Pesquisar
Close this search box.
A lenda do Guaraná

A lenda do Guaraná

A lenda do guaraná, o fruto que contém a essência de todos os outros  (…) O pajé disse então que aquele fruto era o Guaraná, que continha a essência de todos os frutos da floresta, como se fosse o cesto grande que Aguiry sempre trazia pra casa

Por Zezé Weiss 

Diz a lenda que Aguiry era um indiozinho muito feliz, que se alimentava somente de frutas que ele mesmo encontrava na floresta amazônica.

Todo santo dia, ainda no escurinho do amanhecer, Aguiry saía pela floresta e, quando voltava, trazia sempre um cesto grande, bem cheio de frutas, para distribuir com seus amigos da aldeia indígena de seu povo Maués.

Porém, um belo dia, Aguiry se afastou demais da aldeia e se perdeu na mata. Foi então que Jurupari, o demônio das trevas, o espírito do mal, que tinha corpo de morcego, bico de coruja, e que também se alimentava de frutas, transformou-se em uma serpente venenosa e, com uma picada certeira, matou Aguiry para tomar suas frutas.

Depois de muito esperar por sua volta, vários índios da aldeia Maués saíram pela floresta, em busca de Aguiry. Ao encontrar seu corpinho inerte, eles choraram muito e, do céu, Tupã, o deus do bem, mandou uma chuva forte. Ainda molhados da chuva os amigos de Aguiry ouviram de Tupã uma ordem: que retirassem os olhinhos do menino e os plantassem debaixo de uma árvore bem próxima à aldeia.

Passado um tempo, no local onde a aldeia chorou muitas lágrimas pela morte de Aguiry, apareceu uma planta diferente, que produziu um lindo fruto vermelho com um forte ponto negro e que tinha o formato dos olhinhos do garoto.

O pajé disse então que aquele fruto era o Guaraná, que continha a essência de todos os frutos da floresta, como se fosse o cesto grande que Aguiry sempre trazia pra casa.

Zezé Weiss – Jornalista. Texto construído a  partir de diversas versões da lenda do guaraná encontradas na internet.


Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 


 

0 0 votos
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest
1 Comentário
O mais novo
Mais antigo Mais Votados
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Parcerias

Ads2_parceiros_CNTE
Ads2_parceiros_Bancários
Ads2_parceiros_Sertão_Cerratense
Ads2_parceiros_Brasil_Popular
Ads2_parceiros_Entorno_Sul
Ads2_parceiros_Sinpro
Ads2_parceiros_Fenae
Ads2_parceiros_Inst.Altair
Ads2_parceiros_Fetec
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

REVISTA

REVISTA 113
REVISTA 112
REVISTA 111
REVISTA 110
REVISTA 109
REVISTA 108
REVISTA 107
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

CONTATO

logo xapuri

posts recentes