Deu tudo certo, “com o Supremo, com tudo”
Por Odilo Almeida
– Jucá se aposentou;
– Aécio se reelegeu;
– Temer assistirá seus processos dormindo nas gavetas até caducarem;
– Bolsonaro se elegeu presidente;
– Serra, Aloísio e Alckmin tiveram seus processos arquivados;
– Evangélicos fundamentalistas ganharam 3 ministérios;
– Moro ganhou um cargo de ministro, trampolim para o STF;
– Gedel foi absolvido [dos 51 milhões em malas] por falta de provas;
– Os irmãos Joesley, que financiaram o golpe, estão livres para continuar a subornar;
– Os empreiteiros que roubaram a Petrobras, ganharam como prêmio por denunciar o PT (sem provas), a liberdade e o dinheiro do furto de volta;
– O Youssef voltou a fazer negócios com dólares;
– Acabou o regime de partilha e o Pré-Sal já está nas mãos dos gringos;
– As milícias agora estão no governo, lado a lado com os Bolsonaros.
– E o mais importante: Lula está preso!
Sem crime e sem prova, mas está preso! Para nunca mais se meter a promover distribuição de renda, combate à pobreza e a soberania brasleira.
Parabéns, eleitores de Bolsonaro! Vocês venceram. Infelizmente a ética, os valores humanos e a justiça foram os que perderam.
Texto atribuído a Odilo Almeida, arquiteto, nos grupos de zap.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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