A lenda do Saci-Pererê: O moleque sapeca do gorro vermelho
O Saci-Pererê, mito mais famoso do folclore brasileiro, é tão importante para o folclore e para a cultura brasileira que no calendário nacional tem até um dia em sua homenagem: 31 de outubro…
Diz a lenda que o Saci-Pererê surgiu entre os povos indígenas do Sul do Brasil como um menino de cor morena, muito levado e com um rabo, que vivia aprontando travessuras entre a densa vegetação das matas e florestas.
Ao se disseminar para além das aldeias indígenas, ainda no período colonial, possivelmente no final do século XVIII, o mito acabou migrando para outras regiões e, principalmente pela cultura oral, o Saci vai se transformando, se adaptando e se perpetuando em todo o território nacional.
No Nordeste, o Saci transformou-se no jovenzinho negro que conhecemos hoje, com apenas uma perna (a outra teria perdido em uma luta de capoeira), que aparece sempre de gorro vermelho e com um cachimbo, característica típica da cultura africana. Como é muito irrequieto, o Saci viaja dentro dos redemoinhos e não para em lugar nenhum.
Muito divertido, o moleque não faz mal a ninguém, mas sempre brinca de assustar viajantes com seus assobios, escondendo brinquedos de crianças, dando nó em crina de cavalos, apagando o fogo do fogão a lenha. É isso que contam as pessoas mais velhas em volta das fogueiras e nas rodas de prosa em todas as regiões interioranas do Brasil.
Do bem, o Saci não vive só de brincadeiras. Diz o mito que ele é também um importante conhecedor das ervas da floresta, que entende muito da medicina natural e do poder de cura das plantas brasileiras. Para buscar raízes e plantas em uma mata, é preciso falar primeiro com o Saci, pedir autorização, senão a pessoa corre o risco de se assustar com suas brincadeiras.
Muito presente na tradição rural, o Saci ficou famoso também no Brasil urbano através da literatura. Quem primeiro trouxe o Saci para as cidades foi o escritor Monteiro Lobato, nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo, mostrado em filmes, e também na TV como um seriado, em várias edições. Mais recentemente, o Saci voltou para a literatura nas histórias do personagem Chico Bento, do cartunista e escritor Maurício de Souza, o pai do Cebolinha.
Fontes: Brasil Escola | Só História
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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