram também água. Fugiram às regras e não voltaram ao pó bíblico. Viraram água corrente, água bruta, para depois se transformar em calmaria de biquinha, de olho d’água no meio do Cerrado. Foi assim com o Zé, com a mulher e seus dois netos, também com os muitos jovens ousados e destemidos do ruído e da fúria da água. Todos se embrenharam, para nunca mais sair, neste redemoinho.
Em nosso Cerrado encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica com Tocantins, São Francisco e Prata). Água não nos falta e não nos faltará se mantivermos uma cooperação consciente, coesa e justa com o meio ambiente e sua biodiversidade.
Entretanto, não basta somente reproduzir o velho jargão: Preservar é preciso! Não basta nos escondermos por detrás de um discurso politicamente correto. É preciso agir. Fazer mais! Pergunto a vocês: O que temos feito pelo patrimônio ambiental, cultural e histórico de nosso Cerrado? De nossa Formosa?
Temos um exemplo latente e atual: o caso das Árvores da Praça da Matriz, que não são árvores nativas em nossa região. O Cerrado acolhe quem o escolhe! São nativas do México, América Central e Antilhas, comuns no Maranhão e principalmente na região Amazônica, mas tão bem se acostumaram aqui que (ainda) estão de pé, mas uma hora vão cair.
Nosso adversário é muito forte. A igreja poucas vezes perdeu uma batalha; para comprovar, miremos o passado e façamos uma retrospectiva pela história.
Essas árvores vão cair e eu, que sou sentimento, cultura e poesia vou chorar lágrimas enegrecidas pela poluição e pelo ar rarefeito que nos cercará dali em diante. Seremos sufocados, esmoídos pelo concreto da praça. Onde está a voz do poeta que nos impingia a ocupar as praças?
– “A praça é do povo, como é céu é do condor”!
Não aqui, poeta! Essa praça tem donos e são poderosos! O povo nem quer saber dela, e as raízes dessas árvores, quase centenárias, atrapalham o caminhar desgracioso das socialites falidas e descompromissadas com o Cerrado e sua cultura. E, ainda, poeta, existem os que dela querem obter lucros. Como se não lhes fossem bastantes a sombra frondosa e o ar puro.
Em minha fé, clamo: Meu Divino, meu Divininho, cuida das Mongubas por mim! Proteja-as da ganância e das futilidades. Envia um anjo bom para podar seus galhos e dar-lhes adubo e bom trato.